Mittwoch, März 31, 2010

Equinócio

Só para constar que sofrer como mártir não está com nada, podem largar suas pseudo-coroas de espinhos caso tenha passado pela cabeça colocá-las e fazer uma grande expressão de dignidade. Só estou muito triste, do mesmo jeito que eu estava há algum tempo olhando para a tela do pc absorta, sem conseguir pronunciar uma palavra. Daí se seguiram dias, chorando baixinho, molhando o travesseiro, empurrando garfadas de comida goela abaixo e tudo o mais. Não poderia ter sido diferente, não para mim. Porque eu já compreendi que vocês nunca vão compreender que eu sou de carne, osso e excentricidade, que sim eu sinto muito e foi lindo e me fez falta por muito tempo; e o verbo no passado é só porque a inércia e a tristeza em excesso não me permitem transformar passado em presente e me lembro do Gatsby de novo esmurrando o ar e tentando provar para si mesmo que podia fazer o passado retornar sim. Ou fazer como a Dra. Grey andar pelos corredores cabisbaixa e sair do elevador com um olhar triste-digno murmurando baixinho para ele "sinto saudade". Mas eu tenho um queixo orgulhoso e um olhar que poucos aguentam, se até minha mãe me chamou de arrogante eu nunca poderia esperar que vocês entendessem que... ain, cansei, só me abraça (se ainda houverem braços depois de tanto sofrimento). E eu sei que esse cansaço, esse martírio-jeitinho-brasileiro não parte só de mim, eu sou menos indiferente do que pareço. Eu só estou realmente muito cansada, e dormir ou morrer também não adiantaria de muita coisa; um grande buraco negro sugando todas as possibilidades de vida, eis a Ana.

Donnerstag, März 25, 2010

Páthos

Termo grego que designa sofrimento ou experiência, sofrimento em grego também pode ser chamado de páskhó (daí a Páscoa que quer dizer sofrimento maior e não ovos de chocolate que eu tanto amo ganhar, rs). É que eu estava fazendo a transliteração de palavras na aula e daí surgiu páthos, queria realmente que meu teclado permitisse eu escrever os termos em grego que são tão bonitinhos-fofura, sério, conquistam. Então, o campus anda cada dia mais vazio. Não fazemos mais aulas lá, estamos aprendendo tudo no mesa do Bin Laden; nós: todos juntos, cada um com seu copo, os não-fumantes respeitando os fumantes e a lei anti-fumo foi-se ralo abaixo.
Nós ficamos lá e sempre adiamos mais tempo, achamos que se ficarmos no vício mais alguns segundos toda a nossa vida irá mudar. Esse é o pensamento de um viciado: só mais uma e a vida muda. Depois dos segundos tudo que nos sobra é muito tédio e uma inércia que nos impede de chegar em casa em um horário razoável. Eu adoeci assim, de repente o mundo ficou num borrão e acostumou assim, sem graça, sem visão. A cegueira não me assusta mais, eu até gosto dela, mas vejo; a maioria das vezes eu vejo e vivo assim: cega-vendo-tudo, muito sofrimento. É como se você visse mas não pudesse fazer mais nada e quando não podemos fazer mais nada a vida começa a se parecer muito com a morte, aliás, vai além dela e ninguém -ainda por cima- sente demais por você. A verdade é que eu posso fazer sim, mas o behaviorismo anda tão bom assim, mil dicionários, mil gramáticas, grego, alemão, língua portuguesa que começo a acreditar na antropomorfogia no amor.
A verdade é que não se acostuma a viver sem o essencial, os pés travam, a cabeça são só memórias e o pior de tudo é a comparação com o presente. Tudo transfigurado em algo muito pior, muito nojento de arrancar ânsias mas não tem jeito mesmo então se continua assim. O problema dos homens hoje em dia é quererem ser o que os heróis gregos não foram: comedidos. Que que tem de mais fazer uma hýbris de vez em quando, irritar os deuses do Olimpo, irritar todos em volta, passar vergonha e alcançar a glória eterna? Uma grande burrice-perda-de-tempo sermos heróis-filhos-namorados-amigos comedidos quando podemos ser deuses, mas nascemos tementes e presos, estamos realmente ferrados, meu amor.

