Sonntag, September 30, 2007

Remember me; special dreams

Eu teimo ainda em vão provar que o tempo pode voltar e fazer acontecer as coisas como queria que tivessem acontecido há muito tempo antes. Não importa o quanto eu tenha lavado a alma e nem o milagre humorístico que isso me proporcionou. Lágrimas de outrem e risos meus, tão só.
Sofrimento quando é alheio é muito bom. Quando é meu ainda assim é bom. Porque de qualquer maneira eu não posso retardar nenhum sofrimento passado ou que há de vir. E sofrer, de coração partido e em prantos insistentes ainda é melhor que esse tédio de lugar comum. Olhar as ruas como se olhasse algum quadro e cair na esquizofrenia de que a minha vida é um quadro de mim mesma, debater-se na esperança que ele rompa e eu saia triunfante para um mundo de verdade ou da verdade. Mas o mundo é de mentira, eu não me incomodo mas padeço.

Sonntag, September 23, 2007

Neve

Mas é preciso que aconteça alguma coisa. Não posso sentar-me e esperar. Nesse caso ficaria coberto por toda essa simetria hexagonal, e Settembrini, se me procurasse com a corneta na mão, haveria de me achar acocorado aqui, com os olhos vidrados e com um boné de neve través na cabeça... - Hans Castorp percebeu que estava falando sozinho, e de um jeito um tanto esquisito. Proibiu-se, pois, de falar assim, mas fez também isso a meia voz e em palavras expressas, embora seus lábios estivessem tão atordoados que renunciou a utilizá-los e falou sem pronunciar aquelas consoantes que são formadas com auxílio deles, o que lhe chamou à memória uma situação anterior na qual ocorrera o mesmo. - Cala-te e trata de safar-te! - prosseguiu e acrescentou: - Parece-me até que estás desvairando e já não tens o cérebro muito claro. Isso é triste, sob certos aspectos.

A Montanha Mágica - Thomas Mann


Um dia eu descubro porque esse livro consegue ter tantos aforismos e ao mesmo tempo formam apenas situações corriqueiras aparentemente sem sentido.

Dienstag, September 18, 2007

Acabou.

E no tédio de mim mesma, eu pude perceber que enquanto meu nariz ardia e escorria devido a uma gripe somada a monóxido de carbono, eu não poderia fazer nada para apaziguar meu fracasso e sofrimento. Mas o que eu não sabia era que também não sabia e não podia apaziguar o sofrimento de outrem.

Samstag, September 15, 2007

In Mortal

Há poucos anos, achava que era imortal. Talvez porque sofresse como uma verdadeira mártir, mas enfim, tinha tanta certeza da imortalidade - e do sofrimento - que fazia riscos nos braços.
A lâmina fazia cortes bem finos e ficavam como pequenos rios de chagas sangrentos. O sangue contrastava de forma bem viva com a pele branca e também com as veias azuis que saltavam. Foram assim todos os dias de minha pré-adolescência.
Um dia eu adoeci. Tudo bem que é muito comum eu adoecer, mas nesse dia foi ímpar. A febre não cessava, os antibióticos me faziam vomitar e minhas hemácias caíram tanto que eu tive de ser internada. A médica falava com mamãe que a infecção estava se espalhando pelo corpo. Passei dias deitada naquela cama tão densa do hospital, as veias como eram muito finas estouravam na agulha com o soro contendo os medicamentos e eu acumulei mas de 5 marcas roxas e doloridas nos braços.
Eu ficava olhando o nascer e o pôr-do-sol da janela que era enorme. Era legal ver todos aqueles prédios altos recebendo luz e uma brisa da manhã, que logo se transformava em monóxido de carbono. Eu saí de lá. As marcas clarearam e eu nunca mais toquei em alguma lâmina. Não porque me faltasse malogro e o martírio, mas porque eu fui perdendo a força e a vontade de fazer e adorar qualquer coisa. Mas hoje, eu ainda olho para o lado de lá e sempre digo no tédio de mim mesma: Deus, eu era só uma criança.

Samstag, September 08, 2007

A grande irritação

" -Covarde!- bradou Naphta, e com esse grito humano admitiu que era preciso maior coragem para atirar do que para servir de alvo. Levantou então a pistola de um modo que nada mais tinha em comum com um combate, e descarregou-a na própria cabeça.
Que cena trágica, inesquecível! Enquanto os cumes jogavam bolas com o ruído seco da sua façanha medonha, Naphta cambaleou ou precipitou-se alguns passos para trás, arremessando as pernas para o alto. Deu bruscamente meia volta à direita e caiu com o rosto na neve.
Todos permaneceram imóveis durante um momento. Settembrini, depois de arrojar a pistola para longe de si, foi o primeiro a aproximar-se de Naphta.
-Infelice! - exclamou. - Che cosa fai, per l'amor di Dio?
Hans Castorp ajudou-o a virar o corpo. Via-se o buraco vermelho, enegrecido, ao lado da têmpora. Cobriram-lhe o rosto com o lenço de seda cuja ponta sobressaía do bolsinho do casaco de Naphta."

Trecho de "A montanha mágica" (Thomas Mann)

Freitag, September 07, 2007

Anarquizando o Dimmy

Em uma conversa no MSN...



Dimmy: Meu Deus, Lolita! Onde esse mundo vai parar?! Sério, não se aflija.

Eu: Não é isso...É...que eu só descubro mais e mais a imensa complexidade humana...e quando vou ver é apenas tanta mesquinharia inserida em um só ser que as esperanças de encontrar algo para o futuro fica difícil.

Dimmy: Criança, não te culpe! O que dizer de ti? Vou parar de te encarar como um solzinho laranja? Jamais!

Eu: As pessoas são fáceis, deslumbradas e tão mesquinhas...mas tão mesquinhas que eu me pergunto se ao invés de carbono não temos mesquinharia em nosso corpo.

Dimmy: Pois é... esse povo é só carbono e nada mais... deixa esse povo cumprir o ciclo. Nós somos purpurina! Muito melhor.



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