Dienstag, Dezember 29, 2009

Choose life

Balançava as pernas sentada naquele imenso concreto. Os carros passavam com tanta velocidade ali embaixo que ela não conseguia escolher mentalmente uma cor e contar. Começava "hmm, vermelho!", e lá se ia o vermelho tão rapidamente fugindo de suas contas. Na verdade ela não sabia se os carros eram rápidos demais ou se estava inerte novamente. As pessoas olhavam para cima com certa apreensão, afinal de contas o que aquela magrela-pálida com uns cabelos tão compridos estava fazendo sentada como se estivesse à beira da morte lá em cima? Olhavam, se perguntavam e desistiam. Sabiam do que se tratava e corriam com medo daquele pequeno zumbi quase suicida.
Um cigarro. Um cigarro a cada cinco minutos. Mas a duração de um cigarro não é de cinco minutos? Um cigarro a cada fim, então. E nem chegavam a terminar completamente, dava agonia de vê-los assim tão no fim e ter um novo inteirinho esperando. Quando o maço acabava ela fumava o último até a guimba não dar mais conta. Cansou da tentativa vã de contar os carros e foi ao parque. Uma nojeira. Havia sujeira por toda a parte e umas prostitutas imundas que usavam Leite de Rosas como desodorante, aquilo realmente fedia. Tirou do bolso o papelote, não precisou de nenhum canudo: sobrara pouco, o suficiente para uma cheirada. E de repente o nariz respirava aquele granulado amargo, o fundo das narinas ardiam, a cabeça pendia para todos os lados. Cinco minutos de paz. Achava engraçado essa coisa de cinco minutos, eram cinco minutos para tudo, como podia? Levantou-se, folhas por todo chão, restos de lanches, guimbas de cigarro: acendeu o seu. Caminhou calmamente para o bar, as pessoas focavam o seu rosto, parecia que elas sabiam o que se passava. Era tão bom andar com aquela leveza que migrava para superioridade, de certa forma era bom que aquelas pessoas a focassem também, holofotes (mesmo holofotes de desgraça, de miséria) sempre eram bons.
"Uma cerveja, ?", o dono do bar já sabia o que ela iria pedir, afinal de contas eram dez anos pedindo o mesmo quando entrava lá. Mal sentou e sua amiga a sacudia.
- Você é louca, . Louca de doer.
- De doer? Esse epíteto é novo!
- Você vai morrer.
- Besteira, besteirinha, "lá lá lá this charming man"...
- Você já morreu. Sinto que você não tem mais escolha e não digo em relação ao que está pensando.
- Aé...?!
- É a resignação, antes o que te explodia era a dignidade: você ficava furiosa e bang!, havia uma explosão, uma expulsão de verdades em você. Agora não, você viu tanta coisa por aí que ficou muda. Escolheram para você. Céus, estou tão furiosa com Deus por isso!
Abraçou a amiga como se fosse o último abraço da face da Terra. Eram lágrimas caindo pelo rosto macilento, pelo tecido do vestido da amiga, pelo chão, inundando o bar inteiro. Ela se sentiu imensa. Não pela agrura, pelo malogro, mas pela certeza de que alguém havia entendido que não era culpa dela, que não era culpa de ninguém, mas que não fazia mais tanta diferença, era preciso caminhar e caminhar para lugar nenhum, apenas para longe do sujo. Do sujo que é realmente sujo e não da sujeira aparente. Era preciso uma paz que não se mede em palavras, era preciso morrer compreendida.

Sonntag, Dezember 27, 2009

Eu disse que ia rolar anácrise, eu disse!

Anácrise: Métodos que provocam o dialógico obscuro de uma pessoa, era muito usado por Sócrates junto com a síncrise.

Igor: "Nome no diminutivo, noites gauchenses. A pessoa já me imagina de camisa pólo listrada preta e branca, calça jeans apertada, barba bem feita e nessas boates de veados. Final da picada, senhorita Ribeiro."

Zwei Minuten dann...

Igor: "Merece umas palmadas."


Bah, Sócrates!, morra de inveja, sério.

