Freitag, April 20, 2007

À amiga ruiva e pré-esquizofrênica (de muito perto...)

Parece que foi a algumas horas que eu via você caminhar tranqüilamente até o hall do meu prédio, ajeitando a franja ruiva, dando o último gole na lata de cerveja e olhando em volta para ver se achava lixo para jogá-la. E me lançava um sorriso travesso, me abraçava e girava e girava para matar as saudades.
Você foi a única pessoa que eu vi ser consumida pelos próprios traumas, e isso para mim é bastante doloroso, já que os seus traumas são os meus traumas e isso quer dizer que eu posso ser a próxima. Para tentar lhe dar um pouco da minha força que na verdade não é força, e sim, um resto de bom senso e preguiça de suicídio, eu fui até você. Eu mal sabia onde você morava, andei de lá para cá, perguntei aos vizinhos até chegar embaixo do seu prédio. Só embaixo, pois você não me deixou sair de lá.
Não se desespere, minha querida! Eu não estou brava! Eu sei bem como é ter medo da alelobiose ao ponto de não reconhecer a sua outra metade da esquizofrenia... Mas foi tão difícil ver a sua mãe tão confusa e escutá-la dizer que você não suporta a idéia de falar ou ver alguém. mesmo que esse alguém seja eu. Eu mandei-a dizer a você que eu estava aqui para o que precisasse, mas eu sei que você não vai me procurar. Nem a mim e nem a ninguém e isso me apavora. O problema não seria eu ir e voltar do seu prédio de mãos vazias e sim eu ir até lá e um dia você não estar mais lá.
Se você quiser partir para sempre eu sei que eu não poderei impedir, mal consigo retardar sua dor. Eu só queria que você se espelhasse em mim, para poder ver que a desgraça pode sim ser digerida, não eliminada, mas o acumulo dela pode favorecer seus anti-corpos contra o mundo em si. A grande verdade é que eu estou tão fascinada pela dor como você, mas se você não mudar sua situação você vai morrer, por favor, não morra.

Donnerstag, April 05, 2007

A janela do ônibus

Mais um fim de tarde em um boteco sujo beira de esquina. Depois de milhares de copos esvaziados, ela se jogou na grama do Shopping e ficou a olhar o horizonte que revelava muitas luzes dos edifícios do outro lado do mar. Luzes coloridas que iam se misturando e formando um mix de cor pelos seus olhos já marejados.
- Vamos Mari, já está na hora.
E ela puxou sua amiga tanto ou mais embriagada que ela, deixou-a no ponto e foi para o seu. Entrou no ônibus e, quando este foi andando rezou para o seu estômago não revirar mais do que já estava revirando. E o ônibus passou pela rodoviária...Mil imagens passaram na sua cabeça como num flashback. A janela do ônibus refletiu a sua face. Um rosto abatido e com a maquiagem derretida se revelou diante do reflexo. "Deve ser isso" - pensou. Então teve a certeza que a atual, apesar de choldra não era tão complexa quanto ela.