Sonntag, Dezember 28, 2008

Some hearts are true

O mundo caía em chuva quando você percebeu que a culpa não era sua. A voz tinha virado algo que parecia um barulho de algum filhote assustado dentro de uma caixa de papelão, eu não entendia nada. Mas tentava entender e desvendar já que não eram barulhos de filhote e sim algum dialeto de malogros. Quando então o dialeto virou choro e só choro, e a voz logo reapareceu fina, suplicante de alguma coisa que certamente não seria resolvida.
Então, eu respirei para tentar fazer tudo ficar bem. O gás carbônico saiu e não trouxe nenhuma palavra de conforto com ele. Só restava desligar o meio de comunicação desejando melhoras, como se fosse doença. Um dos personagens de Mann dizia isso, "vai até as trevas e volta em forma de doença." E não curou. E todos estavam chorando por você, por ver uma pele tão jovem se desmanchar em rugas de preocupação, e ainda, por ver que não havia de ser feito nada.
Não, não era justo e eu sei que não era, meu amor. Não contigo. Sua alma não era daquelas feitas em moldes para aturar as desgraças e as maldades que o mundo traz. Eu me pergunto até agora por que não eu? - todo mundo também se perguntou isso-. Eu que permanecia de pé, eu que fui chamada de monstro sagrado a vida toda, eu que sempre dizia para o destino: " Te pego lá fora!". Mas foi você. Você que estava quase sempre sozinha e não estava acostumada à solidão. A vida tinha desses maldades: mandar ficar em pé quem não tinha muitas chances de ficar. E eu ficaria não é, amor? Eu quebraria minhas próprias pernas só pelo prazer de empinar o nariz e exclamar:"Olha aqui!".
Pra quê e por que toda essa lição se estava claro que você não estaria disposta a aprender? Tão sensível, sua alma era a de uma criança que saía abraçando todos, porque todos eram bons e não iam lhe causar mal algum. Até que ela se perdeu. Talvez estivesse nas ruas procurando o colo de algo que parecesse materno, talvez. Está aí o motivo pelo qual meu nariz amanheceu inflamado novamente: a dor de meus braços que se esticavam para tentar aliviar você do mundo, e a garganta que doía ainda mais por tentar transformar minha voz quase inexistente em algo berrante, só para você me escutar.

Freitag, Dezember 26, 2008

Feliz Natal

- E que blusa era aquela? PelamordeDeus...
- Ana, eu te entendo.
- Aposto que devia estar combinando com umas sandálias ridículas de borracha.
- Eu te entendo...

[ Ela põe uma das mãos em meu ombro]

- Pior que idiotia pura, só falta de gosto no guarda-roupa...
- Chega! Entendeu? Chega! Eu te entendo, eu juro que entendo!

[ Olhar baixo. Ela me puxou para uma abraço forçado. Meu nariz estava vermelho e eu tentava me desvencilhar do abraço]

- Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem. Eu entendo...Eu entendo...

Freitag, Dezember 19, 2008

As mentiras da geopolítica

Nos três anos em que cursei o Ensino Médio, sempre ouvi os mesmos discursos nas aulas de Geografia - em todas as aulas, principalmente em Geopolítica-, sobre quão o sistema capitalista é injusto e gera desigualdades por si só.
Não contentes com seus discursos inflamados, cheios de retóricas tiradas das orelhas da Carta Capital, eles ainda se propunham a citar Smith. Mas qual o problema em citar Smith? Ora pois, problema algum, quando não se utilizam de sofismas para isso, claro.
Era um tal de "Maximização das capacidades individuais que dizia que um vendedor de bananada teria que ser o melhor vendedor de bananada", que a coisa ficou mais ridícula do que eu previa. Smith via a "maximização das capacidades individuais" como a forma mais simples de gerar riqueza e prosperidade não só para o trabalhador, como também para a sociedade. Isso até hoje é uma medida certa e eficaz e não sou eu quem está dizendo. É só assistir ao Globo Repórter ou observar os judeus.
Ok, mas " as relações burguesia X proletariado são injustas, desumanas, insalubres!" Smith que foi um dos maiores pensadores capitalista diz:

"Não é porém difícil ver qual das duas partes tem, em ocasiões normais, vantagem nessa disputa e pode forçar a outra a aceitar um contrato nos termos que mais lhe interessam. Os patrões, sendo em número mais reduzido, podem facilmente chegar a um entendimento entre si a fim de manterem um dado nível de salários; aliás, são os próprios regulamentos que os autorizam, ou melhor, que não proíbem as suas combinações, enquanto que já proíbem as dos trabalhadores. Nunca assistimos a atos do parlamento contra as decisões de baixar os preços do trabalho; mas já soubemos de muitos contra as decisões de os aumentar. Em todas essas disputas os patrões podem aguentar-se muito mais tempo. Um proprietário, um agricultor, um industrial ou um comerciante, mesmo que não empreguem nenhum operário, podem normalmente viver um ano ou dois gastando os capitais já anteriormente adquiridos. Mas poucos trabalhadores poderiam resistir uma semana, menos ainda um mês, e quase nenhum um ano inteiro sem renovar pelo trabalho os meios de sua subsistência. A longo prazo, o trabalhador pode ser tão necessário ao seu patrão como este o é para aquele; mas tal necessidade não se verifica de imediato." ( "A riqueza das nações", p.63).

Fica aí claro que não se trata de injustiça, mas de fatos. O que pode tornar o sistema capitalista injusto não são as práticas capitalistas, mas o caráter de quem as pratica. Qualquer dúvida leiam o Riqueza das Nações e fechem o Manifesto, porque afetação comunista já está mais do que "last week".

Dienstag, Dezember 16, 2008

Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me

Eu tinha então 17 anos. Meus cabelos caíam na testa e eu ainda era um menino. E os meus olhos costumavam brilhar com a chuva ou quando eu jogava bola com os amigos. Até que a conheci. Com seus tantos anos a mais de vida, com a sua experiência, com o seu organismo danificado pelas drogas. Achava-a doce, tão doce que eu costumava viajar para onde ela estava nas minhas noites de insônia.
Eu queria ser ela, ou simplesmente poder sentí-la, vê-la. Nem que fosse só para saber que não era alguma miragem, alguma ilusão. Quando eu sumia, sonhava com ela todas as noites. Quando ela me ligava só me restava não só abrir meu coração, mas dilacerá-lo em juras de amor eternas, em planos de um futuro bom. Pensei em largar tudo só para poder viver ao seu lado.
Mas eu menti. Nunca a amei. Apenas o meu egoísmo de menino pouco conhecedor dos causos do destino me guiava até a destruição dela. Ela era tudo para mim, mas não porque eu a amasse, não. Eu queria vê-la completamente destruída. Eu a via se desintegrar, mas eu queria ter esse prazer, eu queria arrancar daqueles grandes olhos lágrimas que jamais se dissipassem. Queria provar que ela tinha um coração, não para amar, mas para aguentar todas as dores que eu poderia lhe proporcionar... Entretanto, também haveria de humilhá-la! Só por todas as vezes que ela com a sua paciência e serenidade me explicava as coisas ou me dava broncas por ser um afetadinho.
Parti o seu pedestal me entregando à outra paixão. Fui aproveitando cada silêncio dela nas conversas, silêncios que eu tinha certeza que eram de choro. Mas eu simplesmente não poderia vê-la chorando, não? Eu tinha que ter a certeza de meu mal. Como não havia jeito de saber, me contentei em metralhá-la com todos os absurdos infantis do mundo. Então, ela sumiu. Na verdade ela havia ido embora... E agora? O meu trabalho não havia acabado. Insisti em machucá-la, acho que consegui. Talvez ela esteja com um suéter lilás agora, talvez o céu cinza-brilhante de chuva esteja iluminando seus olhos marejados e talvez sua boca esteja contraída até agora de dor, talvez.