Anácrise

Eu sobre Herr Salton (vulgo Betinho Vargas nas noites gauchenses):

"Igor, você não é bom em contar piadas, sério, desiste. Você só nasceu para contar como D. Pedro proclamou a Independência."

Observação: Ele é aluno bem nascido de História na PUC-RS.

Samstag, Dezember 26, 2009

Ao Caio, meu benzão

Antes de partir o ano eu tinha que te escrever, meu bem. Te dei um puta pontapé no meio do traseiro, eu sei, mas eu não percebi que tinha dado. Foi assim: acordei e de repente era eu, tão-somente eu, nada daquilo de acordar e não ser mais o que era. Eu era e estou sendo. E vou ser por um bom tempo e dentro dessa "desagregação de consciência" - como diria Bakhtin - você sobrou num canto tão esquecido que eu nem posso citá-lo aqui, porque não sei mais o nome, porque assim como um pai que perde o filho não tem adjetivo essa crise que nos embala também não tem.
O problema é que eu não tenho mais do que reclamar, passei assim pela vida imparcialmente, apertando a mão de todas as dores (elas eram tão belas!), sorrindo, etcétera. Só não cantei, porque a vida não toca mais nenhuma música para mim. Não, espere, não me interprete errado. Nada a ver com tristeza, nada disso, só que não toca mais e ponto, nada de choro, nada de vazios, nada dramático, nada de Édipo. Sobra muita beleza nessa vida sem música. Mentira, estou mentindo. Não sobrou beleza, é que não é essa beleza que eu e você estávamos acostumados, é uma beleza mais acinzentada, mais prática, que preenche os buracos mais rápido e por isso foi minha redenção.
Acabou que fiquei que nem você "barquinho na correnteza..." e a correnteza ficou até leve, calma, cheia de equilíbrio. Tudo agora está em sépia, eu não paro tanto para olhar cada esquina desse centro, eu nem acendo mais cigarros. Aliás, meu copo de pinga se perdeu, eu esqueci até como ela ardia na minha garganta e o hálito ficava puro álcool etílico, uma beleza. Daí, eu acendia outro cigarro (normalmente de filtro vermelho) e citava alguma coisa que você tinha escrito. E você não me escreve mais, é, você é quem não me escreve mais. Você agora escreve para eles, eles que me deixaram assim: imparcial. Droga, Caio!, você está me traindo. Eu devia saber que você é uma bicha louca que ia se perder nos braços dos ex-amores-de-minha-vida e ia me dar as costas. Agora você sussurra no ouvido deles e faz de mim uma zombie. "Eu não quero ser a zombie de ninguém.", a Atália dizia pro Manolo em Jogo da Amarelinha.
Está bem, tut mir leid. Eu sei que você nunca fez por mal, você só molda a minha imagem, você é todo eu, não é Caio? Dos seus anseios de sonhos até a sua morte de mártir. Você se lembra de quando eu sonhava pesado? Eu sempre falava antes de dormir "manchmal träume ich schwer" e dormia meio chorando, meio sorrindo. O choro era por auto-comiseração, o sorriso pela fé que me fazia dançar entre os sonhos. Eu abracei meus sonhos, aliás, eu caminhei até eles, joguei minha bolsa no chão e abracei meus sonhos. Eles não se despedaçaram nos meus braços como costumavam fazer. Eles me abraçaram também e estava sol. Caio, da última vez que eu sonhei pesado eu estava naquela terra, naquele lugar, naquela cama abraçada com meu sonho. Ainda espero você por aqui, assim, de coração vazio mas esperando. Eu sempre vou estar esperando você aqui sentada nesse banco de praça, e vou ficar olhando para você com vontade de dizer tanta coisa, mais tanta coisa que vou ficar só te olhando. Vou me lembrar de "como você me dói de vez em quando!"

Auf wiederhören,
Ana.

Samstag, Dezember 19, 2009

Grande Ego (cara de pau) x Igor Salton II

Igor: Vou me dedicar aos russos também.
Ana: Quais russos?
Igor: Tolstói, Gorky, Dostoiévski...
Ana: É Gorki.
Igor: Tanto faz a grafia do nome, irrelevante...
Ana: Uma ova.
Igor: A senhorita está muito exigente para quem achava que Barcelona situava-se na Itália. rs
Ana: Eu por acaso errei a grafia de Barcelona?

