Dienstag, Dezember 29, 2009

Choose life

Balançava as pernas sentada naquele imenso concreto. Os carros passavam com tanta velocidade ali embaixo que ela não conseguia escolher mentalmente uma cor e contar. Começava "hmm, vermelho!", e lá se ia o vermelho tão rapidamente fugindo de suas contas. Na verdade ela não sabia se os carros eram rápidos demais ou se estava inerte novamente. As pessoas olhavam para cima com certa apreensão, afinal de contas o que aquela magrela-pálida com uns cabelos tão compridos estava fazendo sentada como se estivesse à beira da morte lá em cima? Olhavam, se perguntavam e desistiam. Sabiam do que se tratava e corriam com medo daquele pequeno zumbi quase suicida.
Um cigarro. Um cigarro a cada cinco minutos. Mas a duração de um cigarro não é de cinco minutos? Um cigarro a cada fim, então. E nem chegavam a terminar completamente, dava agonia de vê-los assim tão no fim e ter um novo inteirinho esperando. Quando o maço acabava ela fumava o último até a guimba não dar mais conta. Cansou da tentativa vã de contar os carros e foi ao parque. Uma nojeira. Havia sujeira por toda a parte e umas prostitutas imundas que usavam Leite de Rosas como desodorante, aquilo realmente fedia. Tirou do bolso o papelote, não precisou de nenhum canudo: sobrara pouco, o suficiente para uma cheirada. E de repente o nariz respirava aquele granulado amargo, o fundo das narinas ardiam, a cabeça pendia para todos os lados. Cinco minutos de paz. Achava engraçado essa coisa de cinco minutos, eram cinco minutos para tudo, como podia? Levantou-se, folhas por todo chão, restos de lanches, guimbas de cigarro: acendeu o seu. Caminhou calmamente para o bar, as pessoas focavam o seu rosto, parecia que elas sabiam o que se passava. Era tão bom andar com aquela leveza que migrava para superioridade, de certa forma era bom que aquelas pessoas a focassem também, holofotes (mesmo holofotes de desgraça, de miséria) sempre eram bons.
"Uma cerveja, ?", o dono do bar já sabia o que ela iria pedir, afinal de contas eram dez anos pedindo o mesmo quando entrava lá. Mal sentou e sua amiga a sacudia.
- Você é louca, . Louca de doer.
- De doer? Esse epíteto é novo!
- Você vai morrer.
- Besteira, besteirinha, "lá lá lá this charming man"...
- Você já morreu. Sinto que você não tem mais escolha e não digo em relação ao que está pensando.
- Aé...?!
- É a resignação, antes o que te explodia era a dignidade: você ficava furiosa e bang!, havia uma explosão, uma expulsão de verdades em você. Agora não, você viu tanta coisa por aí que ficou muda. Escolheram para você. Céus, estou tão furiosa com Deus por isso!
Abraçou a amiga como se fosse o último abraço da face da Terra. Eram lágrimas caindo pelo rosto macilento, pelo tecido do vestido da amiga, pelo chão, inundando o bar inteiro. Ela se sentiu imensa. Não pela agrura, pelo malogro, mas pela certeza de que alguém havia entendido que não era culpa dela, que não era culpa de ninguém, mas que não fazia mais tanta diferença, era preciso caminhar e caminhar para lugar nenhum, apenas para longe do sujo. Do sujo que é realmente sujo e não da sujeira aparente. Era preciso uma paz que não se mede em palavras, era preciso morrer compreendida.

Sonntag, Dezember 27, 2009

Eu disse que ia rolar anácrise, eu disse!

Anácrise: Métodos que provocam o dialógico obscuro de uma pessoa, era muito usado por Sócrates junto com a síncrise.

Igor: "Nome no diminutivo, noites gauchenses. A pessoa já me imagina de camisa pólo listrada preta e branca, calça jeans apertada, barba bem feita e nessas boates de veados. Final da picada, senhorita Ribeiro."

Zwei Minuten dann...

Igor: "Merece umas palmadas."


Bah, Sócrates!, morra de inveja, sério.

Anácrise

Eu sobre Herr Salton (vulgo Betinho Vargas nas noites gauchenses):

"Igor, você não é bom em contar piadas, sério, desiste. Você só nasceu para contar como D. Pedro proclamou a Independência."

Observação: Ele é aluno bem nascido de História na PUC-RS.