Acordei e meus cabelos não batiam na testa, eram longos. Eu não tinha nada de menino e já tinha dezenove anos fazia 1 mês. E eu não havia me machucado, não havia dor alguma. Ludmilla me avisava por mensagem : " Foi só um sonho ruim...Foi apenas um sonho ruim, ma belle..."


Player: Keane - A Bad Dream

Freitag, Dezember 12, 2008

E é assim que as coisas são

A Ludmilla e eu tivemos uma discussão homérica ontem. Ela falava, aliás berrava, sobre como o mínimo de reembolso que Deus poderia dar a ela é ser canonizada. Se a conversa tivesse sido concebida pessoalmente, provavelmente eu espalmaria minhas mãos ao ar, declamaria todos os malogros de minha vida e por fim amanheceria envenenada, só para testar a ordem divina, ou ainda, para tentar copiar Mynheer Peeperkorn.
De engraçado ficou amargo. Ela falava sobre como tudo - não só nesse momento- está sendo difícil, e teve o básico ataque de pedantismo-depressivo de dizer que só ela sofre, que sua dor era a maior e que achava o cúmulo da patotinha esses jovens "humanóides" considerarem as suas poucas misérias alguma dor. A essa altura já estávamos chutando uma a costela da outra.
Talvez por isso hoje eu tenha acordado arrasada. Não que meus olhos estivessem marejados, não. Porque eles estavam secos. O rosto não tinha expressão. O coração parecia ter se volatilizado. E o corpo, bem, o corpo não se movia e eu não tinha forças para brigar com a inércia e movê-lo. Me contentei em ficar na cama, olhando a janela cinza. Ameaçava chover.
Então, lembrei de quando eu era um pouco mais nova. Uma vez corri de meus amigos, já muito ébria, e parei estática numa pracinha que fica de frente para a Baía de Guanabara. Era noite e estava relativamente frio. Eu explodi, meu nariz inflamou de coriza e meus olhos começaram a ficar manchados de delineador. Estava doendo. O meu rosto se desfigurava na maquiagem enquanto as ondas da Baía batiam perto.
E não era uma dor do tipo dor. Porque se fosse apenas dor, um bom psicólogo e muitas caixas de Rivotril resolveriam. A principal questão é o referencial. O meu referencial é tão amplo que engloba a dor de cada pedacinho de ser humano que passa por mim. O idoso sem dentes procurando atendimento no hospital, o olhar triste que vi em um mendigo ( ele devorava algo que parecia um doce de padaria com tanto desgosto...), os amores de minha vida que não me querem e também não me deixam seguir e claro, o Grande Ego que controla tudo com seus tentáculos. Eu não alimento meu ego, ele me alimenta.
O referencial não pára de crescer. Talvez eu imite Édipo Rei e fure meus olhos na esperança de uma cegueira completa, quase alienação, ao contrário do que queria o personagem. Talvez eu continue acordando arrasada, sem saber exatamente o porquê. Alguma coisa, alguma lenbrança...Eu não sei o que é. Está aqui, mas foi absorvida pelo Grande Ego de tal forma que eu realmente não me lembro quem ou o quê fez isso. Grande Ego, se era um sonho...devolva.

Montag, Dezember 08, 2008

A Ludy me odiava, fato

... Sinceridades que me fariam matá-la de forma silenciosa...

Ana : Eu não sou idiota! Eu não sou idiota!
Ludy: Nem eu, mas sempre acabamos sendo...
Ana: Você. Eu não. Eu sou aluna de Olavo de Carvalho e Levy, jamais serei idiota. ( ataque de pedantismo).
Ludy: E se aparecesse?
Ana: Eu poria um enorme saco de papel na cabeça, relembrando os tempos de misantropia.
Ludy: Escrito " tô aqui, pega".
Ana: Vai...

(...)

Ludy: Sabe, eu te odiei um dia.
Ana: Como foi isso?
Ludy: Em um dia que ele demorava a me responder, e voltava rindo dizendo que estava falando contigo. Eu sabia que você era a menina que gostava dele.
Ana: Sério? O Grande Ego agradece, vou dormir feliz agora.
Ludy: Peste diabólica... Arruinou uma noite de minha vida!
Ana: Que glória!

(Ludy começou a escutar "What goes around...Comes around" do Justin Timberlake)

Ana: Era brincadeira. Não precisa escutar essa música e planejar minha morte. Até porque você teria que entrar na fila e herdaria milhões publicando meus textos...
Ludy: Anazinha :)

Samstag, Dezember 06, 2008

Inércia

Quando chego a vomitar de fome, o alimento vai até a boca mas não desce. Escapa a tão famosa ânsia da boca de um cardíaco. Os shorts estão largos, os seios sumindo e o egocentrismo voltando. Na verdade, não sei decidir o que é meu egocentrismo : se a minha arrogância de achar que tudo é direcionado à mim, ou, achar que não há nada para ser superado.

Freitag, November 28, 2008

" Show me, show me, show me how you do that trick..?"

Definitivamente o acontecimento mais fúnebre do ano - e talvez de toda a minha vida - : meus amigos saíram para comemorar o aniversário sem mim. Mamãe, como sempre, procurou descamar todas as suas dores para cima da pessoa aqui. Olho o céu que já está quase todo limpo, a semana toda ele pareceu carregado. Limpou pelo propósito da natureza me mostrar o quanto pode me bater, me machucar e voltar a machucar sempre...
Meus queridos amigos. Comemorando mais um ano meu de vida com a minha ausência. Deve ser difícil para eles, como minha morte. Talvez seja apenas um treinamento prévio para minha total desintegração, porque eu sempre pensei que fosse ficar perdendo pedacinho por pedacinho e esses pedacinhos eram infinitos. Mas não são. E pensar na possibilidade de catar um a um deles aumenta o rumo do malogro...
Na mesa do bar: " Um brinde à Ana!" E uma lágrima de saudade ébria nos olhos de cada um. Do outro lado da cidade, meus olhos inchados. E o show do Nando Reis sendo ouvido em meu estado totalmente sóbrio : dores.

