Sonntag, März 23, 2008

E fica a certeza de que...

...se eu tivesse o dom de ser mais articulada e abraçar minhas vontades, como quem tem mais fome do que vontade de comer, talvez a sua fuga certa não tivesse sido tão certa e tão rápida. Nem o meu amor iria se desintegrar enquanto caminhava para longe do corpo.
Hoje, além dessa certeza, fica outra de que o que restou foram algumas garrafas como companhia e consolo. O pulmão que agora é cinzeiro e plantação. O rosto que correu para o envelhecimento muito antes do corpo, acompanhando o espírito. As mãos que antes ávidas, agora caem mortas no esforço de qualquer coisa, só reacordam para segurar a caneta, e claro, o corpo cada dia mais magro, e parece que não pára de emagrecer, em uma inanição psicológica.
E não há viajem que pague, ou, faça retornar. Pois, aquilo tudo era como uma garrafa irretornável de plástico, que se deixa beber todo conteúdo e falece em algum monte de detritos. Meu anjo, me perdoe. Se eu conseguisse enfrentar a inércia, você não estaria à procura de algo que nunca mais vai achar e se achar vai durar por tempo ínfimo, e nem eu seria dado como caso perdido pelos psiquiatras, como um ser ineadaptável.


"Teria no lugar do coração uma pedra, ou seus sentimentos estariam secos e murchos para sempre?"

[Trecho de " O Idiota"; Dostoiévski]

Freitag, März 21, 2008

Desarrumando as malas

Porque o carro quebrou no meio da estrada e logo, a viajem foi cancelada. Talvez, porque nada sumiu e eu, apesar de estar olhando fixamente para a porta do elevador, escutava a voz e o pensamento que me levaram a quilômetros de distância. Apertei os olhos, mas certas coisas vemos em lembranças e não em imagens.
Então, sem beira-mar, fui seguindo a direção do bar. É um caminho que eu nunca erro. Bebidas, cigarros e a dor na consciência de ainda não poder controlar os vícios.

Março, março! Chorar todas as lágrimas, enquanto o sol derrete corações.

Donnerstag, März 20, 2008

Arrumando as malas

Indo ao encontro do sol, ruas de paralelepípedo e beira-mar. Quem sabe assim, a minha lembrança suma de uma vez por todas. Hoje eu vi alguém que era como você costumava ser novamente, mas ao invés de observar, meu olhar ficou fixo e duro na porta do elevador. Quando ela se abriu, saí aliviada, como quem escapa de um assalto.
Tudo ficou para trás, isso já não dói tanto quanto antes, aliás, nem dói. Eu costumava abraçar amplamente e com todas as forças o passado, como se fosse o último refúgio, só porque o presente não estava muito bom e o futuro prometia más-novas. Agora, independente do que há por vir, não importa tanto... Quando se passa por tanta coisa assim, quando se é perseguida a vida inteira, quando não há mais o que perder não se sobra nem medo, só nada.
Desejo um feriado doce para todos.


Fevereiro, fevereiro! Será que já chorei todas as lágrimas?

Donnerstag, März 13, 2008

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E nada sai já que até o silêncio é calado. O peito que nunca explode de mágoa ou saudade, mas não deixa claro o que um ser é para o outro. A rotina que engole o corpo, porém dá orgulho. O corpo que de tão cansado, fica leve e emudece o peito. O cérebro que faz contas, treina memória mas esquece rostos e trejeitos.

Sonntag, März 02, 2008

E o ser humano é...

A Vontade que vira procura. A procura que vira afinidade. A afinidade que vira sentimento. O sentimento que vira boa-aventurança. A boa-aventurança que vira esperança. A esperança que vira ilusão. A ilusão que vira desespero. E o desespero vira vício. O vício vira choro. O choro seca e vem a indiferença, e esta varre o espírito.
A única vez que criei coragem e, assim, sorrindo ao digitar no teclado o "eu te amo", fiquei paralisada. Não era medo da resposta, apenas excitação, porque eu sabia que só ia dizer-lhe isso uma vez.
Agora o medo é constante. Eu não posso absolutamente pôr o coração pequenino em suas mãos. Pois, não há coração. Há ainda um resto de algo, como as cinzas que sobram de alguém cremado. Se eu pôr essas cinzas a tua frente, você iria assoprar? E as cinzas poderiam voar para tão longe que eu nem me lembraria de meus restos novamente. Não posso perder meus restos... Seria como renunciar a última chance e quem tem uma chance de sobreviver pula todas as chances de felicidade.
Sabe-se que precisa de maior coragem para atirar do que para servir de alvo. Então, sou por excelência uma covarde. Portanto, fica aqui a afirmação - que eu espero que salve alguma outra cinza - de que se exalte a vivência covarde para poupar rugas, dor, esquizofrenia e tão logo o holocausto maior: tédio.