Samstag, Dezember 26, 2009

Ao Caio, meu benzão

Antes de partir o ano eu tinha que te escrever, meu bem. Te dei um puta pontapé no meio do traseiro, eu sei, mas eu não percebi que tinha dado. Foi assim: acordei e de repente era eu, tão-somente eu, nada daquilo de acordar e não ser mais o que era. Eu era e estou sendo. E vou ser por um bom tempo e dentro dessa "desagregação de consciência" - como diria Bakhtin - você sobrou num canto tão esquecido que eu nem posso citá-lo aqui, porque não sei mais o nome, porque assim como um pai que perde o filho não tem adjetivo essa crise que nos embala também não tem.
O problema é que eu não tenho mais do que reclamar, passei assim pela vida imparcialmente, apertando a mão de todas as dores (elas eram tão belas!), sorrindo, etcétera. Só não cantei, porque a vida não toca mais nenhuma música para mim. Não, espere, não me interprete errado. Nada a ver com tristeza, nada disso, só que não toca mais e ponto, nada de choro, nada de vazios, nada dramático, nada de Édipo. Sobra muita beleza nessa vida sem música. Mentira, estou mentindo. Não sobrou beleza, é que não é essa beleza que eu e você estávamos acostumados, é uma beleza mais acinzentada, mais prática, que preenche os buracos mais rápido e por isso foi minha redenção.
Acabou que fiquei que nem você "barquinho na correnteza..." e a correnteza ficou até leve, calma, cheia de equilíbrio. Tudo agora está em sépia, eu não paro tanto para olhar cada esquina desse centro, eu nem acendo mais cigarros. Aliás, meu copo de pinga se perdeu, eu esqueci até como ela ardia na minha garganta e o hálito ficava puro álcool etílico, uma beleza. Daí, eu acendia outro cigarro (normalmente de filtro vermelho) e citava alguma coisa que você tinha escrito. E você não me escreve mais, é, você é quem não me escreve mais. Você agora escreve para eles, eles que me deixaram assim: imparcial. Droga, Caio!, você está me traindo. Eu devia saber que você é uma bicha louca que ia se perder nos braços dos ex-amores-de-minha-vida e ia me dar as costas. Agora você sussurra no ouvido deles e faz de mim uma zombie. "Eu não quero ser a zombie de ninguém.", a Atália dizia pro Manolo em Jogo da Amarelinha.
Está bem, tut mir leid. Eu sei que você nunca fez por mal, você só molda a minha imagem, você é todo eu, não é Caio? Dos seus anseios de sonhos até a sua morte de mártir. Você se lembra de quando eu sonhava pesado? Eu sempre falava antes de dormir "manchmal träume ich schwer" e dormia meio chorando, meio sorrindo. O choro era por auto-comiseração, o sorriso pela fé que me fazia dançar entre os sonhos. Eu abracei meus sonhos, aliás, eu caminhei até eles, joguei minha bolsa no chão e abracei meus sonhos. Eles não se despedaçaram nos meus braços como costumavam fazer. Eles me abraçaram também e estava sol. Caio, da última vez que eu sonhei pesado eu estava naquela terra, naquele lugar, naquela cama abraçada com meu sonho. Ainda espero você por aqui, assim, de coração vazio mas esperando. Eu sempre vou estar esperando você aqui sentada nesse banco de praça, e vou ficar olhando para você com vontade de dizer tanta coisa, mais tanta coisa que vou ficar só te olhando. Vou me lembrar de "como você me dói de vez em quando!"

Auf wiederhören,
Ana.

Samstag, Dezember 19, 2009

Grande Ego (cara de pau) x Igor Salton II

Igor: Vou me dedicar aos russos também.
Ana: Quais russos?
Igor: Tolstói, Gorky, Dostoiévski...
Ana: É Gorki.
Igor: Tanto faz a grafia do nome, irrelevante...
Ana: Uma ova.
Igor: A senhorita está muito exigente para quem achava que Barcelona situava-se na Itália. rs
Ana: Eu por acaso errei a grafia de Barcelona?

Freitag, Dezember 18, 2009

Grande Ego x Igor Salton

Igor: Toda empolgada com o alemão...
Ana: Tôu dando super que certo no alemão, espera quando eu aprender servo-croata!
Igor: Vai fazer o quê?
Ana: Me benzer!, a inveja alheia não vai caber em meus 1,58m.

