Donnerstag, Februar 28, 2008

A linha que se cruzou

- Alô?
A voz soou tão presente que tive de olhar para os lados para saber se ele não estava atrás de mim e, ao mesmo tempo, a mesma voz soou passado, do tipo distante. Do que era e estava voltando a ser.
Depois de tanto malogro literalmente comprado e inalado, pareceu-me que tinha restado ainda algo daquele ser humano. A surpresa veio no estado inteiro em que se encontrava e meus ouvidos que naquele instante estavam substituindo meus olhos - os mesmo olhos que resplandeciam no escuro - formava a última das imagens.
Foi então que a massa cinzenta mandou uma mensagem: " Eu lembro..." Tentando formar uma frase, porém constrangida. Pois, eu me lembro dos ematomas, o corpo sem banho, os cabelos multicolores e desgrenhados e a roupa que parecia ter vindo de alguma caridade. Lembro e não gosto. Dá piedade e a piedade é um sentimento muito doce para se afundar no meu estômago ácido e irônico.
A conversa telefônica estava fora de sintonia. Parecia mais uma linha que se cruzou e tentava desfazer a trombada. Os olhos percorriam o exterior da janela brilhante de sol, procurando algo a ser comentado e as mãos se retorciam no conflito da decisão para a resposta. As cordas vocais vacilavam e a língua conseqüentemente enrolou-se.
- Não posso ver-lhe, minha garganta dói.
Se pudesse dizer que simplesmente a misantropia estourara a sua conta nos últimos meses...Mas o problema maior era o outro lado conseguir decifrar nas entrelinhas que não havia abraço ou melhora que pudesse estapear Newton e quebrar a inércia e ócio.
- É a garganta que dói?
Foi quando entendi que tudo no mundo era dor, tão dolorido que só havia remédio e cura para dor e não para a inadaptação.

Dienstag, Februar 26, 2008

Como eu quero?

Sentar no parque e balançar as perninhas finas e brancas do lado de não sei quem, ou, em uma praça de alimentação de Shopping, com muita batata frita e chicletes. O sacrifício? Apenas criar outra personalidade, que não seja Felluina, nem Ana e nem Carol.
Usar a si mesmo na espera de que algo mude se você mudar, construir castelos em ares rarefeitos... Almejar alguém que não tenha - também - o fígado e o pulmão estragados e mais ainda, que não tenha o estômago tão ácido. Deixar as maquiagens e as rendas que deixavam os garotos tão elétricos e optar por algo cristalino. E agora eu pergunto, com todas as forças, se isso diminuirá ou não a desgraça, se essa é a luz que eu tento abraçar no fundo do poço. E que a esperança seja de não ficar com os braços vazios novamente, ou apenas mais uma vez entre tantas que virão.

Samstag, Februar 23, 2008

Down in the ocean....

A sensação é de sufocamento. Puxa-se o ar e só vem monóxido de carbono, tento apertar o coração com as mãos pequeninas mas só piora quando eu vejo que está algo vazio preenchido por sujeira.
Meu corpo se esvaziou e está repleto de doenças e chagas. A língua que empurra a saliva pra dentro, e a saliva volta em forma de catarro e nem ao menos é um catarro verde desses de gripes...É catarro translúcido que vem de prenúncio de como se deixa chegar a aquele ponto.
E o mesmo sufocamento cala as palavras de desgraça, antes tão pronunciadas com altivez e vivacidade e que agora desaparecem como se desaparecer não fosse o esforço, mas sim o existir. Hoje eu acordei muito lúcida, não como se estivesse para morrer, mas como se nunca tivesse existido.

Freitag, Februar 15, 2008

Meus oito anos

Nenhuma saudade tenho
Dos tempos que não mais voltam
E piores hão de vir

A infância ou vida
Pêndulo miserável
A tilintar de lado a outro

E passam de hora
E escorrem os meses
Já sinto o bafo quente da indesejada
Porque o hálito frio...foi a vida.