Freitag, Dezember 18, 2009

Grande Ego x Igor Salton

Igor: Toda empolgada com o alemão...
Ana: Tôu dando super que certo no alemão, espera quando eu aprender servo-croata!
Igor: Vai fazer o quê?
Ana: Me benzer!, a inveja alheia não vai caber em meus 1,58m.

Sonntag, Dezember 13, 2009

Ao meu bem

Você fica realmente muito bonito rodando, é uma das poucas coisas de que lembro daquela praça cinzenta que ficou mais cinzenta porque era noite. E você já me disse, redisse, remoeu até não aguentar mais que eu tenho que ir embora, "du musst gehen, Ana!", tudo isso. Eu sei que eu já deveria ter ido, eu forço passos como um paraplégico para que eu finalmente vá e não vou. De que adianta eu ir, não ligar mais, não amar mais se eu vou ficar aí para sempre, às vezes você é mais do que burro, você é burro-orgulhoso e eu sempre te digo e mo digo. E nem há muito o que fazer por nós, estamos sempre chorando, longe ou perto. Ou você realmente acha que eu não vi seu rosto vermelho inflamando de dor cada vez que olhava para o relógio e eu dizia "vou ter que ir, vou ter que ir."? Só Deus sabe o esforço que você fez para não chorar e pior: olhar nos meus olhos e não chorar. Acho que você se afundava no sofá-fofo-marrom e chorava o que podia enquanto eu acendia o meu Camel na janela. Também foi bonito você chorando-rindo quando eu me atirei pra você, você não faz idéia de como o seu sorriso rasgou o rosto e iluminou tudo e poderia não haver mais nada, nem mais cerveja, nem mais Camel e nem mais brigas dentro do táxi. Aliás, acho que você odeia táxis e nem é uma questão de pão-durisse, é porque nós ficamos mais filmes ainda dentro de um táxi. O meu problema com você é que eu xingo, grito e choro demais contigo; você também, mas você grita nas piores horas e às vezes nem é preciso que grite para mostrar a imensidão da sua grosseria, mas você é tão lindo e sorri tão imenso que eu até perdôo. Está vendo? Consegui achar bondade em mim, bem ou mal me tornei imensa igual a ti. Não, não há o que fazer por nós, mas você tem idéia de que estamos destruídos, não é? Que não tem mais volta e pode achar qualquer um ou uma em qualquer esquina: estamos destruídos. E você não vai sarar, droga!, não seja burro ao ponto de não saber que não vai sarar. Acho que você continua comendo aspartame, e todo mundo te ama assim: fenilcetonúrico abastado de aspartame. Acho que para as pessoas é muito mais jogo você ser retardado, mas eu te vejo imenso e sorrindo e chorando. E vejo o sofá-fofo-marrom e está com meu cheiro. Você tem que se mudar daí, tem que parar de ser imenso, aliás não preciso pedir para parar de ser imenso, eu sei que você só mostra a faceta imensa comigo. Com o resto você é todo e tão-só aspartame. Então, que que eu vou dizer ao Caio?

Montag, Dezember 07, 2009

The Scientist

Come up to meet you, tell you I'm sorry.
- Alô? Então, até semana que vem novamente.
You don't know how lovely you are...
- Você faz falta tremenda por aqui, garota.
I had to find you, tell you I need you...and tell you I set you apart...
- Eu tinha certeza disso. Deixei a maior parte de mim aí.
Tell me your secrets and ask me your questions...
- Aqui está muito vazio, é cliché, mas está.
..oh let's go back to the start...
- Mais alguns dias, só mais alguns dias. Espera.
Running in circles, coming in tails...
- Vem, venha para cá, meu amor...
Heads on science apart...
- Alô?
Nobody said it was easy...
- O que é, garota? O-que-é? humpf.
It's such a shame for us apart...
- Eu não te amo, entenda.
Nobody said it was easy...
- Isso é uma puta! mentira.
No one ever said it would this hard...
- Não amo e ponto.
- Ama...
-(pausa, respira fundo) Não amo!
Oh take me back to the start...

