Donnerstag, Mai 28, 2009

"And now I know how Joan D'Arc felt..."

Finalmente pulamos da estante, compactamos nossos pés em pedaços de caminhos e suspiramos alto. Andamos. As mãos alcançam o coração, que bate através de uma felicidade louca. Felicidade? É incrível, mas ficamos tão desolados e cansados de permanecer sentados na estante que quando damos o primeiro pulo já não nos importamos tanto, a primeira impressão que fica é o alívio. Pés em passos pequenos, mas firmes. A certeza de que todas as tentativas foram malogradas, as situações iníquas e o fim, bem... não é o fim. No fundo, nós não temos o controle incondicional sobre a vida do outro.

Samstag, Mai 23, 2009

Ah, s'il vous plaît!

"Oh you can change your name and bleach your skin
Camouflage your accent so that even you don't recognise it
Because you are one ,because you live and breathe like one..."
{ The Slum Mums - Morrissey)


Porque é uma pilhéria que uma pessoa passe sua juventude tentando através de frases- que não conseguem manter uma vírgula no lugar - me atingir. Já não bastasse a vida ter-lhe pregado pontos de mediocridade por todo o âmago, ainda continua a se humilhar publicamente porque " não é como a Ana, mas não importa", ou ainda, manda recadinhos vulgares-ignaros. É de me causar uma certa piedade até.
Meu bem, sacode esse templo de bolinhos fritos e hambúrgueres que é o seu corpo e finge que está tirando a poeira da desgraça intelectual que se impregnou e não quer mais sair, ou, vá fazer uma lobotomia para ver se como um vegetal desmemoriado você encontra mais serventia no mundo. Saia dessa fossa, nem em um milhão de anos você deixará de ser quem é e photoshop algum esconde, entenda.

Sonntag, Mai 10, 2009

Náusea

"Take a thorn from my pride
And hand in hand we'll take a walk outside..."
{Who feels love? ; Oasis}




Porque um trecho do livro de Sartre me veio à memória e eu não pude deixar de fazer comparações, paralelos e tentar eliminar os mesmos. Estou cansada. E não é desse cansaço que horas dos sonos dos justos esvaem, é mais para desistir mesmo. Aliás, nem desistência, está mais para o fato de eu saber demais o que obviamente leva o ser humano a ser infinitamente infeliz. Não é infelicidade gerada por pessoas ou situações, é todo um conjunto.
Machado mostrava o homem com suas avarezas, Dostoievski mostrava o lado ruim que usava o lado bom como desculpa para algo heróico. Eu simplesmente passo o raio X, que mais prefere se tornar uma partícula gama e passar direto sem olhar, mostrar, demonstrar e refletir. Direto. Mas não passa e eu fico olhando para tudo com grandes olhos de recém-nascido sem muito saber o que fazer. As partículas gama são felizes. Se são feitas de átomos deveria haver algum parentesco conosco, não? É, não posso incluir ninguém nos meus malogros.
Acontece que esse cansaço-náusea-infelicidade advém da minha percepção de como vocês guiam as suas vidas. Sim, ainda é o problema da mentira. Eu não entendo e só Deus sabe o quanto tentei entender. Aliás, fui além tentando fazer a mesma pose, os mesmos gestos, quiçá os mesmos sentimentos; e não funcionou. Não é de todo ruim, mas acontece que não é bom e não leva a lugar algum e se é para chegar a lugar nenhum eu prefiro continuar com o Grande Ego e egocentrismo. Nossos pais sempre nos ensinam a não falar com estranhos. Falamos, pegamos em suas mãos, dormimos com eles, sorrimos à eles e às vezes até chegamos ao matrimônio. Agora entendo, é um aviso para que a geração futura não se assole em marasmos e erros. E continuamos errando, não há saída. Lembro agora de Joseph K. : " Como um cão!"

Freitag, Mai 08, 2009

I need some time in the sunshine...

Vai aqui alguns comentários básicos e aleatórios sobre o show do Oasis, aqui no Rio de Janeiro.


