Freitag, November 28, 2008

" Show me, show me, show me how you do that trick..?"

Definitivamente o acontecimento mais fúnebre do ano - e talvez de toda a minha vida - : meus amigos saíram para comemorar o aniversário sem mim. Mamãe, como sempre, procurou descamar todas as suas dores para cima da pessoa aqui. Olho o céu que já está quase todo limpo, a semana toda ele pareceu carregado. Limpou pelo propósito da natureza me mostrar o quanto pode me bater, me machucar e voltar a machucar sempre...
Meus queridos amigos. Comemorando mais um ano meu de vida com a minha ausência. Deve ser difícil para eles, como minha morte. Talvez seja apenas um treinamento prévio para minha total desintegração, porque eu sempre pensei que fosse ficar perdendo pedacinho por pedacinho e esses pedacinhos eram infinitos. Mas não são. E pensar na possibilidade de catar um a um deles aumenta o rumo do malogro...
Na mesa do bar: " Um brinde à Ana!" E uma lágrima de saudade ébria nos olhos de cada um. Do outro lado da cidade, meus olhos inchados. E o show do Nando Reis sendo ouvido em meu estado totalmente sóbrio : dores.

Sonntag, November 23, 2008

Sobre o meu aniversário

Os braços estavam pesados de sono. Os braços, não os olhos. Uma voz antiga e baixinha sussurrou em meu ouvido, combinada a uma respiração que lembrava alguma região de clima temperado: "Aufwachen meine Tochter." Então, abri meus olhos. Pude ver a luz fria de fora que invadia o quarto e me deparei com ele. A expressão dura, os cabelos já tão brancos e os olhos pequeninos que mesmo antigos brilhavam.
Depois de vestir o suéter fomos ao parque da cidade. Não chovia, os bancos estavam secos e passamos a manhã toda aspirando algo. Ele o seu cachimbo de anos, eu um cigarro de canela. Arthur me repassou toda a sua filosofia, mas de forma tão viva, tão convincente que os livros que já tinha lido pareceram meros livros de receita de algo que não se pode realizar. Ele também me falou sobre a dor de caminhar tantos anos, sobre como acusar certas verdades - e não digo verdades políticas- não era tão compensante assim : "Schmerzen akkumulieren ..." Eu o interrompi: " Meu alemão está atrasado." Ele com um muxoxo e com o sotaque arrastado prosseguiu: " Uma pessoa sofrida é o mesmo que uma pessoa gorda. Não consegue parar de acumular dor/gordura, é duro. Ambos acabam com sua saúde, mas da mesma forma que há dietas, há também alívios."
O dia todo observando àquela grama mal espalhada e cheia de folhas. Ao final da tarde, ele deitou sua xícara de chá enquanto me observava. Meu Deus, o que eu tentava comer? Um muffin? Tentei abraçar a vontade de me alimentar e devorar aquele muffin, mas quando a boca estava cheia me subiu algo. Enjôo e algo subindo...E subia, subia... Levei minha mão à boca. Arthur disse: "Die Übelkeit que se escapa da boca de um hipocondríaco que dos Anjos tanto falava, não?" Mas não era. Algo veio á tona sim, mas não vinha do esôfago. O sistema respiratório se anulou e eu estava vermelha. Ele me olhou surpreso. Talvez decepcionado. A verdade é que não era digno alguém da sua extirpe ainda ter certas reações. Mas os olhos estavam secos e tudo foi apenas mera encenação de um choro que poderia ter acontecido sim, mas dir-se-ia que não era de minha natureza, não mesmo.
Com um bolo em mãos cheio de velas suas últimas palavras foram: " Nada de desejos. Desejos beiram à vontade e eu critiquei isso minha vida inteira. Apenas assopre, como que para longe, meine Tochter." Também me entregou um embrulho e nele havia espinhos, mas em formato de coroa, deu uma piscadela: "Enquanto o palhaço do Nietzsche chorava mágoas para Cristo eu peguei "emprestado" essa coisinha, haha." E eu assoprei e acordei com o despertador que tocava. Foi sonho e o gosto amargo da saliva matinal já me enjoava. Mas quando olhei para o criado mudo havia uma garrafa de whisky. Sobressaltei-me. Na porta quase encostando ele me olhava, sorria de longe e seu sorriso parecia familiar. Os cabelos brancos viraram-se e a porta fechou. Um dia começava.

Samstag, November 22, 2008

A esquizofrenia de meus amigos

Primeiro, Schopenhauer encarnado na Ludy:

"Quando te conheci nosso nível evoluiu.... Teve mutação no DNA... E cada vez mais e mais nos tornaremos um mito.Somos irredutíveis, o mundo nos amará e curvará sobre nós Anazinha."


Depois, quase sem afetação, o Matt:

" Eu não sei se você consegue ou apenas finge que consegue. Um pedaço de bife acebolado no lugar do coração, é isso! Você é capaz de levar o maior tombo, levantar cheia de escoriações e com um sorriso ( aquele seu sorriso de longe) dizer que não foi nada. Eu queria lamentar por você, a verdade é que todos queriam. Mas você montada nesse sorriso e arrogância, chuta Sísifo da montanha, se suicida no lugar do Kirilov que você tanto fala... E o pior: desde que te conheço você disputa como criança mimada a coroa de espinhos com Cristo."

Mittwoch, November 19, 2008

A pior das metáforas

Visualizem em seu córtex cerebral uma criança por algum canto. A mãe a deixa para fazer alguma coisa como ver a panela, pegar alguma fralda, etcétera. Então, como ser inocente ela avista um grande bolo de fezes de cachorro no quintal. Ela pega nas fezes, passa em suas bochechas rosadas, lambe com sua pequenina língua e feliz olha para as paredes, toda defecada, toda feliz.
A criança acaba fedendo até o céu de tanta "brincadeira fecal". A mãe volta, horrorizada, acolhe a criança, lava-a e passa talcos e colônias até ela parar de feder. E até pára, mas a questão é : por que mexer em algo que saiu de dentro de alguém foi tão horrorizante?




Aluísio Azevedo deve estar batendo palmas do túmulo, eu sei.