Sonntag, November 23, 2008

Sobre o meu aniversário

Os braços estavam pesados de sono. Os braços, não os olhos. Uma voz antiga e baixinha sussurrou em meu ouvido, combinada a uma respiração que lembrava alguma região de clima temperado: "Aufwachen meine Tochter." Então, abri meus olhos. Pude ver a luz fria de fora que invadia o quarto e me deparei com ele. A expressão dura, os cabelos já tão brancos e os olhos pequeninos que mesmo antigos brilhavam.
Depois de vestir o suéter fomos ao parque da cidade. Não chovia, os bancos estavam secos e passamos a manhã toda aspirando algo. Ele o seu cachimbo de anos, eu um cigarro de canela. Arthur me repassou toda a sua filosofia, mas de forma tão viva, tão convincente que os livros que já tinha lido pareceram meros livros de receita de algo que não se pode realizar. Ele também me falou sobre a dor de caminhar tantos anos, sobre como acusar certas verdades - e não digo verdades políticas- não era tão compensante assim : "Schmerzen akkumulieren ..." Eu o interrompi: " Meu alemão está atrasado." Ele com um muxoxo e com o sotaque arrastado prosseguiu: " Uma pessoa sofrida é o mesmo que uma pessoa gorda. Não consegue parar de acumular dor/gordura, é duro. Ambos acabam com sua saúde, mas da mesma forma que há dietas, há também alívios."
O dia todo observando àquela grama mal espalhada e cheia de folhas. Ao final da tarde, ele deitou sua xícara de chá enquanto me observava. Meu Deus, o que eu tentava comer? Um muffin? Tentei abraçar a vontade de me alimentar e devorar aquele muffin, mas quando a boca estava cheia me subiu algo. Enjôo e algo subindo...E subia, subia... Levei minha mão à boca. Arthur disse: "Die Übelkeit que se escapa da boca de um hipocondríaco que dos Anjos tanto falava, não?" Mas não era. Algo veio á tona sim, mas não vinha do esôfago. O sistema respiratório se anulou e eu estava vermelha. Ele me olhou surpreso. Talvez decepcionado. A verdade é que não era digno alguém da sua extirpe ainda ter certas reações. Mas os olhos estavam secos e tudo foi apenas mera encenação de um choro que poderia ter acontecido sim, mas dir-se-ia que não era de minha natureza, não mesmo.
Com um bolo em mãos cheio de velas suas últimas palavras foram: " Nada de desejos. Desejos beiram à vontade e eu critiquei isso minha vida inteira. Apenas assopre, como que para longe, meine Tochter." Também me entregou um embrulho e nele havia espinhos, mas em formato de coroa, deu uma piscadela: "Enquanto o palhaço do Nietzsche chorava mágoas para Cristo eu peguei "emprestado" essa coisinha, haha." E eu assoprei e acordei com o despertador que tocava. Foi sonho e o gosto amargo da saliva matinal já me enjoava. Mas quando olhei para o criado mudo havia uma garrafa de whisky. Sobressaltei-me. Na porta quase encostando ele me olhava, sorria de longe e seu sorriso parecia familiar. Os cabelos brancos viraram-se e a porta fechou. Um dia começava.

Samstag, November 22, 2008

A esquizofrenia de meus amigos

Primeiro, Schopenhauer encarnado na Ludy:

"Quando te conheci nosso nível evoluiu.... Teve mutação no DNA... E cada vez mais e mais nos tornaremos um mito.Somos irredutíveis, o mundo nos amará e curvará sobre nós Anazinha."


Depois, quase sem afetação, o Matt:

" Eu não sei se você consegue ou apenas finge que consegue. Um pedaço de bife acebolado no lugar do coração, é isso! Você é capaz de levar o maior tombo, levantar cheia de escoriações e com um sorriso ( aquele seu sorriso de longe) dizer que não foi nada. Eu queria lamentar por você, a verdade é que todos queriam. Mas você montada nesse sorriso e arrogância, chuta Sísifo da montanha, se suicida no lugar do Kirilov que você tanto fala... E o pior: desde que te conheço você disputa como criança mimada a coroa de espinhos com Cristo."

Mittwoch, November 19, 2008

A pior das metáforas

Visualizem em seu córtex cerebral uma criança por algum canto. A mãe a deixa para fazer alguma coisa como ver a panela, pegar alguma fralda, etcétera. Então, como ser inocente ela avista um grande bolo de fezes de cachorro no quintal. Ela pega nas fezes, passa em suas bochechas rosadas, lambe com sua pequenina língua e feliz olha para as paredes, toda defecada, toda feliz.
A criança acaba fedendo até o céu de tanta "brincadeira fecal". A mãe volta, horrorizada, acolhe a criança, lava-a e passa talcos e colônias até ela parar de feder. E até pára, mas a questão é : por que mexer em algo que saiu de dentro de alguém foi tão horrorizante?




Aluísio Azevedo deve estar batendo palmas do túmulo, eu sei.

Freitag, Oktober 31, 2008

"Come away, Oh human child..."

É, daquele filme. E ressuscitem em suas memórias o menininho debaixo de um balde de ácido berrando: " Não me queimem! Não me queimem! Eu sou um menino..."
Mas não cabia a ele escolher o seu fardo, aliás, o problema era não ter fardo. Talvez eu me pregue debaixo de um balde de ácido também e berre, talvez. Mas berrar seria admitir e admitir não está nos planos, nunca está. Ou ainda, talvez minha fada azul seja fada verde ( alusão ao absinto, caso alguém desconheça a expressão).

..."For the world’s more full of weeping than you can understand."

Sonntag, Oktober 19, 2008

Absurdo

Eu apertava o cigarro entre os lábios meio secos enquanto olhava o cinzento-azul do céu. O filtro amarelo estalava sutilmente na boca a cada massiva tragada, e eu pensando sobre como até a chuva tinha preguiça de chover. Algumas gotas caíam, a maioria delas parecia querer ficar escondidas nas nuvens carregadas. Agora não temos nem mais a certeza de quando abrir o guarda-chuva.
Precisam-se de pessoas-paracetamol ( alívio imediato! - como diria a Ly), e não pessoas-antibiótico. O paracetamol demora tão pouco tempo para anestesiar e tanto tempo para deixar a dor voltar... Os antibióticos destroem o estômago, demoram a agir e podem não fazer efeito dependendo do grau da doença. Sem levar em conta de que se mantermo-nos com paracetamol o corpo pode reagir por si próprio e os males ficarem para trás.
Então, olhem no espelho e digam: " Eu te amo." O efeito da frase saindo de si ou de outrem não muda muito. O que dá significado à frase não é a ênfase com que é dita, e sim as ações que derivam desta. E para cada ação derivará uma reação de mesma direção e sentido contrário que será o significado da replicação: " Também te amo." Física pura e analogia biológica. O que de fato não muda muito o rumo que tudo toma.

