Samstag, April 25, 2009

Para completar

Conversando com o Igor no MSN...

- Você está no laptop?
- Sim, e ele está in my lap. Adeus fertilidade!
- Vai para o blog.
- Sou coadjuvante do seu blog...
- Ah é!, o principal sou eu e o Grande Ego.
- Dois e dois são quatro.

Reeditando ( Ou " Sou lerda!"):

- Gostaria de poder retribuir as gentilezas e eu retribuiria da melhor maneira possível.
- Não entendo.
- Sorrisos, olhares.
- Não entendo, parte II.
- Gostaria de poder mostrar pessoalmente o quanto gosto de sua companhia.
- Não entendo - o confronto final. Mentira, mentira.

Sexta-Sábado

Ana se enche de delineador, sai do elevador do prédio puxando a meia sete oitavos e chega atrasada ( para variar) ao bar ( também chamado de "casa", rs). Depois de 7449479 cervejas, 3 maços de cigarro, fazer a ducentésima piada com o garçom - que nunca nos atende!-, invento de entrar na fila do banheiro para homens. Victor indignado, Ju já pegando o celular para gravar e mandar pro Youtube e eu gritando: " Eu tenho um pênis! Eu tenho um pênis!"; shame is the name. Não satisfeita com o bafón - nem com a quantidade de álcool-, compro uma Heineken e começo a passear aleatoriamente pela rua. Davi: " Comassim-má-onde-é-que-a-mocinha-estava?!"; " Eu? Passeando...".
Hoje, depois de desviar de todos os pivetes do Centro do RJ, chego ao Centro Cultural e sou abordada por um poeta : " Você é modelo fotográfica?!"; eu: " Ain, super que não."; ele: " Devia seguir a carreira, hein!"; eu: " Ih, é a maquiagem, super que argamassa! rs!"; e saio rodando pelo Centro. Meu celular toca:
- Alô?
- Oie.
- Quem é?
- Quem é que está falando?
- É a Ana, uai.
- Ah Ana! É o Léo, poxa!
- Passa aqui?
- Passo.

Meu cabelo já está quase na cintura, passo delineador até para ir na padaria, jogada na cadeira, cheia de livros em cima, com as unhas descascando e com o livrinho de poesias que o poeta me deu. É, a semana em dois dias.

Ain, tão cansada.

Montag, April 20, 2009

Algum dia você poderia?


E você? Poderia
algum dia
por seu turno tocar um noturno
louco na flauta dos esgotos?
{Maiakóvski}



A Baía de Guanabara neste momento está recebendo grossos raios de sol de fim de tarde, que se espalharam por suas águas e a deixaram meio sépia. Todos estão fora e pela primeira vez em muito tempo não ouço berros e barulhos de louça pela casa.
Sabe a não-dor? É o que você sente quando já se passou tanta coisa que não faz mais tanta diferença assim. Afinal de contas, o que é dor, mentira ou sofrimento para quem já passou por ainda mais que isso há muito e ainda olha como se fosse um tipo de happy hour ou ainda, hora do rush? Lembro que o Matt me chamou de esquizofrênica do tipo delirante há alguns meses. Certamente, isso é passado, pois não vejo mais nada fora do lugar, não escuto, não sinto e não lembro. Pior, até lembro e isso me faz ter um surto de consciência e o coração até chega a ficar meio mole, sabe? Mas esse coração é tão abstrato que o meu próximo "eu te amo!" vai ser desenhado num papel ofício com canetinhas coloridas. Ou quem sabe com tinta a óleo em um quadro. Talvez, arte moderna. Não. Vai para o dadaísmo mesmo.
A verdade absoluta sobre a dor ( a verdadeira), é que ela nunca te acompanha - não por muito tempo-. Ela vai dentro de pouco tempo para o lado do passado, é o seu braço direito. E como nós sempre corremos ávidos e chorosos para o colo do passado acabamos por reencontrar nossas dores e todas intactas. Por isso estamos sempre muito inertes, por isso a vida tem se resumido a suspiros que não limpam o pulmão - e nem a alma-. Mas as pontes são infindas e ainda há um pouco de verde pela cidade. O telefone está tocando, vou pegar um café. Pelo menos assim eu consigo levantar ( eu poderia?).
Post Scriptum: O poema acima trata-se de um convite à loucura e ao "underground".

Dienstag, April 14, 2009

Então, então

- Vou amarrar uma corda no pescoço, escrever um poema, amassar, colocar no bolso...
- Essa foi a pior! rs
- Meu passado não importa.
-
Você tem que esmagar seu passado para que ele não volte, digo as coisas ruins.
- De vez em quando voltam lembranças da infância. Daquelas que você sente o tato, cheiro.
- Por que qualquer lembrança nos enche de cólera?
- Por que?

