Sonntag, September 26, 2010

Para lembrar

Tirado preciosamente do blog da Ly:

"Qualquer caminho para fora do meu apartamento guia a um erro incomensurável."

Mittwoch, September 15, 2010

Yes, we can talk about it now

Seus olhos são simplesmente os mais glaucos que já vi. Faço até esforço vivendo depois de acordar só por causa deles. Alegria simples de ser absurdamente feliz tendo um caráter de natureza triste.

No, we can't talk about it now

Um despertar singular o de hoje. Cabelos castanho claros espalhados pelos ombros, pelas costas; o sol lutando para abrir uma brecha no nublado de começo de dia e um sono interrompido que não foi interrompido, foi se extinguindo até o corpo se dar conta que estava satisfeito. Nada de aula de francês hoje, desculpa fenomenal de que eu sei que o faire fica faisiez na terceira do L'imparfait de l'indicatif e assisti tv, como se o dia nunca fosse ultrapassar as 8 horas da manhã, como se nem ao menos houvesse mundo.
Ficou ressoando por aqui o refrão da música do Death Cab, "you're beautiful but you don't mean a thing to me"; como se a música tivesse sido feita para a própria vida em si. Tratar a vida como um ser humano tem me causado problemas, e sim vida você é linda mas nunca consegue significar muito para mim, ao menos não por muito tempo. E eu sei bem dessa beleza que enche nossos olhos e põe nossos braços em formato de arcos, abertos, imensos e prontos para se fecharem no que quer que seja o tamanho. Nossos braços sempre serão cômodos para todas as coisas existentes, daí a preocupação do Calvino -ler abaixo do título do blog -. Pena que eles desintegram antes das coisas, então somos aleijados, cruzando o dedo dos pés para que a 8 horas da manhã não se prolongue.

Sonntag, September 12, 2010

Desmistificando Werther

A obra de Goethe guiada pelo Romantismo alemão e da tendência Sturm und Drang apresenta erros graves seguidos do sentimentalismo e sensibilidade randômicos. Werther apresenta-se como figura carismática em explosões de emoções, daí a grande recepção livro-personagem. Entretanto, pelas atitudes falhas ao longo do livro vê-se claramente a sua personalidade mesquinha e muitas vezes medíocre.
Começando pela relação de Werther com os nobres e bem-sucedidos, há o menosprezo do personagem contido no fato puro e simples dos nobres ignorarem a sua presença e avaliarem a sua conduta como exagerada. Ora essa, nobres e burgueses não se misturavam na época pelos primeiros acharem o manejo com dinheiro sujo, coisa incompreensível atualmente mas um costume na época. Assim, Werther se dedicava a pessoas de origem mais humilde acrescentando ao caráter dessas adjetivos exaltivos, maravilhosos. A mesma relação da fábula de La Fontaine, em que a raposa desdenha das uvas. Ele é como a continuação da fábula, no caso a raposa cospe nas uvas e cata "gravetos saborosíssimos" para se alimentar.
O estopim dessa relação chega quando um de seus humildes amigos do vilarejo comete homicídio contra o atual namorado de sua amada. O homem é capturado e Werther adentra a sala defendendo seu amigo com argumentos pífios e infantis, querendo justificar o fato de um inocente ter sido assassinado. Até onde chega o nosso herói: força uma relação com uma mulher comprometida, sabendo de antemão que ela tem um noivo, não obstante ainda se põe - com a desculpa de uma amizade duvidosa - entre Charlotte e o noivo (que posteriormente vira esposo), e ainda defende um assassino por pura e simplesmente este ter cometido um crime passional. Crime é crime. Se até Raskolnikov pagou na Sibéria pelo übermenschianismo de matar a velha usurária, por que teria que ser diferente com um despeitado?
Especificando a parte Werther-Charlotte, a obra toma proporções pateticamente catastróficas. Werther alimenta um amor cismante por Lotte, não é que o amor tenha acontecido, ele que escolheu amá-la. Ela era bela e meiga, como a maioria da população feminina na Alemanha da época; o que ressalto é: o amor nutrido era artificial e só servia para Werther martirizar a si mesmo e alimentar a sua própria afetação para que ele pudesse sentir que era um homem diferente, out of line. Charlotte, diante da persuasão e devoção de Werther, acabou por amá-lo à sua forma; mas foi um amor que não passou pelo caminho da beleza antes de virar amor, e sim pela piedade de ter que amar.
Saindo um pouco do enredo da história e entrando na parte de raciocínios errados de Werther (querendo ser aforismos), mostro um trecho: "E então, por mais limitado que seja, guarda sempre no coração a doce sensação de liberdade, sabendo que poderá livrar-se do cárcere quando quiser". Só nos cresce a sensação de liberdade quando estamos em cárcere obrigatório ou em inércia, esse sentimento não é natural, não se estabelece sozinho; e quando se estabelece ele não tem nada de 'doce sensação' e sim tristeza, algo como uma grande espera inquietante. A liberdade só se transforma em algo belo quando é alcançada, em seguida se metamorfoseia em paz de espírito.
Chegamos então ao suicídio de Werther, ao final da obra. Aí vemos o tamanho de sua mesquinhez, uma eterna criança mal-criada batendo os pés no chão pelo relevante, eis Werther. Antes do suicídio deixa uma carta para a sua amada penalizando-a sentimentalmente: "Vê, Charlotte!Não estremeço ao tomar nas mãos a fria e terrível taça, da qual deverei sorver a embriaguez da morte! Tu mesma ma ofereceste, e não hesito por um momento sequer". Ele estava errado desde os primeiros momentos, mas quis atribuir sua culpa à segundos, terceiros. Vemos a mediocridade desta obra mais nitidamente quando comparamos com "Noites Brancas" de Dostoiévski, em que o personagem também sofre de um amor renegado e sofre um golpe muito pior do que Werther: depois de arduamente ter esperado sua querida Nástienhka e finalmente tê-la conseguido para si, no dia seguinte ela volta para seu antigo pretendente, abandonando-o. O que o herói de Noites Brancas faz? Abre um doce sorriso e exclama: "Meu Deus! Um momento de felicidade! Sim! Não será isso o bastante para preencher uma vida?" O personagem de Goethe é aí nocauteado ferozmente pelo personagem de Dostoiévski.
Contudo, fecho com a única passagem bela que encontrei no livro e que realmente merece crédito: "É como se um véu se tivesse rasgado diante de minha alma, e o palco da vida infinita transforma-se, para mim, no abismo de um túmulo eternamente aberto. Poderás dizer: 'É assim mesmo!' Quando tudo passa? Quando tudo deixa de existir e desaparece com a rapidez de um raio, tão raramente sendo dado aos seres viver até se esgotarem as suas forças, quando eles, ai, são arrastados pela correnteza, engolfados por ela e destroçados de encontro aos rochedos? Não há um momento em que não destrua a ti e aos teus, em que não sejas, necessariamente, também tu um destruidor. Um simples passeio custa a vida de milhares de pobres vermezinhos, uma passada desmantela as construções penosamente erigidas pelas formigas, e condena a um túmulo ignominioso todo um pequeno universo."


Boa sorte na leitura - e muita paciência -.