Dienstag, März 23, 2010

Feiertag






Out to sea
It's the only place I honestly
Can get myself some peace of mind
You know it's getting hard to fly...



Oasis - I'm outta time

Sonntag, März 14, 2010

Os bafões do Paul

Paul é um querido que eu conheço há mais ou menos um ano e com quem vou ter filhos arianos de bochechas rosadas, rs. Ele contando dos causos dele quando foi a Alemanha:

- I ever told really funny! The first was a german guy asked me to close the window but it was really hot and I wanted to say: do it yourself; in dutch: do het zelf! I translate and said go to masturbate! (mach es disrselbst!). Second mistake: In dutch there is a word "bij-slapen", it means getting extra sleep like if you had a long party until 6 in the morning. Then you go sleep in the afternoon 1-2 hours. In dutch this means "bij-slapen". Now there was a german girl, in our office and she was sick a little. So, she went home and slept for few hours. Then I asked her later: hast du gut beigeschlafen? What means did you good sex!

( Rindo até agora).

Samstag, März 13, 2010

Vocês tinham que saber...

... que dormirei o sono dos justos, depois de tanto tempo. Sem peso na alma e com a certeza que há sim o amanhã e sem manchas, com sorrisos, com as folhas rolando pelos paralelepípedos da UFF ou os raios muito quentes atravessando minha janela. Assim. Em paz. Boa noite.

Dienstag, März 09, 2010

Do subtítulo do blog

Calvino (o Ítalo, não o João) tem sido um dos queridos nos últimos tempos. N'as cidades impossíveis é totalmente possível, e permitido, sonhar. Prestem atenção: sonhar, não fantasiar. Pus o parágrafo final do livro como subtítulo, pois é um parágrafo válido por e para toda a vida. O interessante é que você imagina e sonha o livro todo e no final Calvino mostra o contrário do livro todo: a realidade. Eu não tenho seguido a filosofia dele, é mais forte do que toda vontade e disponibilidade de paciência que me restam. Ao invés de reconhecer quem e o que não é inferno e dentre o que não é abrir espaço, eu abro espaço para o inferno; melhor dizendo o inferno abre espaço em mim. Acontece que eu não quero pular para a primeira opção e me adaptar ao inferno, eu não sou inferno, até minha expressão facial é branda (apesar do septo furado): quase sorriso de longe na face, digamos que um sorriso de um vencido. Sou amada, quase idolatrada por zilhões de seres vivos e tenho a pachorra de sustentar uma cara de mártir-quase-feliz; é meio absurdo, mas ainda assim brando.
"Até o ponto de deixar de percebê-lo"; e quando o inferno quer ser visto? O inferno é o inferno, ele é vaidoso, ainda mais comigo; ele quer espaço na Ana, aliás todo espaço. Isso me lembra o homem do subsolo, ele passava pelo oficial todos os dias, perseguia o oficial e este nunca nem ao menos lhe cedeu espaço para passar; o homem do subsolo resolveu esbarrar e nem assim o oficial notou sua presença. Eu já notei a sua, já ganhou post no blog com direito a Calvino, tire uma foto, mostre para as amigas e dê-se por satisfeita s'il vous plaît. Porque eu posso ter cinco overdoses seguidas, voltar aos meus vícios, ser vítima de grosserias dele, mas você nunca, nunca vai deixar de lembrar quem é a Ana, porque você não sou eu e é isso que te dói. Quanto a isso não posso fazer nada e sabe do mais? Você seria uma ótima pessoa se isso o que você é não fosse puramente interpretado, você não é boa e você sabe disso; aliás todo o mundo sabe. Ele finge que não sabe porque acha que gritando ou casando com quem quer que seja vai criar um enorme buraco mim, mas o buraco que há em mim foi ganho há muito quando ele nem sabia ser gente, e ainda não o sabe. O que eu quero, entenda, é poder imaginar que não respiramos o mesmo ar, porque não acho digno de mim; não quero ele, nunca vou querer, não o amo, acho que nunca amei. Impossível amar alguém sem talento quando se nasce com um. Anyway, eu e meu professor de Literatura Brasileira temos um ótimo contato visual.

