Mittwoch, Oktober 31, 2012

Atualizando.

  Entao, hoje é daqueles dias legais em que eu tenho o tempo quase todo só para mim, mas o máximo que consegui fazer foi lavar algumas roupas. Sem qualquer tipo de chance - é porque houveram tentativas - de arrumar meu quarto e limpar o banheiro. Nao quero nem pensar no esforco sobrenatural que farei para ir lá fora por as garrafas de vidro na reciclagem; e faz um dia absurdamente lindo lá fora, com direito a sol, céu azul e apenas 9 graus na temperatura. O problema é que hoje eu acordei no Brasil. Nem lembro o que ou com quem sonhei, mas o fato é que hoje eu estou no Brasil. Às vezes parece que a alma resiste aqui e fica eternamente presa lá em Barajas (Madrid) onde fiz a conexao para chegar na Alemanha.
  Estou sozinha em casa e nao quero cozinhar e nem aproveitar o sol na sala e nem escapar sorrateiramente para o parque aqui perto para fumar meu Camel, nada disso. E nao é tristeza ou homesick, até porque eu estou cada dia melhor por aqui. A cultura já nao me pesa tanto, o frio já é amenizado com um bom agasalhamento (e checar sempre a temperatura antes de sair de casa, claro!), e até que - depois de sair com quase metade da Nordrhein Westfalen - eu estou conhecendo alguem super legal e o melhor: desencanada.
  Aproveitando quero compartilhar aqui a diferenca gritante sobre como é sair com um europeu, rs. Eles se portam como verdadeiros cavalheiros mas sem perder a masculinidade, ao menos com o G. tem sido assim. Outra coisa legal é o leque de opcoes que eles nos dao (a maioria, porque o primeiro rapaz com quem eu saí aqui era um verdadeiro pulha), perguntando o que voce gostaria de fazer. Por exemplo na sms que recebi: "Ah Ana, nós podemos nadar, ir ao cinema, escalar, jogar boliche..." - Achei fofura, confesso. Estava tao de saco cheio da vibe um barzinho e um violao que eu estava vivenciando no Rio, viu. Nem dava mais a mínima para qualquer olhada esperta advinda da mesa ao lado, rs.
  Situando todo mundo que le: eu vi o Sven só mais uma vez e nem deu em nada, além de uma conversa frouxa e um climao. Quanto ao ex-soldado alemao, o Ferdi me avisou que ele é um tipo de estelionatário e por isso foi expulso do exército - olha só a minha vibe errada agindo!-. Entao despretensiosamente conheci o G. Foi assim: eu estava saindo com uma amiga para Düsseldorf, mas antes ela queria passar na casa do G. (amigo dela de longa data) para buscar umas coisas e beber uma cerveja, e fomos...Achei ele tao fofura que logo pegamos contato, saímos dois dias depois e ontem. Só alegrias e boas risadas.
 No mais já estou matriculada no curso de alemao em Kaarst. Fiquei surpresa com os elogios da diretora ao meu teste de nível (deu realmente o nível B1). Comeco na próxima terca-feira. E com o passar dos dias e das preguicas vem em todos eles meu aniversário de 23 anos. Credo, viu.

Freitag, Oktober 26, 2012

Viersen, 25 de outubro de 2012.

  God bless Germany!, finalmente achei um apanhado de lojas com precos acessíveis para o meu bolso, que aqui é independente. Olha a felicidade da moca ao comprar um cardigan quentinho e muitas leggings por apenas doze euros, isso mesmo! E ainda comprei uns cacarecos para o curso de alemao. A Volkshochschule, aliás, é a minha próxima parada.
  A entrevista no departamento de estrangeiros foi simples. Em tres semanas eu recebo meu RG alemao, ow lindeza! É ótimo demais ir se acostumando aqui; aquele sentimento de sossego e vitória de achar tudo, resolver tudo por conta própria. Claro que meus amigos alemaes tem feito de tudo para me ajudar, ao que vou ser eternamente grata, e nao mais guardar uma mágoa bem ranzinza como eu achei que fosse ter daqui nas primeiras semanas.
  O próximo passo é pedir meu Monatskarte, uma espécie de Riocard daqui. Como nao sou eu quem pago, meu salário irá render mais (a passagem aqui é absurdamente cara!), daí vou poder preparar melhor meu enxoval de inverno, que promete ser rigoroso! O pessoal do ponto de onibus deve estar achando a maior trela a carioca aqui toda de rosa, com uma caneta de sorvete na mao e escrevendo num caderno que tem na capa a Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo. O caderno e a caneta foram presentes da Dressa, inclusive.
  O dia aqui está lindo, mas é um lindo Ana: cinzento, nevoento e árvores quase carecas. Em poucos minutos o onibus chega, e lá vou eu fazer minha matrícula e depois comer um enorme e delicioso kebap. Com pommes frites, bitte!