(...)


- As pessoas são estúpidas naturalmente?
- É natural. Assim como a inteligência é por indicação divina, a idiotia também o é.
- Sinto algo maior me ajudando ás vezes, mas não sei dizer o que é.
-
Hoje discuti com minha professora de Teoria da Literatura...Argumentei que um clássico traz consigo um significado único e por isso a nossa concepção muda durante os anos, porque adquirimos a maturidade e aí sim o entendemos.
- E o que ela disse?!
- Disse que estava errada e tinha dito isso na primeira aula... que nenhum livro possui uma verdade absoluta, significado único. Apenas pode ser interpretado em diferentes tempos de formas diferentes...

- E?
- Alguns colegas concordaram comigo. Ela começou a se contradizer, então, distorceu o que eu disse. Na verdade ela não compreendeu o que eu disse, mas não admitiu, lógico. Todos sabem que é falta de respeito tirar a conclusão que quiser de uma obra. Há algo maior, há verdades absolutas e os que nasceram para dizê-las.
- Sua paneleira...
- É, eu tenho seguidores. Por isso evito abrir a boca, não quero ser o próximo Mussolini.
- Eu também tenho. Sou o messias, ou, a besta. Ou o falso profeta. rs
- Deixe isso para os afetados.


Montag, April 13, 2009

Estrelas até o céu



O ônibus acelerava e freava de acordo com os pardais eletrônicos que ameaçavam uma multa. Arranhava o asfalto já tão gasto e tão maltratado pelas erosões do clima - e da imperfeita obra-. Não havia mais tantas luzes. Era manhã e os postes estavam apagados. O sol não chegava ao chão e nem passava perto das folhas de árvores. Engraçado isso, ele só ilumina as folhas, não as seca.
Cidade pequena, casa cheia. Uma garota branca, de óculos enormes e de tranças nos cabelos seria algo tão estranho assim? Talvez a garrafinha de água em mãos e o ar aluado a fizesse parecer uma estrangeira, talvez. Enfim, almoço de família, não? O " como você cresceu!", foi substituído pelo " como você está magra!"; lamentos. E a priminha de colo sorria e sorria. Olhos enormes, tênues. Com os olhos tênues e enormes talvez ela engolisse cada um por um e ninguém pudesse fazer-lhe mal, por isso ria para todos e babava.
Passos arrastados pela varanda e os olhos alcançaram o céu enorme e negro. Na cidade ele é negro, lá não. É azul-cor-de-céu-bonito. E enfeitado com estrelas que preenchem as pupilas e as fazem não parecer tão grandes assim. Afinal de contas, as veias nunca carregam sangue puro. Está sempre muito batizado e já desistiu há tempos de eliminar quaisquer das substâncias inseridas ao longo de anos, até o sangue é vítima do ócio proporcionado pelo monóxido de carbono. Os pés afundam na areia: maresia. Como há quatro anos, não é, meu amor? Mas os pés não afundavam assim tão puros na areia. O que afundou foi o corpo, na água salgada, e eu na sua cama toda vomitada; pior: o vômito era meu.
Tentar fechar a mala e carregá-la até em casa. "Estamos sempre voltando para casa", como diz uma amiga. Aqui o céu não possui estrelas, mas os edifícios possuem. E com poucas lágrimas e o sangue impuro, essas luzes-estrelas ganham mais vida e nós ficamos aqui. Deixamos os caminhos de terra e a vegetação sós. Entretanto, é no asfalto que os pés queimam e acumulam rasgos. Impossível de caminhar, por isso nos arrastamos. Aliás, por isso nos contorcemos em pedaços, para não ter que andar.

Freitag, April 10, 2009

Afetação

"Aquele que mantém a calma diante de todas as adversidades da vida mostra simplesmente ter conhecimento de quão imensos e múltiplos são os seus possíveis males, motivo pelo qual ele considera o mal presente uma parte muito pequena daquilo que lhe poderia advir: e, inversamente, quem sabe desse facto e reflecte sobre ele nunca perderá a calma. "

Arthur Schopenhauer, in "A Arte de Ser Feliz".




Por isso que eu sempre faço troça quando algum anencéfalo fala que "Schopenhauer era muito pessimista!", absurdo. Não entendo até hoje porque rotulam o velho germânico ranzinza como "pessimista". Nenhuma de suas obras faz uma previsão fora do normal sobre a sociedade e suas conseqüências. Ou ainda, não sei se minha visão também é pessimista ao ponto de não reparar esse tipo de afirmação explícita em seus textos. E aí está o problema de ler tão-somente as orelhas dos livros. Você se submete a uma interpretação superficial de outra pessoa que pode ter entendido ou não a obra. Tira todo o brilho e todo o mérito do escritor e de suas obras, é diretamente e impiedosamente uma falta de respeito.