Montag, Oktober 13, 2008

O domingo mais domingo de minha vida

Acordei bocejando com os olhos ainda embaçados pelo sono, mas quando a luz matinal entrou pelo quarto dei um pulo. Andar, andar pela casa até ir ao quarto de mamãe e ir ver se o resfriado tinha passado. Não passou.
Aconcheguei-me ao colchão, fiquei olhando e forçando um sorriso. Mamãe olhou-me dura e soltou um : " Agora só restam mais duas chances." Nariz vermelho, olhos escorrendo e o recorde de em menos de cinco minutos depois de acordada começar a chorar e a doer.

Montag, September 15, 2008

Maybe i don't really want to know...

Trocando as pernas na volta para casa -depois de desviar de todos os olhares que diziam: " céus, uma criança bêbada!"-, e correndo para o telefone. " Você não faz o mínimo esforço, blábláblá..." Que injusto. Muito injusto. A vergonha deve ser mesmo totalmente solúvel em álcool.
Nariz vermelho e fungante, olhos imersos naquela solução aquosa-meio-salgada, manchas de delineador preto por todos os lados.

Substituindo a frase final pela máxima de um ex: " Ana, você ama é um caralho!"

Freitag, September 05, 2008

Nostalgia

Ontem eu lembrei qual era a cor e textura do seu cabelo. Lembrei do tipo de olhar que me lançava quando estava envergonhando mas comovido. Da suas mãos que ultrapassavam as minhas e mesmo grandes eram graciosas e tinham medo de me machucar. Também da sua saliva com gosto de tabaco e da sua preferência por vodka. Do sorriso que raramente surgia mas iluminava e me deixava tranqüila, sobre como eu não tinha dito/feito alguma bobagem. Lembro dos trajes sempre pretos, do ódio ao verão muito quente. E todas as conversas que sempre terminavam e começavam em risos estratosféricos.
Agora, só resta a mim transformar tudo em peças de quebra-cabeça de minha vida. Quebra-cabeça que eu não sei ao certo se causou um curativo enorme em alguma parte e, ainda se causou, o por quê disso. E montá-lo. Porque não dá para viver sem passado. E cada toque de reencontro talvez seja seguido de algum berro de dor, cheio de afetação. Pelo fato de não ser mais tudo novo, ser apenas continuação. Detestamos continuar, acho que é porque dá muita preguiça de tudo. A preguiça de persistir ainda é maior que o medo de qualquer coisa nova.
Porém, não dá para simplesmente passar o resto de vida deitada tendo fé de que " recordar é viver", sendo que a verdade é que " viver é recordar" - e algumas partes criar algo novo que mais tarde será revivido, claro-. Estamos sempre chorando no colo do passado implorando por mais. " Mais" o quê? Se vai chegar finalmente o dia em que não há de se querer mais. E vai sobrar o menos, menos de si mesmo diante de qualquer tentativa. Outrem cheio de expectativas por experiências vai querer mais, mais e mais. O que há de se fazer quando só se tem menos diante de quem quer mais? Nada. O que é pior... pois, em seu próprio malogro e subterfúgio de todas as coisas possíveis o outrem vai se encantar diante de tanta miséria. Serão: um menos e outro menos, menos.

Sonntag, August 31, 2008

Nem deve valer

Febre, febre, febre. Tanta coisa para ler que meus olhos estão caindo de vermelhos. E esticar as mãos para tentar arrancar o último pedaço da tentativa de vida. Nem habitantes meus sonhos tem mais. Sonhos : leve desconforto no estômago para ler ou falar sobre.
Olhar não para trás, mas para o meio do caminho. Bem ao centro. E saber que agora sim é tempo de cair de joelhos e agradecer, e chorar, e chorar nas bases de um crucifixo sobre como você tem sido bom comigo, meu Deus. E não saber agradecer com ações, mas sim com mais um malogro sobre como há algum ego em mim que é mais do que eu mesma.
Vão sobrar não as tentativas, mas o olhar por cima do ombro de nojinho e a fala toda, toda pedante: " I don't give a damn." Ou ainda, a dúvida que não vai se calar diante do grande mal-feito : " Era assim mesmo?"

Dienstag, August 26, 2008

" Não posso trazer o passado de volta? É claro que posso!" Jay Gatsby

Um pouco após fazer esta afirmação, Gatsby foi assassinado. Espelhando-me nisso, não vou tentar arrancar o passado de trás e pô-lo em minhas mãos futuras, como quem guarda cartas na manga para ganhar o pôquer.
Nem mesmo posso pegar experiências passadas para tentar aprimorar os novos atos. Isso só dá certo quando se trata de um sabor de sorvete, ou restaurante ou algo que não seja abstrato. Em todas as tentativas, tento prender com os braços e dizer como fazer tudo, como as coisas em si funcionam. Mas não é assim que funciona e eu me perderia no infinito de lições de dizer como se portar diante de mim.
O pior é poder adivinhar exatamente o futuro - até nos pequenos gestos e palavras que serão feitos-ditos-, e saber que poderia ter sido diferente ( sempre sabemos, mas nunca conseguimos mudar certos rumos). Entretanto, vou fingir ser cega por dias... E por quê eu não o fiz enquanto você errava? Ah, ok. Aquela coisa de dignidade, ou ainda, orgulho.

Samstag, August 16, 2008

Algo sobre paralelismo

Fazendo um paralelo perfeito comparando o post " 1 ano" com aquela frase que ficou ressoando na cabeça dos leitores do blog: " Hoje eu vi alguém que era como você costumava ser." Com o fato de que o "alguém" agora sou eu.
E não é que é exatamente como eu costumava ser? Toda a boa vontade, a dúvida sobre como se portar, a ingenuidade perante o relacionamento. Somando-se a afetação mais graciosa do mundo, claro.

Freitag, August 08, 2008

Cause evebody has a poison heart...

A vida, os dias vão passando junto com o desgosto de solidão obrigatória. O fato de estar tudo ensolarado até revigora algo, mas não o suficiente para maquiar as rugas de tédio e vícios. Você está gastando suas últimas horas de lazer em um meio de comunicação que alcança milhares de seres humanos e, de repente, em sua frente aparece algo novo. Algo não, alguém.
Você está cansada de relacionamentos rápidos e objetivos, ele quer algo sério. Aliás, muito além do sério: ele quer casar. Porque acredita que você é a mulher da vida dele. Você quer procriar, passar seus genes adiante e, olhe só: ele quer filhos, ele também quer filhos! Você quer não a esperança, mas a certeza de que tudo vai dar certo, pois vida é isso: fazer dar certo; e ele fraqueja diante desse fato, da distância. O que faz que seu espírito esperançoso fique ativo novamente, o que possibilita que você possa não somente proferir verdades otimistas, mas também acreditar nelas e reunir suas últimas forças contra a inércia.
E, de repente também, você lembra que foram lições demais diante da caminhada. Que talvez você não possa se doar tanto quanto ele mereça. Que mesmo que todos os sonhos com toda a certeza dos céus possam ser realidades, não faz tanta diferença assim que sejam.
Não posso esquecer, não posso esquecer...