Mittwoch, Oktober 17, 2012

Schiefbahn, 17 de outubro de 2012.

  Milagre de ressurreicao do terceiro dia eu estar escrevendo de casa (mais especificadamente meu quarto), nao? Pois é, a fase da afirmacao em um lugar, a época de travar conhecimento já foi, resumindo: já encontrei uma brasileira aqui no vilarejo (nao, eu nao era a única relíquia latino-americana aqui, humpf!). Também depois do vomito ferino da dona Carminha aqui sobre mim resolvi desacelerar.
  Entao lá vai a dica da Ana: lidar com a cultura de outro país nao é fácil. Com a de um país com um passado nazista menos ainda. O mau hálito da xenofobia às vezes me é insuportável; e a vontade de por a mochila nas costas e me mandar de volta para os simpáticos e abertos holandeses só aumenta. Mas tenho que reforcar meu alemao, ir para Tübingen depois de um ano aqui, ficar mais um ano lá e voltar para o tao amado (nem tanto?) Brasil.
  O problema é que na semana passada minha cabeca deu um nó e eu meio que me perdi no que tenho que fazer aqui. Nada que uma boa noite de sono e um pontinho assim de sensatez nao resolvesse! Ah, parei definitivamente de sair com o D. Cacoetes esquisitos e fingimento de que está só com cartao para justificar pao durisse e dividir a conta nao é lá um atrativo para mim. O Sven sumiu (o Sven loiro-alto-lindo, nao o sobrinho de cinco anos do Paul, hein gente!), deve ter tido problemas suficientes em casa depois da nossa última noite - e manha!- juntos. Agora divido meu café, meus cigarros e um pouquinho do meu humor com um ex-soldado alemao que morava em Londres. Uma graca, lindo lindo e o mais importante: gentil.
  Por enquanto a vida está assim, um breve suspiro de cansaco para cada hora que me dou conta de que nao há luz solar no meu quarto (e eu achando que isso nao seria um problema, rs...); outras vezes um suspiro de satisfacao quando caminho pelas tardes aqui, ou quando pego o trem, ou ainda: quando percebo que há em mim forca o bastante para insistir e que a beleza daqui - tao vasta - irá me ajudar facilmente. E nao é ela, por acaso, que salvará o mundo?

Ana.

P.S.: Ditta, seu cartao postal vai sair! Me de só um prazo maior porque nesse vilarejo nao encontro nada (da última vez tive que andar alguns quilometros para achar um pente - nao tinha, entao levei uma escova mesmo rs).

Donnerstag, Oktober 11, 2012

Krefeld, 11 de outubro de 2012.

  Tenho amanhecido em dias frios, mas ensolarados. Hoje o Jannis veio correndo em direcao ao meu quarto (Ana! Ana!) com uma folha de papel: me chamou para ir ao zoológico com ele. Fiquei pululante com meu primeiro passeio em família, nao gostaria de ficar para sempre na rota quarto-pub-do-Fred.
  O zoológico de Krefeld é um lugar maravilhoso. Foi harmonico demais o dia ensolarado, os animais (nada de grades ou jaulas) e caminhar por toda aquela flora outonal. As coisas aqui nao estao fáceis, ainda nao sei quem sou e sinceramente às vezes esqueco o que vim fazer aqui. Uma sensacao louca de estar perdida e meio que vagabundeando pelo mundao. Provavelmente comeco a Volkshochschule mes que vem. Mas voltando ao zoológico: quando abri uma porta me deparei com uma estufa aquecida e centenas de borboletas, de todas as combinacoes de cores possíveis, voavam ao redor de meus cabelos. Esse é um dos momentos da minha estadia aqui que vao ficar eternamente guardados, por amansarem a violencia de se estar longe.
  Cada canto que olho aqui faz um rasgo de uma beleza profunda em alguma parte de mim. E fico feliz; e a homesick cresce os pés e some. O próximo post provavelmente será de Düsseldorf. Nada de badalacao, apenas vou passar o dia lá comprando alguns artigos para o inverno, e by the way, preciso de botas novas. Lembrando que esqueci meu cachecol preto em um quarto de hotel em Willich, rs. Ah, meus queridos!, a Alemanha anda moldando uma nova Ana, nem sempre de forma piedosa.