Sonntag, April 05, 2009

Felicidade

Borðum Og Drekkum Saddir...
{Ágætis Byrjun; Sigur Rós}




Não que eu não saiba o que seja, acho que agora todos sabem mais ou menos o que é e mal querem. Porque sentir e imaginar o que seria bom e ruim já passa muito longe de qualquer conceito de satisfação pessoal, talvez por isso o capitalismo se dê tão bem com os comerciais de televisão.
Sei que precisaria de pelo menos uma overdose por semana para me dar por satisfeita. Acordar ainda meio grogue, com o rosto ainda mais pálido do que de costume, magra de doer e repetir automaticamente: " amanhã é outro dia, a partir de agora nada de ficar tomando essas besteiras."; eu teria que me destruir quatro vezes por mês para ter alguma esperança de continuar caminhando.
Você tem a chance de compartilhar pedaços de sua vida com pessoas maravilhosas, você tem milhões de chances de ser feliz, mas essa felicidade já não significa mais tanto. Como ter a possibilidade de ter alguém maravilhoso do lado, salvar seu coração com um amor certo, dedicar seus finais de semana a este namoro, noivar, casar, ter filhos. Era para ser bonito (?). Mas é uma mentira, o modelo de se viver dos últimos tempos é uma mentira. Pois já começa tudo como uma grande mentira. Eu não consigo entender as atitudes dos jovens hoje... Mentir, mentir. Como se isso preservasse muita coisa. Como se estivessem tão desesperados que têm medo de caminhar lentamente ( como em passos de valsa) nas esquinas da verdade. Sendo que a verdade - e só ela! - é a chave de um caminho onde o mundo não pareça tão cheio de vicissitudes.
Fumo. Viro o rosto para a janela que mostra uma cidade já cheia de luzes noturnas. Respiro fundo querendo diferenciar o monóxido de carbono do ar com o do cigarro. Talvez a vida seja isso mesmo: café, cigarro, chá, dormir, algum órgão sexual, e procriação de seres que já vão nascer sem saber muito o que fazer neste mundo; talvez. E os ombros nem suportam mais o mundo, os ombros jogaram o mundo de lado e foram tentar ser pés. Não conseguiram, e agora temos órgãos que querem ser pés por todo o corpo. O coração andou e explodiu. O estômago andou e ganhou uma gastrite. As mãos cansaram de segurar o rosto tão lavado de lágrimas e também tentaram ser pés, e só se encheram de calos, sem muito sucesso. A vida agora é só vida. A vida apenas, sem mistificação, como diria Drummond.

Samstag, April 04, 2009

Do fundo do baú, o grande mestre fala:

"Mentiroso compulsivo é aquele que, desmascarado, não dá o braço a torcer: persiste na mentira, adorna-a de novos floreios, jura, esbraveja, argumenta, e tanto insiste que acaba deixando o interlocutor em dúvida. Porém mais perverso ainda, um sociopata em toda a linha, é aquele que, em tal situação, se faz de desentendido e continua falando no tom da maior normalidade e segurança, como se nada tivesse acontecido. Aí a mentira singular se transmuta em impostura permanente, estrutural, alterando de uma vez o quadro das relações humanas e quebrando, na alma do ouvinte, não a confiança nesta ou naquela verdade em particular que ele julgava conhecer, mas no próprio valor da verdade em geral. No primeiro caso, a mentira buscava imitar a verdade, parasitando o seu prestígio; agora ela se impõe por seus próprios méritos, como um valor em si, independente e superior à verdade. Perplexo e atordoado pelo fascínio da insanidade, o ouvinte se vê atraído para dentro de uma espécie de teatro mágico, onde o preço do ingresso é a abdicação não só do poder, mas do simples desejo de conhecer a verdade." ( Olavo de Carvalho; 'Da mentira à impostura').


Compreende-se de forma muito ampla a ação de criminosos. Assim como Raskólhnikov matou a velha sovina para se tornar um homem extraordinário, acreditando que estava fazendo um bem e ainda, ganhar um mérito próprio de dever cumprido. Muito diferente de crimes que não têm propósito ou funcionalidade dentro de uma lógica racional.
Sócrates mesmo elogiava a 'mentira nobre', como necessidade. A mentira e os crimes podem ser até analisados, quando há algo de consistente por trás destes. Agora, uma mentira, tão-somente mentira, para exaltar um ego recalcado, ou ainda, um ego que não há, é mais uma vergonha do que uma mentira. Como sei que a mediocridade não mede esforços, apenas digo: poupem-me dessa vergonha.