Montag, Juli 21, 2008

" Será que vai explodir?!"

Foi o que eu disse em pensamento enquanto fumava meu último cigarro naquela calçada suja. Com uma das mãos no peito, olhos vidrados no desespero de olhar tudo como se fosse cenário de algo que não é real. Doía muito.

Freitag, Juli 18, 2008

Eu fingi na hora de rir

O que fazer com o sorriso que entrepôs todas as lágrimas? E de tudo fica a sensação de ter sido lida como um livro, interpretada e editada para um novo ser.
Respondendo a minha própria pergunta, talvez sirva para usar na hora do purgatório, no item " como não procriei". Porque é óbvio ululante que dessa vez meu ego não teve nada a ver com o despedaçar de nada. E ainda escapa do estômago uma verdadeira ânsia, que veio do desgosto absurdo de como o tempo transforma tudo ao nosso favor na época em que não são mais nossas. Época em que toda vontade inexiste. Mas, voltando a parte do "purgatório": eu tentei, meu Deus, como estou tentando!

Dienstag, Juli 01, 2008

Como o Dimmy já dizia:

" Vou ter que voltar a cheirar clorofórmio!"


E a minha vida se precipitou diante de mim. Virou-se e deu um sorriso de quem já foi tarde. Arrastando-me, tentei alcançá-la, mas ela continuava sem mim, como se em todo meu esforço-fracasso ela necessitasse encontrar outra que fizesse sentido ao seu nome: Vida.
Quando olhei para trás, todos punham a mão na cabeça e diziam: " Meu Deus, era a sua vida, menina....Era a sua vida!". Todos eles esperavam que eu fizesse algo a respeito, mas havia mais abnegação do que vontade em mim.




Fica o poema que foi recomendação da Lyanna:

"Não tem nome de amor. Nem se parece a mim. Como pode ser isso? Ser tenro, marulhoso. Dançarino e novo, ter nome de ninguém. E preferir ausência e desconforto .Para guardar no eterno o coração do outro. "

Hilda Hilst

Dienstag, Juni 17, 2008

" Se eu morresse amanhã..."

E ficam todos os lamentos possíveis e impossíveis diante de tanta falta de consideração comigo mesma. Confesso que desta vez fui longe demais na trilha de malefícios do monóxido de carbono e confesso também que estou implorando ao Senhor por alguma esperança ou chance de vida e ainda assim uma qualidade nela.

Mas se não...

" Foi poeta, sonhou e amou em vida!"

Donnerstag, Juni 05, 2008

" A má influência dos signos do zodíaco...."

As lágrimas fazem cócegas nas pálpebras e eu simplesmente não sei o que fazer. E isso é perfeito, já que eu não vou juntar meia dúzia de insultos para sair atirando na cara do primeiro que aparecer. Agora meu ego se conforma com um "está bem, está bem", ou ainda, alguma frase sem sentido mas cheia de ironias.
A cabeça dói a cada manifestação do grande ego. Eu não aguento mais - juro que não...- meu grande ego que mais se parece com um polvo cheio de tentáculos a agarrar tudo que vê pela frente. Eu queria estar tão calma quanto aparento, e queria que os dois olhos tristes fossem prenúncio ou reflexo de algo semelhante a "tristeza pacífica". Agradecimentos à boca por não se manifestar diante de tanta inércia e preguiça e ao estômago, por aguentar tanta miséria.

Sonntag, Juni 01, 2008

Algumas explicações ao Paulo Victor...

...A arrogância-pedantismo foram tantas para com ele que talvez um post não cure...



1º - O "te amo, mas não muito" foi só uma tentativa malograda do meu ego se estabilizar. Vai ver que eu te amo tanto que estou brigando com o meu 'eu' para não amar sei lá pelo quê.

2º - É claro que eu sei que você me ama muito, "mas do que a mim mesmo", como você sempre diz, e eu também não necessito de milhões de "eu te amo" para poder entender ou subentender isso. E nem qualquer declaração do mesmo tipo direcionado de ou a outra pessoa me faz duvidar deste fato. Acontece que às vezes me dão uns ataques de ser humano e eu chego a acreditar que estou morta de ciúmes, entretanto, para quê ciúmes se está tudo subentendido?

3º- Eu acredito em você, mesmo.


Desculpas:

- Por ser tão egocêntrica e não dar sempre a atenção que você merece.
- Por te ligar bêbada e pela madrugada.
- Por ser tão pedante ao ponto de fazer você querer me impressionar sempre.
- Por não reconhecer sempre - eu tento...- seus esforços para me impressionar e sempre desdenhar disso.



Eu também amo você...Tanto ou mais do que você me ama, bobo.

Mittwoch, Mai 28, 2008

Tanta gentileza...

E se foi. Assim como já estava mais do que subentendido que iria... Eu sabia desde o começo, mas simplesmente não dá para jogar a toalha. Cheguei a conclusão que nessa vida não conseguimos nem ao menos desistir, pois é ciclo e não depende de nós.
Sim, eu via todas as vezes o seu rosto desgastado implorando para entender-me - só Deus sabe como eu tentava explicar...- mas na minha frieza era apenas desgate das leituras ou do trabalho. É, você também sempre soube que eu era mais matéria do que sentimento. Sabia, mas queria tentar. E foi tão, mas tão lindo seus esforços tão preciosos a cada momento comigo. Eu pude sentir cada vez que sua voz abaixava humilhada diante de tanto pedantismo, e eu tentava consertar passando as mãos em seus cabelos, entretanto, meu toque não podia pegar minhas palavras no ar e jogá-las de volta às cordas vocais.
Talvez um dia eu me perdoe por tanto sofrimento causado, ou, talvez eu já tenha pago com minha voz sempre embargada pelo choro, o nariz sempre entupido e vermelho e ainda o olhar que retrata todo malogro humano que se possa suportar.
Entende? No fim das contas você está salvo. Pode andar por aí que a sua ferida vai fechar em semanas... Não precisa fazer como eu e fingir que "estou bem, estou bem". É a proporção das coisas, o azar de andar de mãos dadas comigo e a sorte de se libertar de uma vez por todas de tanto desperdício.

