Sonntag, Dezember 28, 2008

Some hearts are true

O mundo caía em chuva quando você percebeu que a culpa não era sua. A voz tinha virado algo que parecia um barulho de algum filhote assustado dentro de uma caixa de papelão, eu não entendia nada. Mas tentava entender e desvendar já que não eram barulhos de filhote e sim algum dialeto de malogros. Quando então o dialeto virou choro e só choro, e a voz logo reapareceu fina, suplicante de alguma coisa que certamente não seria resolvida.
Então, eu respirei para tentar fazer tudo ficar bem. O gás carbônico saiu e não trouxe nenhuma palavra de conforto com ele. Só restava desligar o meio de comunicação desejando melhoras, como se fosse doença. Um dos personagens de Mann dizia isso, "vai até as trevas e volta em forma de doença." E não curou. E todos estavam chorando por você, por ver uma pele tão jovem se desmanchar em rugas de preocupação, e ainda, por ver que não havia de ser feito nada.
Não, não era justo e eu sei que não era, meu amor. Não contigo. Sua alma não era daquelas feitas em moldes para aturar as desgraças e as maldades que o mundo traz. Eu me pergunto até agora por que não eu? - todo mundo também se perguntou isso-. Eu que permanecia de pé, eu que fui chamada de monstro sagrado a vida toda, eu que sempre dizia para o destino: " Te pego lá fora!". Mas foi você. Você que estava quase sempre sozinha e não estava acostumada à solidão. A vida tinha desses maldades: mandar ficar em pé quem não tinha muitas chances de ficar. E eu ficaria não é, amor? Eu quebraria minhas próprias pernas só pelo prazer de empinar o nariz e exclamar:"Olha aqui!".
Pra quê e por que toda essa lição se estava claro que você não estaria disposta a aprender? Tão sensível, sua alma era a de uma criança que saía abraçando todos, porque todos eram bons e não iam lhe causar mal algum. Até que ela se perdeu. Talvez estivesse nas ruas procurando o colo de algo que parecesse materno, talvez. Está aí o motivo pelo qual meu nariz amanheceu inflamado novamente: a dor de meus braços que se esticavam para tentar aliviar você do mundo, e a garganta que doía ainda mais por tentar transformar minha voz quase inexistente em algo berrante, só para você me escutar.

Freitag, Dezember 26, 2008

Feliz Natal

- E que blusa era aquela? PelamordeDeus...
- Ana, eu te entendo.
- Aposto que devia estar combinando com umas sandálias ridículas de borracha.
- Eu te entendo...

[ Ela põe uma das mãos em meu ombro]

- Pior que idiotia pura, só falta de gosto no guarda-roupa...
- Chega! Entendeu? Chega! Eu te entendo, eu juro que entendo!

[ Olhar baixo. Ela me puxou para uma abraço forçado. Meu nariz estava vermelho e eu tentava me desvencilhar do abraço]

- Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem. Eu entendo...Eu entendo...

Freitag, Dezember 19, 2008

As mentiras da geopolítica

Nos três anos em que cursei o Ensino Médio, sempre ouvi os mesmos discursos nas aulas de Geografia - em todas as aulas, principalmente em Geopolítica-, sobre quão o sistema capitalista é injusto e gera desigualdades por si só.
Não contentes com seus discursos inflamados, cheios de retóricas tiradas das orelhas da Carta Capital, eles ainda se propunham a citar Smith. Mas qual o problema em citar Smith? Ora pois, problema algum, quando não se utilizam de sofismas para isso, claro.
Era um tal de "Maximização das capacidades individuais que dizia que um vendedor de bananada teria que ser o melhor vendedor de bananada", que a coisa ficou mais ridícula do que eu previa. Smith via a "maximização das capacidades individuais" como a forma mais simples de gerar riqueza e prosperidade não só para o trabalhador, como também para a sociedade. Isso até hoje é uma medida certa e eficaz e não sou eu quem está dizendo. É só assistir ao Globo Repórter ou observar os judeus.
Ok, mas " as relações burguesia X proletariado são injustas, desumanas, insalubres!" Smith que foi um dos maiores pensadores capitalista diz:

"Não é porém difícil ver qual das duas partes tem, em ocasiões normais, vantagem nessa disputa e pode forçar a outra a aceitar um contrato nos termos que mais lhe interessam. Os patrões, sendo em número mais reduzido, podem facilmente chegar a um entendimento entre si a fim de manterem um dado nível de salários; aliás, são os próprios regulamentos que os autorizam, ou melhor, que não proíbem as suas combinações, enquanto que já proíbem as dos trabalhadores. Nunca assistimos a atos do parlamento contra as decisões de baixar os preços do trabalho; mas já soubemos de muitos contra as decisões de os aumentar. Em todas essas disputas os patrões podem aguentar-se muito mais tempo. Um proprietário, um agricultor, um industrial ou um comerciante, mesmo que não empreguem nenhum operário, podem normalmente viver um ano ou dois gastando os capitais já anteriormente adquiridos. Mas poucos trabalhadores poderiam resistir uma semana, menos ainda um mês, e quase nenhum um ano inteiro sem renovar pelo trabalho os meios de sua subsistência. A longo prazo, o trabalhador pode ser tão necessário ao seu patrão como este o é para aquele; mas tal necessidade não se verifica de imediato." ( "A riqueza das nações", p.63).

Fica aí claro que não se trata de injustiça, mas de fatos. O que pode tornar o sistema capitalista injusto não são as práticas capitalistas, mas o caráter de quem as pratica. Qualquer dúvida leiam o Riqueza das Nações e fechem o Manifesto, porque afetação comunista já está mais do que "last week".

Dienstag, Dezember 16, 2008

Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me

Eu tinha então 17 anos. Meus cabelos caíam na testa e eu ainda era um menino. E os meus olhos costumavam brilhar com a chuva ou quando eu jogava bola com os amigos. Até que a conheci. Com seus tantos anos a mais de vida, com a sua experiência, com o seu organismo danificado pelas drogas. Achava-a doce, tão doce que eu costumava viajar para onde ela estava nas minhas noites de insônia.
Eu queria ser ela, ou simplesmente poder sentí-la, vê-la. Nem que fosse só para saber que não era alguma miragem, alguma ilusão. Quando eu sumia, sonhava com ela todas as noites. Quando ela me ligava só me restava não só abrir meu coração, mas dilacerá-lo em juras de amor eternas, em planos de um futuro bom. Pensei em largar tudo só para poder viver ao seu lado.
Mas eu menti. Nunca a amei. Apenas o meu egoísmo de menino pouco conhecedor dos causos do destino me guiava até a destruição dela. Ela era tudo para mim, mas não porque eu a amasse, não. Eu queria vê-la completamente destruída. Eu a via se desintegrar, mas eu queria ter esse prazer, eu queria arrancar daqueles grandes olhos lágrimas que jamais se dissipassem. Queria provar que ela tinha um coração, não para amar, mas para aguentar todas as dores que eu poderia lhe proporcionar... Entretanto, também haveria de humilhá-la! Só por todas as vezes que ela com a sua paciência e serenidade me explicava as coisas ou me dava broncas por ser um afetadinho.
Parti o seu pedestal me entregando à outra paixão. Fui aproveitando cada silêncio dela nas conversas, silêncios que eu tinha certeza que eram de choro. Mas eu simplesmente não poderia vê-la chorando, não? Eu tinha que ter a certeza de meu mal. Como não havia jeito de saber, me contentei em metralhá-la com todos os absurdos infantis do mundo. Então, ela sumiu. Na verdade ela havia ido embora... E agora? O meu trabalho não havia acabado. Insisti em machucá-la, acho que consegui. Talvez ela esteja com um suéter lilás agora, talvez o céu cinza-brilhante de chuva esteja iluminando seus olhos marejados e talvez sua boca esteja contraída até agora de dor, talvez.


Acordei e meus cabelos não batiam na testa, eram longos. Eu não tinha nada de menino e já tinha dezenove anos fazia 1 mês. E eu não havia me machucado, não havia dor alguma. Ludmilla me avisava por mensagem : " Foi só um sonho ruim...Foi apenas um sonho ruim, ma belle..."