Parafraseando o Fê

Aproveitando que eu passei a madrugada inteira escutando "A Tabacaria" junto com a Cristal:


Come, pequena.
Come chocolates.
E alimenta esse mocotó.

Freitag, Dezember 04, 2009

Passando pelas semanas

Gosto amargo de Marlboro na boca, ventos típicos da UFF - que me fazem ficar descabelada e com o cabelo cheio de pequenas plantas e flores - e uma força que sei lá de onde vem. Foi fundamental, por exemplo, ontem, quando eu chorava chorava e minhas bochechas e meu nariz e meus olhos ficaram enormes e vermelhos. Ninguém em volta parecia saber do que se tratava, por que a garotinha de trancinhas estava explodindo em choro. Acontece que há momentos na vida (e são muitos) que se tem a solidão perto demais, a ponto de eu me envolver com meus próprios braços na avidez de um abraço; às vezes fecho os olhos e finjo que me reproduzi num ser compatível que sabe que vou muito além das interpretações de Bakhtin ou Benjamin.
Os dias têm me dado realmente muito medo. Em um me encontro perdida no meio da rua pedindo carona a estranhos, sem saber muito bem para onde ir. Noutro, chove chove chove. Mas chove tanto que eu aperto os olhos tentando fazer contato com Deus para que ele pare, que eu já aprendi, que não é bonito e que eu estou ensopada e com frio. Ele não tem escutado. Eu não o culpo. Consigo pegar o ônibus, comer meu temaki em paz e pisar em casa: estão todos muito tristes. No fundo da bolsa estão minhas passagens ensopadas que eu já nem lembrava mais. Meu sonho ensopado, Deus finalmente me escuta e é doce e delicado. Acendo mais um Marlboro.

Freitag, November 06, 2009

Junkiehead

.




"...pois fora daqui não há mais ninguém capaz de nos receber e de nos entender." (Calvino)

Sonntag, November 01, 2009

Heute hier, morgen dort

Hannes Wader é um cantor fofíssimo que eu descobri no meio da aula de Deutsch II. Uma fofura que só, djugudjugu, essas coisas. O Paul ( amigo-fofura-nhéin-nhéin-da-Ana) me mandou hoje por scrap o vídeo da música e poultz!, ao invés de chorar, abri um sorriso que deve ter me acrescentado rugas, rs. Fica a desculpa ao Paul pela maioria dos meus posts serem em português (ele é holandês). Enfim, küss zu Paul! rs.

E como eu não nasci com habilidades que me permitem postar vídeos direto do youtube para cá, fica a dica de música, a qual eu pus em parte aqui no post "Vorbei".



Das man mich kaum vermisst, schon nach tagen
Wenn ich längst wieder anderswo bin,
Stört und kümmert mich nicht, villeicht bleibt mein gesicht
Doch dem ein oder andrem im sinn...

tra lá lá...

Sonntag, Oktober 25, 2009

Lost cause

"People where I come from they survive without feelings or blood. I never could was stoned to death, but I'm still living."
( He cried - Morrissey)