Montag, Mai 12, 2008

Mais um círculo não fechado

A indignação emudece qualquer voz que surgiria a partir de minhas cordas vocais. E é melhor assim, do que armar a maior discórdia do mundo por algo que já devia ter sido entendido e enterrado. Talvez eu finalmente entenda que pouco importa o que acontecer daqui para frente, já que o mundo é redondo, círcunlóquio e conseqüentemente volta tudo... Claro que depois de invernos e primaveras, situações atrás não voltam do mesmo jeito que deixamos, entretanto, é bom se acalmar com esse infortúnio.
A cerveja continua descendo amarga, já que na falta dos sentimentos não dá para criar uma metáfora de " como estou engolindo minha própria desgraça". E depois de tanto, tanto penar eu continuo completamente com o olhar mais brando, confuso e inocente do mundo diante de tantas ações e palavras que parecem decentes mas acabam falhando....Como um experimento furado que obviamente nunca dará certo ou ainda assim algum resultado.
Tenho acordado com a sensação de que não há mais nada a se fazer por mim mesma. Rezo para que Deus tenha alguma solução ou ainda aponte para mim e fale " agora sim! agora sim!"; mas talvez não haja planos...Talvez eu seja mesmo um enorme e denso desperdício de tempo. O rosto branco-pálido e o corpo exageradamente magro não me deixa mentir. Tomara que seja apenas resquício de drama adolescente, ou, uma última dor diante da dimensão do que há por vir. Não estou pronta, não desta vez.

Donnerstag, Mai 01, 2008

Único parágrafo

É como se o corpo ganhasse vida, porém, apenas para vagar na estrada. Quando o corpo movimenta-se desse jeito a vontade há muito já não é mais atuante e sim, a natureza dizendo que "vai caminhar sim e ponto final". Deseja-se escrever no escuro, mas os olhos mal enxergam na luz com as lágrimas acumulando. Talvez eu tente aprender braile no desperdício de tempo ou, por puro sarcasmo ou ainda para jogar-me a cara o quanto não se pode medir nada e que sempre que vamos tentar caminhar com as mãos no intuito fracassado de pegar os próprios restos que foram se decompondo pelo caminho. Um parágrafo. Foi o mais longo que escrevi. Talvez seja a única coisa que eu possa ter certeza até o final desse ano. Vocês realmente acharam que a esquizofrenia havia ido embora?!

Maio, maio! Chorar nenhuma lágrima, enquanto o vento tenta espalhar células para alguma salvação.

Montag, April 28, 2008

Então,

mostrar-lhe-ei com quantas desilusões fazem-se cacos de coração.

Sonntag, April 13, 2008

O sábado ensolarado triste

Era um sol escaldante. Termina de fazer a curva com o delineador dos olhos e sai. Pelas ruas, pessoas voltando dos shoppings. Talvez cinema. Talvez, a compra de um novo eletrodoméstico. Tanto faz.
E chega-se ao bar de sempre, cumprimenta-se o dono - freguesa assídua, de chegar ,sentar e o garçom já saber até a marca da cerveja que deve descer - e senta. Uma, duas, 6 cervejas. Ainda é pouco, toma-se muito mais na esperança de se afoguear um pouco. Tira o milésimo Marlboro para fumar, mas o clima lá dentro é tão abafado que tem-se que ir para fora acender o cigarro e fumá-lo.
Falta alguma coisa, todos estão quietos. Aliás, eles são o único grupo jovem dentro do bar. O resto são apenas pessoas mais velhas vindo de suas casas tomar algo e assistir ao futebol, eles devem pensar : "Tão jovens, velhos fígados". E nas ruas, apenas proletários agradecendo por ser sábado. Fora isso, as ruas estavam completamente vazias e quentes.
Tomar banho e conversar com amigos de muito longe, tão longe...longe....longe... Talvez não fossem tão amigos e tão queridos se não estivessem tão longe. Talvez. E acordo no domingo, assim, beijando os ares e sorrindo à janela. O sol chega a ofuscar minha retina. A cidade toda iluminada pelos raios, tão quente. Ficou a promessa de se livrar do Marlboro e de todos os cigarros existentes. A reabilitação nunca dá certo.




Você fez uma ferida enorme... E eu ando com ela por aí. O peito esmigalhado, mil tecidos rasgados. Com o nariz ainda exorbitante, como se fosse sã. O vento bate na ferida e arde, mas cerra-se os dentes e a vida continua a prosseguir. Como se eu não soubesse que o que eu não admito, você sente, de todo coração. E o medo não é da minha reação, mas da tua. Medo de cair de joelhos e rezar por mais manchas do meu batom vermelho.

Dienstag, April 08, 2008

Delirius tremens

Trancou-se no banheiro. Mal fechou a porta e caiu estarrecida naquele azulejo liso. Como conseguiria se reerguer se azulejos são lisos e suas mãos além de não serem aderentes, estavam mortas e trêmulas?
Abraçava as costas com as mãos, mordia os lábios como se estes atos fossem fazer a ansiedade parar. Saiu e jogou-se na cama imensa e desarrumada. Cabelos desgrenhados, banho não tomado e mãos se torcendo. Esfregava seu rosto nos lençóis, mordia-se mas aquilo não passava. Foi quando teve a certeza de que se a bebida não lhe tinha deixado louca, provavelmente a sua falta a deixaria.

Freitag, April 04, 2008

A culpa é toda da Ludy!

- Anaaa! Acha aquela foto sua tomando sorvete?
- Por que?!
- Porque eu ADORO ela!

E lá fui procurar a tal foto, não achei, entretanto, me deparei com um post de muitos meses atrás. Li o post, li o comentário abaixo do post. Os olhos começaram a fica pesados, as graças do rosto a enrubescer... Os lábios se apertaram e logo todos os sintomas de algum sentimentalismo no maior estilo "contra-reforma" desapareceram. Mostrando o post a Ludy:
-Nossa, que lindo! é pra chorar mesmo.
- Eu juro que tentei...
- Ana engraçadinha, humpf.

Donnerstag, April 03, 2008

E a verdade bate na cara

Meu Deus, como fui usada. E usada com um largo sorriso de orelha a orelha e ainda, pedindo por mais, "por favor".

Dienstag, April 01, 2008

O que é um humano?

Babador de ovo estratosférico. Ou, blasè enlatado ou ainda blasè mistificado. A parte do mistificado é porque os outros acreditam que é mas não é, porque não quer ser, só.

Sonntag, März 23, 2008

E fica a certeza de que...

...se eu tivesse o dom de ser mais articulada e abraçar minhas vontades, como quem tem mais fome do que vontade de comer, talvez a sua fuga certa não tivesse sido tão certa e tão rápida. Nem o meu amor iria se desintegrar enquanto caminhava para longe do corpo.
Hoje, além dessa certeza, fica outra de que o que restou foram algumas garrafas como companhia e consolo. O pulmão que agora é cinzeiro e plantação. O rosto que correu para o envelhecimento muito antes do corpo, acompanhando o espírito. As mãos que antes ávidas, agora caem mortas no esforço de qualquer coisa, só reacordam para segurar a caneta, e claro, o corpo cada dia mais magro, e parece que não pára de emagrecer, em uma inanição psicológica.
E não há viajem que pague, ou, faça retornar. Pois, aquilo tudo era como uma garrafa irretornável de plástico, que se deixa beber todo conteúdo e falece em algum monte de detritos. Meu anjo, me perdoe. Se eu conseguisse enfrentar a inércia, você não estaria à procura de algo que nunca mais vai achar e se achar vai durar por tempo ínfimo, e nem eu seria dado como caso perdido pelos psiquiatras, como um ser ineadaptável.