Player: Keane - A Bad Dream

Freitag, Dezember 12, 2008

E é assim que as coisas são

A Ludmilla e eu tivemos uma discussão homérica ontem. Ela falava, aliás berrava, sobre como o mínimo de reembolso que Deus poderia dar a ela é ser canonizada. Se a conversa tivesse sido concebida pessoalmente, provavelmente eu espalmaria minhas mãos ao ar, declamaria todos os malogros de minha vida e por fim amanheceria envenenada, só para testar a ordem divina, ou ainda, para tentar copiar Mynheer Peeperkorn.
De engraçado ficou amargo. Ela falava sobre como tudo - não só nesse momento- está sendo difícil, e teve o básico ataque de pedantismo-depressivo de dizer que só ela sofre, que sua dor era a maior e que achava o cúmulo da patotinha esses jovens "humanóides" considerarem as suas poucas misérias alguma dor. A essa altura já estávamos chutando uma a costela da outra.
Talvez por isso hoje eu tenha acordado arrasada. Não que meus olhos estivessem marejados, não. Porque eles estavam secos. O rosto não tinha expressão. O coração parecia ter se volatilizado. E o corpo, bem, o corpo não se movia e eu não tinha forças para brigar com a inércia e movê-lo. Me contentei em ficar na cama, olhando a janela cinza. Ameaçava chover.
Então, lembrei de quando eu era um pouco mais nova. Uma vez corri de meus amigos, já muito ébria, e parei estática numa pracinha que fica de frente para a Baía de Guanabara. Era noite e estava relativamente frio. Eu explodi, meu nariz inflamou de coriza e meus olhos começaram a ficar manchados de delineador. Estava doendo. O meu rosto se desfigurava na maquiagem enquanto as ondas da Baía batiam perto.
E não era uma dor do tipo dor. Porque se fosse apenas dor, um bom psicólogo e muitas caixas de Rivotril resolveriam. A principal questão é o referencial. O meu referencial é tão amplo que engloba a dor de cada pedacinho de ser humano que passa por mim. O idoso sem dentes procurando atendimento no hospital, o olhar triste que vi em um mendigo ( ele devorava algo que parecia um doce de padaria com tanto desgosto...), os amores de minha vida que não me querem e também não me deixam seguir e claro, o Grande Ego que controla tudo com seus tentáculos. Eu não alimento meu ego, ele me alimenta.
O referencial não pára de crescer. Talvez eu imite Édipo Rei e fure meus olhos na esperança de uma cegueira completa, quase alienação, ao contrário do que queria o personagem. Talvez eu continue acordando arrasada, sem saber exatamente o porquê. Alguma coisa, alguma lenbrança...Eu não sei o que é. Está aqui, mas foi absorvida pelo Grande Ego de tal forma que eu realmente não me lembro quem ou o quê fez isso. Grande Ego, se era um sonho...devolva.

Montag, Dezember 08, 2008

A Ludy me odiava, fato

... Sinceridades que me fariam matá-la de forma silenciosa...

Ana : Eu não sou idiota! Eu não sou idiota!
Ludy: Nem eu, mas sempre acabamos sendo...
Ana: Você. Eu não. Eu sou aluna de Olavo de Carvalho e Levy, jamais serei idiota. ( ataque de pedantismo).
Ludy: E se aparecesse?
Ana: Eu poria um enorme saco de papel na cabeça, relembrando os tempos de misantropia.
Ludy: Escrito " tô aqui, pega".
Ana: Vai...

(...)

Ludy: Sabe, eu te odiei um dia.
Ana: Como foi isso?
Ludy: Em um dia que ele demorava a me responder, e voltava rindo dizendo que estava falando contigo. Eu sabia que você era a menina que gostava dele.
Ana: Sério? O Grande Ego agradece, vou dormir feliz agora.
Ludy: Peste diabólica... Arruinou uma noite de minha vida!
Ana: Que glória!

(Ludy começou a escutar "What goes around...Comes around" do Justin Timberlake)

Ana: Era brincadeira. Não precisa escutar essa música e planejar minha morte. Até porque você teria que entrar na fila e herdaria milhões publicando meus textos...
Ludy: Anazinha :)

Samstag, Dezember 06, 2008

Inércia

Quando chego a vomitar de fome, o alimento vai até a boca mas não desce. Escapa a tão famosa ânsia da boca de um cardíaco. Os shorts estão largos, os seios sumindo e o egocentrismo voltando. Na verdade, não sei decidir o que é meu egocentrismo : se a minha arrogância de achar que tudo é direcionado à mim, ou, achar que não há nada para ser superado.