Dienstag, Oktober 09, 2012

Köln, 30 de setembro de 2012.

  A minha saga até a mitfahrgelegenheit obviamente nao foi concluída. Perdi minha carona, com direito a ligacoes do Herr Kramer perguntando o que estava rolando para eu ter que desmarcar etc. E ainda se virou num ingles super polido, visto que na linha havia uma Ana completamente perturbada e impossibilitada de falar alemao, rs.
  Como nem tudo é confusao nessa vida e a gente tem pausa para descanso, eu cheguei com folga de horário na Köln Hauptbahnhof. Mal saio da estacao e me deparo com uma catedral gigantesca. Tento olhar para as pontas das torres e sou arrebatada com uma espécie de space dementia bem das violentas. Quanta imensidao. Quanta beleza.E brasileiros chegando! Logo encontrei minha turma e daí em diante foi banho, turismo, fotos, chacoalhar a bandeira do Brasil na cara dos alemaes e umas 372 igrejas, rs. Em uma delas havia um coro de freiras que entonavam como verdadeiros anjos. Curti Köln; ao menos pelas catedrais ternurinhas, religiao católica e óbvio: o Rio Reno. Ele está por toda parte e vezemquando paramos num café à beira, fumando nossos cigarros e cantamos you know what you are, you gonna be a star...
  Agitei as meninas para garantirmos nossa cervejinha esperta na parte da noite. Oras!, minha primeira reuniao! Tinha que mostrar logo o jeitao carioca de ser (engracado isso, essa nacionalidade, esse orgulho que cresce na gente quando estamos do lado de cá); entao partimos para um simpático pub irlandes. Ao contrário dos pubs irlandeses no Rio, no de Köln realmente havia irlandeses. E um grupo de ingleses que mal nos deixaram pedir a primeira deliciosa Guiness e já foram comecando uma conversa. Resultado: aquela mesa metade samba, metade Beatles. E um John muito bebum cantando Oasis comigo. E um romance bem fofura com um charmoso professor ingles, né Paula? rs.
  A volta foi conturbada, mas domingo de manha fomos dar um passeio na cidade de Beethoven: Bonn. Bem pequetita e, claro, cheirava a aristocracia. Querendo garantir mais uma cervejinha esperta para fechar o passeio, acabamos tendo problemas com a bagagem. De tanto estourarem nossa paciencia, largamos as bagagens lá mesmo e fomos dar o último Prosit! - saúde em alemao - no mesmo pub. Acabei tendo uma conversa mega descontraída com um irlandes que vive em Köln há alguns anos. Cozinheiro, barba ruiva, aquele nariz enorme e bem torto (!); se continuar assim vou me mudar de mala e alma pros lados da Gra Bretanha, hein, pessoas. Só uma coisa a dizer: recomendo.
  No mais, recuperamos nossas malas e partimos num trem para nossas respectivas cidades. Eu nao consegui chegar tao facilmente porque moro quase numa aldeia indígena - vilarejo MESMO!-, entao peguei um táxi. O cansaco das viagens continua e eu ainda nao sei quando minha essencia chegará aqui. De qualquer forma, o corpo já está.

Montag, Oktober 01, 2012

Düsseldorf, 29. september 2012.

  É, fui lapear em Düsseldorf lindamente e estou quase perdendo minha carona para Köln. Brasilidades na Alemanha. Ainda bem que com um pouquinho de humor e cariocagem o D. achou engracado. A impressao que tenho é de todos torcendo por mim. Vai, Ana! Pega logo esse onibus para Krefeld!
  Tenho urgentemente que estar na Krefeld Hauptbahnhof e só chegarei 11:00h em Schiefbahn. Conto com a minha cariocagem agora. Primeira vez de trem. Hora de comecar a rezar por motivos de: estar atrasada, dormi fora e nao arrumei a mala. Tá que só eu nao estou achando o atraso engracado. 10:42h , hora de comecar a rezar, ajoelhar no meio do trem e tudo o mais, se eu por um pano na cabeca  nao vai parecer tao estranho (a julgar a quantidade de islamicos aqui). Dar com a testa no chao para ver se Herr Kramer nao se emputece com meu atraso. Se o trem para Köln atrasa eu chego lá nao tao linda assim, mas meio que há tempo. Será que o trem já chegou em Kaarst? Eu devia ter feito a minha mala...

Ana.