"Teria no lugar do coração uma pedra, ou seus sentimentos estariam secos e murchos para sempre?"

[Trecho de " O Idiota"; Dostoiévski]

Freitag, März 21, 2008

Desarrumando as malas

Porque o carro quebrou no meio da estrada e logo, a viajem foi cancelada. Talvez, porque nada sumiu e eu, apesar de estar olhando fixamente para a porta do elevador, escutava a voz e o pensamento que me levaram a quilômetros de distância. Apertei os olhos, mas certas coisas vemos em lembranças e não em imagens.
Então, sem beira-mar, fui seguindo a direção do bar. É um caminho que eu nunca erro. Bebidas, cigarros e a dor na consciência de ainda não poder controlar os vícios.

Março, março! Chorar todas as lágrimas, enquanto o sol derrete corações.

Donnerstag, März 20, 2008

Arrumando as malas

Indo ao encontro do sol, ruas de paralelepípedo e beira-mar. Quem sabe assim, a minha lembrança suma de uma vez por todas. Hoje eu vi alguém que era como você costumava ser novamente, mas ao invés de observar, meu olhar ficou fixo e duro na porta do elevador. Quando ela se abriu, saí aliviada, como quem escapa de um assalto.
Tudo ficou para trás, isso já não dói tanto quanto antes, aliás, nem dói. Eu costumava abraçar amplamente e com todas as forças o passado, como se fosse o último refúgio, só porque o presente não estava muito bom e o futuro prometia más-novas. Agora, independente do que há por vir, não importa tanto... Quando se passa por tanta coisa assim, quando se é perseguida a vida inteira, quando não há mais o que perder não se sobra nem medo, só nada.
Desejo um feriado doce para todos.


Fevereiro, fevereiro! Será que já chorei todas as lágrimas?

Donnerstag, März 13, 2008

[ ]

E nada sai já que até o silêncio é calado. O peito que nunca explode de mágoa ou saudade, mas não deixa claro o que um ser é para o outro. A rotina que engole o corpo, porém dá orgulho. O corpo que de tão cansado, fica leve e emudece o peito. O cérebro que faz contas, treina memória mas esquece rostos e trejeitos.

Sonntag, März 02, 2008

E o ser humano é...

A Vontade que vira procura. A procura que vira afinidade. A afinidade que vira sentimento. O sentimento que vira boa-aventurança. A boa-aventurança que vira esperança. A esperança que vira ilusão. A ilusão que vira desespero. E o desespero vira vício. O vício vira choro. O choro seca e vem a indiferença, e esta varre o espírito.
A única vez que criei coragem e, assim, sorrindo ao digitar no teclado o "eu te amo", fiquei paralisada. Não era medo da resposta, apenas excitação, porque eu sabia que só ia dizer-lhe isso uma vez.
Agora o medo é constante. Eu não posso absolutamente pôr o coração pequenino em suas mãos. Pois, não há coração. Há ainda um resto de algo, como as cinzas que sobram de alguém cremado. Se eu pôr essas cinzas a tua frente, você iria assoprar? E as cinzas poderiam voar para tão longe que eu nem me lembraria de meus restos novamente. Não posso perder meus restos... Seria como renunciar a última chance e quem tem uma chance de sobreviver pula todas as chances de felicidade.
Sabe-se que precisa de maior coragem para atirar do que para servir de alvo. Então, sou por excelência uma covarde. Portanto, fica aqui a afirmação - que eu espero que salve alguma outra cinza - de que se exalte a vivência covarde para poupar rugas, dor, esquizofrenia e tão logo o holocausto maior: tédio.

Donnerstag, Februar 28, 2008

A linha que se cruzou

- Alô?
A voz soou tão presente que tive de olhar para os lados para saber se ele não estava atrás de mim e, ao mesmo tempo, a mesma voz soou passado, do tipo distante. Do que era e estava voltando a ser.
Depois de tanto malogro literalmente comprado e inalado, pareceu-me que tinha restado ainda algo daquele ser humano. A surpresa veio no estado inteiro em que se encontrava e meus ouvidos que naquele instante estavam substituindo meus olhos - os mesmo olhos que resplandeciam no escuro - formava a última das imagens.
Foi então que a massa cinzenta mandou uma mensagem: " Eu lembro..." Tentando formar uma frase, porém constrangida. Pois, eu me lembro dos ematomas, o corpo sem banho, os cabelos multicolores e desgrenhados e a roupa que parecia ter vindo de alguma caridade. Lembro e não gosto. Dá piedade e a piedade é um sentimento muito doce para se afundar no meu estômago ácido e irônico.
A conversa telefônica estava fora de sintonia. Parecia mais uma linha que se cruzou e tentava desfazer a trombada. Os olhos percorriam o exterior da janela brilhante de sol, procurando algo a ser comentado e as mãos se retorciam no conflito da decisão para a resposta. As cordas vocais vacilavam e a língua conseqüentemente enrolou-se.
- Não posso ver-lhe, minha garganta dói.
Se pudesse dizer que simplesmente a misantropia estourara a sua conta nos últimos meses...Mas o problema maior era o outro lado conseguir decifrar nas entrelinhas que não havia abraço ou melhora que pudesse estapear Newton e quebrar a inércia e ócio.
- É a garganta que dói?
Foi quando entendi que tudo no mundo era dor, tão dolorido que só havia remédio e cura para dor e não para a inadaptação.

Dienstag, Februar 26, 2008

Como eu quero?

Sentar no parque e balançar as perninhas finas e brancas do lado de não sei quem, ou, em uma praça de alimentação de Shopping, com muita batata frita e chicletes. O sacrifício? Apenas criar outra personalidade, que não seja Felluina, nem Ana e nem Carol.
Usar a si mesmo na espera de que algo mude se você mudar, construir castelos em ares rarefeitos... Almejar alguém que não tenha - também - o fígado e o pulmão estragados e mais ainda, que não tenha o estômago tão ácido. Deixar as maquiagens e as rendas que deixavam os garotos tão elétricos e optar por algo cristalino. E agora eu pergunto, com todas as forças, se isso diminuirá ou não a desgraça, se essa é a luz que eu tento abraçar no fundo do poço. E que a esperança seja de não ficar com os braços vazios novamente, ou apenas mais uma vez entre tantas que virão.

Samstag, Februar 23, 2008

Down in the ocean....

