Sonntag, Januar 31, 2010

Do abuso de nós mesmos

"Sinto falta do conforto de estar triste."
(Frances Farmer will have her revenge on Seattle - Nirvana)



Não é - de longe - a liberdade que nos conduz ao malogro maior, supremo. É o que acumulamos e isso não tem nome. Vivemos abraçados um no outro, abraçados, entendem? Não é encostados, é abraçados. Por isso não é susto o que tomamos, caindo para trás sem ter onde apoiar. Ficamos sem o calor que temos dentro de nós e que só conseguimos sentir quando outrem reflete. Assim, não nos vemos mais, perdemos a noção completa de quem somos, porque não há mais a reflexão de nós mesmos. E permanecemos cegos às mágoas, estamos inertes à dor completa, se dói não vai doer mais como costumaria doer; a dor encontrou uma forma nova de destruir: ela não se faz mais presente, ela é um câncer mudo. Caminhamos porque é a única coisa que nos restou a fazer, mas se nesse caminho vão haver estupros (físicos e mentais) ou desintegração física, só nos damos conta tarde demais. Estamos muito magros, estamos todos doentes, nossos olhos são só pupilas, nossos corpos não são mais templos de Cristo, são pedaços de miséria. Somos todos mortos andantes de braços estendidos à procura de nossa imagem em algum abraço - diga-se de passagem que obviamente já tem dono(a) , somos Bobók sem a recíproca conversa dos mortos, somos monólogos de desgraças.

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