Sonntag, Dezember 13, 2009

Ao meu bem

Você fica realmente muito bonito rodando, é uma das poucas coisas de que lembro daquela praça cinzenta que ficou mais cinzenta porque era noite. E você já me disse, redisse, remoeu até não aguentar mais que eu tenho que ir embora, "du musst gehen, Ana!", tudo isso. Eu sei que eu já deveria ter ido, eu forço passos como um paraplégico para que eu finalmente vá e não vou. De que adianta eu ir, não ligar mais, não amar mais se eu vou ficar aí para sempre, às vezes você é mais do que burro, você é burro-orgulhoso e eu sempre te digo e mo digo. E nem há muito o que fazer por nós, estamos sempre chorando, longe ou perto. Ou você realmente acha que eu não vi seu rosto vermelho inflamando de dor cada vez que olhava para o relógio e eu dizia "vou ter que ir, vou ter que ir."? Só Deus sabe o esforço que você fez para não chorar e pior: olhar nos meus olhos e não chorar. Acho que você se afundava no sofá-fofo-marrom e chorava o que podia enquanto eu acendia o meu Camel na janela. Também foi bonito você chorando-rindo quando eu me atirei pra você, você não faz idéia de como o seu sorriso rasgou o rosto e iluminou tudo e poderia não haver mais nada, nem mais cerveja, nem mais Camel e nem mais brigas dentro do táxi. Aliás, acho que você odeia táxis e nem é uma questão de pão-durisse, é porque nós ficamos mais filmes ainda dentro de um táxi. O meu problema com você é que eu xingo, grito e choro demais contigo; você também, mas você grita nas piores horas e às vezes nem é preciso que grite para mostrar a imensidão da sua grosseria, mas você é tão lindo e sorri tão imenso que eu até perdôo. Está vendo? Consegui achar bondade em mim, bem ou mal me tornei imensa igual a ti. Não, não há o que fazer por nós, mas você tem idéia de que estamos destruídos, não é? Que não tem mais volta e pode achar qualquer um ou uma em qualquer esquina: estamos destruídos. E você não vai sarar, droga!, não seja burro ao ponto de não saber que não vai sarar. Acho que você continua comendo aspartame, e todo mundo te ama assim: fenilcetonúrico abastado de aspartame. Acho que para as pessoas é muito mais jogo você ser retardado, mas eu te vejo imenso e sorrindo e chorando. E vejo o sofá-fofo-marrom e está com meu cheiro. Você tem que se mudar daí, tem que parar de ser imenso, aliás não preciso pedir para parar de ser imenso, eu sei que você só mostra a faceta imensa comigo. Com o resto você é todo e tão-só aspartame. Então, que que eu vou dizer ao Caio?

Montag, Dezember 07, 2009

The Scientist

Come up to meet you, tell you I'm sorry.
- Alô? Então, até semana que vem novamente.
You don't know how lovely you are...
- Você faz falta tremenda por aqui, garota.
I had to find you, tell you I need you...and tell you I set you apart...
- Eu tinha certeza disso. Deixei a maior parte de mim aí.
Tell me your secrets and ask me your questions...
- Aqui está muito vazio, é cliché, mas está.
..oh let's go back to the start...
- Mais alguns dias, só mais alguns dias. Espera.
Running in circles, coming in tails...
- Vem, venha para cá, meu amor...
Heads on science apart...
- Alô?
Nobody said it was easy...
- O que é, garota? O-que-é? humpf.
It's such a shame for us apart...
- Eu não te amo, entenda.
Nobody said it was easy...
- Isso é uma puta! mentira.
No one ever said it would this hard...
- Não amo e ponto.
- Ama...
-(pausa, respira fundo) Não amo!
Oh take me back to the start...

Parafraseando o Fê

Aproveitando que eu passei a madrugada inteira escutando "A Tabacaria" junto com a Cristal:


Come, pequena.
Come chocolates.
E alimenta esse mocotó.

Freitag, Dezember 04, 2009

Passando pelas semanas

Gosto amargo de Marlboro na boca, ventos típicos da UFF - que me fazem ficar descabelada e com o cabelo cheio de pequenas plantas e flores - e uma força que sei lá de onde vem. Foi fundamental, por exemplo, ontem, quando eu chorava chorava e minhas bochechas e meu nariz e meus olhos ficaram enormes e vermelhos. Ninguém em volta parecia saber do que se tratava, por que a garotinha de trancinhas estava explodindo em choro. Acontece que há momentos na vida (e são muitos) que se tem a solidão perto demais, a ponto de eu me envolver com meus próprios braços na avidez de um abraço; às vezes fecho os olhos e finjo que me reproduzi num ser compatível que sabe que vou muito além das interpretações de Bakhtin ou Benjamin.
Os dias têm me dado realmente muito medo. Em um me encontro perdida no meio da rua pedindo carona a estranhos, sem saber muito bem para onde ir. Noutro, chove chove chove. Mas chove tanto que eu aperto os olhos tentando fazer contato com Deus para que ele pare, que eu já aprendi, que não é bonito e que eu estou ensopada e com frio. Ele não tem escutado. Eu não o culpo. Consigo pegar o ônibus, comer meu temaki em paz e pisar em casa: estão todos muito tristes. No fundo da bolsa estão minhas passagens ensopadas que eu já nem lembrava mais. Meu sonho ensopado, Deus finalmente me escuta e é doce e delicado. Acendo mais um Marlboro.