Samstag, März 06, 2010

Has paid of well...

Essa coisa de "meu eu", "meu ser", "eu me lembro quando", já encheu. Somos, entendem? S-o-m-o-s! E não deixaremos de ser. Podemos no máximo dosar, talvez fazer o outro de nós pular para fora e duelar, quiçá abrir uma acordo para não sermos tanto ou muito pouco, apenas. Não adianta dar show e nem tentar usar quem sabe do que fala para tentar ilustrar teorias furadas e que cheiram a caca de gato. Conselho: entra no primeiro bar-pé-sujo da esquina, pede uma dose de pinga, acende um cigarro, dá uma olhada na estrutura da cidade e vire gente. Por favor, vire gente antes que eu vomite.

Montag, März 01, 2010

Nelson

Você entrou por aquele portão branco com a pele bronzeada de sol e mais magro, havia esperança nos seus olhos; ter saído daquele inferno de desconhecidos foi a melhor coisa que já lhe aconteceu, apesar dos olhares de desprezo de mamãe. Ela nunca gostou de você, sabe o que acontece quando se dá um passo fora da linha. Um copo a mais de cerveja, um cuba libre, vestígios de pó nas narinas, ninguém nunca se dignaria a te entender, por muito menos pregaram uma pessoa na cruz. E você não tinha fome, não queria café, não queria fazer barulho, não queria nem ao menos um lençol na cama, não queria também tomar banho. Mas era para não dar trabalho, para evitar o menosprezo do olhar e a culpa na consciência, afinal de contas você jamais poderia dormir o sono dos justos.
Antes zombávamos dos diferentes de você, agora zombamos de você porque você não tem mais coordenação motora, você a treme todo tempo, o que falta no fígado sobe para as mãos. E você fede, por isso não sentamos perto e jogamos sua toalha de banho no chão, como um porco imundo que nunca conseguirá atrair o mínimo de dignidade. E você pede desculpas por tudo, céus!, não adianta pedir desculpas, ela nunca vai te olhar com bondade e eu nunca vou olhar nos seus olhos porque você sou eu com os mesmos problemas e o mesmo fardo sem saída, sem solução. Eu prendo meu olhar para fora de ti, vou chorar, chorar de me acabar, chorar até você entender que não é culpa minha, não é culpa de mamãe, não é culpa de Deus e nem a culpa de ninguém, nem mesmo sua. Seu lábio inferior treme, suas roupas são para obesos, seu tênis está rasgado e você não se importa, você até dá uma risadinha de humildade; como se não houvesse mal algum estar em trapos, viver em trapos, viver por trapos e dispensar todas as chances de sair disso. Tanto que te acharam lá, naquele antro de pessoas como nós, vítimas do cansaço e da desmistificação, do trabalho rude que não tece mais as mãos e só serve para nos fazer suspirar até darmos conta que a vida não é um problema nosso. E costuma ser cruel com quem não acha. E vence. Eu choro todas as tardes com a sua imagem esparramada e constrangida no chão da sala, sem pedir um travesseiro, sem pedir ventilador, sem pedir nem um copo d'água, que não negaríamos se você não fosse quem você é, e eu sei que a negação até do copo d'água está no olhar; você nunca vai se dar uma chance de perdão: ou somos a vergonha absoluta ou lutamos contra a consciência da vergonha que sempre nos cerca, e para você nunca nunca haverão abraços.