Saí atrasadérrima de casa, tirei o sono rodoviário de uma moça ao meu lado para perguntar onde era a tal Rua da Passagem. Resolvi ligar para Victor:
- Onde você está? Perimetral?
- Mas onde é a Perimetral?
- Rs,rs. Saindo da ponte, Ana... Saindo da ponte.

Dez minutos depois...
- O Flamengo fica antes do Botafogo, não é?
- Infinitamente, droga...

Mais dez minutos:
- Tcharam, cheguei!
- Onde você está?
- Em frente à padaria tal.
- É, meu prédio fica em cima, rs.

Depois de umas cervejas, conseguimos pegar o ônibus. Entretanto, nossas bexigas estavam quase estourando, juro que mais um quebra-molas e minha calça teria que ir para a janela secar... Enfim, saímos do ônibus, fomos à um barzinho, esvaziamos as bexigas e a surpresa: o engarrafamento estava tão intenso que pegamos o mesmo ônibus. Depois de fazer o caminho da Patagônia - a Barra da Tijuca fica tão longe...-, chegamos ao show. Luzes apagam, luzes acendem. Liam Gallagher aparece com o andar marrento-londrino, mascando chicletes. Guitarras e..."I live my life in the city,there's no easy way out..."; o público parecia que ia ter um infarte de tanta emoção. Braços levantados, todos pulando e cantando "Rock'n'roll star" impecavelmente.
A cada intervalo entre as músicas, Liam parava no palco para posar para as fotos. Também jogou sua toalha, mandou beijos e arremessou para alguém sua pandeireta.
No meio do show ninguém aguentava mais de tanto pulo, os pulmões pareciam que iam sair pela boca, mas ninguém desistia de cantar alto "supersonic", "champagne supernova" ou " Lyla". O momento mais bonito foi quando Noel cantou uma versão quase-acústica de " don't look back in anger", a multidão cantou o refrão sozinha, dando um descanso na voz do guitarrista principal da banda. Liam fazia gracinhas para a câmera e dialogava com alguns fãs da platéia. "Songbird" foi rápida mas perfeitamente cantada e tocada, de uma forma muito bonita. O show terminou com "I'm the Walrus", com o público perguntando se realmente tinha acabado e completamente estarrecido e emocionado com a banda. Só se ouvia o coro "Oasis! Oasis!" e os jovens saindo satisfeitos e felizes do Citibank Hall.

Sonntag, Mai 03, 2009

Tempo demais

Welcome I love you, don't you see?
Don't you see?
{ Fantastic Bird - Morrissey}


Ana contava com as mãos os papéis-textos, alguns manchados de café num acidente de sonolência. Já eram três da madrugada, as pálpebras pesavam e os cílios estavam úmidos. O maço de Marlboro já estava pelo fim, foi aí que se deu conta que tinha prometido parar de fumar. Nós sempre afogamos promessas, sacrifício remete à sofrimento e não à virtude.
Eduardo terminava seu conhaque, quer dizer, nunca terminava. Pois sempre que sumia a última gota de álcool daquele copo tão redondo ele enchia quase até a borda, na obrigação de evanescer os sentidos. Ele amava Ana, dos muitos cigarros e óculos de grau enormes.
Ana dava passos leves pela vida. Eduardo pisava desconfiado aonde quer que fosse. Ana adorava sorvete de casquinha ao final da tarde. Eduardo se limitava a uma soda. Ana gostava de copular com as cortinas fechadas. Eduardo gostava de enxergar cada centímetro daquela tez tão branca e tão frágil que até a luz poderia ferir. Além de tudo, ele gostava dos gemidos infantis e doces que ela costumava soltar. Ana gostava dos antebraços pálidos que envolviam a sua cintura estreita e que a rodava e rodava...
Uma lágrima. Ana não sabia se era sono, a brisa fria que acabara de atravessar a varanda ou saudade. Último cigarro, gole no café, empilhamento de textos e travesseiro. O travesseiro-amigo que sempre a ajudava a secar o rosto. Do outro lado da cidade, Eduardo adormeceu com a mão no copo e a face esborrachada na mesa. Acordaria mais tarde com um gosto amargo na boca.