A sensação é de sufocamento. Puxa-se o ar e só vem monóxido de carbono, tento apertar o coração com as mãos pequeninas mas só piora quando eu vejo que está algo vazio preenchido por sujeira.
Meu corpo se esvaziou e está repleto de doenças e chagas. A língua que empurra a saliva pra dentro, e a saliva volta em forma de catarro e nem ao menos é um catarro verde desses de gripes...É catarro translúcido que vem de prenúncio de como se deixa chegar a aquele ponto.
E o mesmo sufocamento cala as palavras de desgraça, antes tão pronunciadas com altivez e vivacidade e que agora desaparecem como se desaparecer não fosse o esforço, mas sim o existir. Hoje eu acordei muito lúcida, não como se estivesse para morrer, mas como se nunca tivesse existido.

Freitag, Februar 15, 2008

Meus oito anos

Nenhuma saudade tenho
Dos tempos que não mais voltam
E piores hão de vir

A infância ou vida
Pêndulo miserável
A tilintar de lado a outro

E passam de hora
E escorrem os meses
Já sinto o bafo quente da indesejada
Porque o hálito frio...foi a vida.

Freitag, Januar 25, 2008

Estamos sempre fugindo de casa

...Sobre como eu diminuo até cair ou desaparecer...


Era mais um dia nublado, poderia ser sol ou meio-termo, já não importava muito. Abrir os olhos que resplandeceram a noite toda e bocejar com a boca mais amarga da face existente. Anteontem e ontem eu era só a garota mais deprimida do mundo, hoje sou apenas um holocausto. O holocausto de 1,58m, rosto pálido de fazer-se internar e grande sarcasmo, que não serviu de muita coisa até agora.
Encontra-se ainda amigos existentes na rua, na escola e na internet. Porém, de que adianta ter amigos quando não se pode apreciá-los?! Foi assim que eu aprendi a vê-los de longe, crescerem sem mim. Nunca fui de afundar, não precisava, afundaram-me por mim. Não é assim que se empurra com a barriga os anos a fio? A dona de casa a lavar louças, o empresário teclando no laptop até ter uma tendinite e ainda um operário a perder um membro e ainda conseguir no maior malabarismo alimentar seus 728 filhos.
Os dedos aflitos tentam ainda em vão substituir a boca amarga e a voz que vem de muito longe... Voz que não diz, voz de medo, na verdade, era para ser uma grande voz de perdão mas narcisismo serve para isso, para não nos deixar por baixo quando estamos realmente por baixo. Então, os dedos batem devagar as teclas na certeza de que se salvará ainda alguma parte pelo nada. Os olhos enormes olham ao redor, tão medrosos e suplicantes! Dedos não dizem o que a alma ordena, quando se perde a própria essência então a coisa toma proporções maiores. Não passo de muitos nervos, alguns os remédios, lamentações e a esquizofrenia destruíram.
Tudo em ordem. Na vida, eu nunca chuto o olho da pessoa ao qual eu rio sem vontade. Isso não faz diferença quando se é indiferente, entretanto, quando não se têm mais nada a perder...Bem, quando não se têm mais nada a perder é melhor dormir, o sono tenta enganar o choro, as lágrimas ficam em poças na fronha do travesseiro... E o nome...Qual era mesmo o meu nome?

Sonntag, Januar 20, 2008

E de tudo...

Não sobrou nada além da veia ferida pelos medicamentos, o estômago que virou um poço de acidez fazendo a pepsina se sentir inútil e uma certeza única, essencial, infelizmente essencial porque sustenta todo resto.
No hospital foi difícil. Dias deitada naquela cama eletrônica e ficava brincando com o controle remoto dela. O calor insuportável que nem o ar condicionado ponderava, o pescoço escorrendo, mas o rosto...O rosto era o mesmo, porém mudado. Estava tão branco e tão inocente como se tivesse 10 anos novamente. Eu estava envelhecendo dentro daquele quarto, menos meu rosto.
A camisola rosinha de gatinho talvez tenha ajudado ao fato das enfermeiras acharem que eu era da pediatria. Já nas últimas, quando o braço já estava inchado, mas inchado de não se aguentar mais, eu chorei. Chorei como há anos não fazia, porque normalmente meu choro se baseia em olhos marejados e em lágrimas retidas. Uma vez me disseram que quando eu choro o mundo pára para assistir, como uma peça de teatro. Dito e feito, a enfermeira ficou tão cheia de piedade que tirou o catéter do meu braço inchado.
Depois do calvário, a redenção. E a volta para casa, a cidade maravilhosa que na verdade é tão cinza quanto a nossa vizinha São Paulo, estava me esperando. Monóxido de carbono, estômago ardido, esquizofrenia, mentiras, olheiras, palidez e sofrimento. Eu sou um holocausto.

Montag, Januar 07, 2008

E os olhos resplandeceram imensos

Aquela tarde seria o total, ela sabia. Não passava em sua massa encefálica nem a provável idéia de desistir, era fato e conseqüência certos. Andara tanto pelas ruas, subidas e descidas atrás daquela coisinha que talvez nem espalhasse pelo seu sangue, mas todo esforço era válido.
O quarto negro, as persianas balançantes e o ventilador em seu rosto. O cinzeiro em mãos, a cada trago uma dormência. E como se o tempo não tivesse se movido, já atravessava a porta em direção à rua. O vento batia em seu rosto e olhos, mas ela não sentia seus olhos. Era como se fosse cega, mas enxergasse com algum mecanismo das fibras oculares. Os ombros tão dormentes e nada caídos.
Algum tipo de auto-confiança em restinhos verdes acenderam-se nela. Olhar calmo, confiante, mas não era altivo como outrora. Passeava assim até encontrar seu amigo de infância: short, all star e uma blusa caída nos ombros com as alças do sutiã à mostra.

- Olhe bem para mim. - disse ela.

Ele olhou-a, deu uma leve risada confiante e os dois saíram juntos, completamente verdes e calmos.

Dienstag, Januar 01, 2008

01/01/2008

Depois do encontro, da cerveja e logo depois do porre de tequila e Absolut, sobra a certeza de pelo menos um início de ano novo muito próspero. E do ano anterior sobra as amizades, as músicas e os porres. E se vai - ou já até foi - a inércia e a importância que certas coisas devidamente não têm e insistem em se fazer presentes. A presença que se funde na esperança de cada minuto por cada palavra. Palavras que não necessariamente o tempo leva, mas a própria vontade de ter como o dito que não foi dito, mas foi e só porque não é mais não quer dizer que se perca em tempo ou espaço.
Para os que não puderam estar com os amigos se divertindo ou simplesmente acharam que não havia nada a comemorar que saibam que deixar para trás não só os próprios erros mas também os erros alheios já é um grande passo. Felicidade e sucesso para todos aqueles que merecem meus cumprimentos.



"Não há porque chorar por um amor que já morreu,
Deixa pra lá, eu vou, adeus.
Meu coração já se cansou de falsidade"

Los Hermanos.