Sonntag, April 15, 2012

D'o encontro marcado

Deixe-me ir ver o sonho, a velocidade, o milagre,
não me detenha com um olhar triste, esta noite
deixe-me viver lá longe, à beira do mundo,
apenas esta noite, depois voltarei.

[Esta História, A. Baricco; p.10]




Ela já estava a caminho. Desespero e aflições loucos daqueles que acometem quando cravamos os pés no ponto de partida, contando nos dedos se o caminho vai ser longo, observando se as pernas dariam um passo realmente largo até onde se quer ir. Tudo isso demorou dentro da mágoa daquele trânsito tão intenso, do descaso do motorista explicando que ela havia tomado a condução errada e que pelamordedeus! não era o fim do mundo, ficaria perto de lá, se os santos assim o quisessem.
A outra já estava lá. Junto com o outro. Ambos se banhando em cerveja e na mesma espera incansável que ela. Risos e histórias em comum de dez anos de espera, que mais parecia ontem, que mais parecia que a longa amizade entre o tempo que se conheceram até o tempo em que se encontraram não parecia uma linha tão basta, mas um descansar louvável do tempo, amortecendo qualquer tentativa de esforço vital.
Ela cruzou ruas, pra lá, pra cá, aimeudeus onde fica isso? Cigarro na boca depois da extensa viagem, vontade de chegar, de alongar as pernas, de sentar, de quebrar as emoções dos cumprimentos direto para o copo de chopp e acabar logo com isso. E chegou. A outra pôs-se de pé, sorriso imenso, aonde é que você estava?!, vem cá, me dá um abraço. O outro já estava de pé há tempos e atrás; sorriso brilhante, olhos piscando, como você demorou! Ah, conversas... tratando o passado tão sonhado e lúdico como uma abreviação e discutindo agruras do presente. Logo, as maldades do futuro. Uma noite que ele não queria que terminasse no até logo, visto tamanha felicidade de se descobrirem juntos e a possibilidade de lhe abrirem um horizonte melhor, depois de tanto tempo de mais do mesmo.
Ela contava os quartos de hora. A outra também. Ele estava bêbado. Elas inspiravam uma pressa absurda dessas que vem com a sobriedade. Ele queria esboçar o horizonte de que haviam lhe falado há pouco a partir desse mesmo dia, se possível naquela hora. Caminharam nas ruas com a insistência dele ecoando nos ouvidos. Elas foram, ele ficou. O até logo saiu numa voz que mal se ouviu. E dentro desse meio esteve a certeza de um vício que estava ali, não só entre eles, mas em muitos outros. Um vício franco, que não destrói, nem machuca.