A verdade absoluta sobre mim é que eu sempre fui apaixonada demais pela vida. Desde pequena ficava fazendo mil planos para ela, contando os dias - sim, eu os contava, todos - e tentando reunir forças para que tudo que eu via se concretizasse, saísse do completo abstrato e corresse em minhas veias, em meus olhos. E só Deus sabe o quanto vivi e vivo, vivi até a vida se esgotar, espremi a vida inteira, tirei dela o melhor e o pior; mas o que realmente havia de melhor na vida, infelizmente, não foi reservado a mim. Não, eu não vou repetir pela zilhonésima vez que 'eu sonho pesado', porque já cansou e porque até hoje nunca ninguém entendeu o que eu quis dizer com isso.
Já fazem três anos que moro aqui, ou seja, já fazem três anos que olho muda para a baía toda banhada pelo sol, já fazem três anos que tenho o privilégio de ver o Cristo de braços abertos para mim ( o Cristo é de pedra, mas sei que o abraço é verdadeiro), já fazem três anos que não tenho mais onde pôr os meus livros e que todo canto do quarto, da bolsa e da gaveta estão infestados de tabaco. Já fazem três anos também que eu não remôo quatro anos atrás, no meio da rua, na porta do hotel em que ele me pediu em namoro - por somente quatro dias - e eu aceitei toda esperançosa, me beliscando, esfregando os olhos para saber que era realidade. Há quatro anos alguém saiu de longe para me ver, alguém confiou quando o peito bateu forte e foi ver do que se tratava aqui no Rio de Janeiro. E ainda relembro ( e remôo...) a brisa, o sol quente, os abraços apertados e o mar, bem quando entrei no mar e era de noite e a praia estava movimentada e eu estava nua.
Mas os anos vão começar a perder os sentidos, tanto os que já foram quanto os que vêm por aí. Porque nos perdemos no que sentimos e no que não sentimos, aliás, o que sentimos vai se reduzir ao sistema nervoso e, convenhamos, o meu já está completamente destruído pelas substâncias que consumi pela vida. Benjamin afirmava isso, que as palavras que comunicam o pensamento constituem apenas uma queda da linguagem que não é mais mimética. Ou seja, nossas palavras estão longe de Deus, do que é verdadeiro, do que está em nós, do que é irrefutável. Ainda uso um complemento de Adorno sobre o facto de que o sujeito é duplicado, fraudado e muito longe daquilo que ele realmente foi ou garantiu ser. Nunca tive escolhas na vida e sinceramente tenho pena de quem as têm. Porque eu faço/fiz o que tenho/tinha que fazer; nunca precisei escolher o certo ( apesar de sempre saber de longe o que é o certo a se fazer).
Deixo aqui a minha profunda piedade pelos que sonham mas não tem a capacidade de enxergar situações e -principalmente! - enxergarem a si próprios e aos que tentaram me fazer sorrir um dia, especificando: muito obrigada ao Arthur por ter me amado da maneira que podia, ao Victor (meu querido namorado) pela paciência e pelo amor tão grande, ao Igor por me envolver carinhosamente na razão antes que eu caia e claro, ao Fabrício por ainda me fazer sonhar pesado.

Samstag, Oktober 24, 2009

Pérola da noite

O Che Lagarto é um barzinho-Hostel muito fofura que eu e o Victor descobrimos ontem em Ipanema. Depois de beber não sei quantas Heinekens e ganhar um copo super chuchu de presente, ir ao Irish Pub do lado me empaturrar de nachos e cerveja mexicana e voltar ao Hostel para fumar um último cigarro eis que me deparo com um grupo de estrangeiros conversando. Uma das meninas, loiríssima de parar o trânsito comentando: " Não, é que eu estava fazendo o café-da-manhã para o meu namorado, daí ele chegou para mim e disse 'você sabe que eu não te amo, né?'" Gente, que que eu tenho que reclamar da vida? Sério, rs.

Mittwoch, Oktober 21, 2009

Vorbei

Kaum ich muss gehen.
hab' mich niemals deswegen beklagt
hab' es selbst so gewählt
Ich habe nie die Jahre gezählt
Nie nach gestern und morgen gefragt.

Manchmal träume ich schwer.
[Was ganz anderes Jahr um Jahr]

Dienstag, Oktober 13, 2009

Arrumando as malas...

E finalmente as escolhas-opções começam a aparecer. Minha unha está azul, "você não vê o azul do mar em mim", Lalá costumava dizer. Cronópio, cronópio, cronópio.

Montag, Oktober 05, 2009

Dissolving into molecules...

"Sei que você acha que eu já deveria ter me endireitado
Obrigado, e morra."
{Something is squeezing my skull - Morrissey}


Porque é bonito demais fazer a maior pose de junkie ou alcólatra no orkut ou em qualquer outro meio de comunicação que alcance uma multidão, mas infelizmente para mim não é uma pose, é uma verdade. Hard truth. O Igor sempre diz 'wannabe junkie', mas isso já é um passado muito distante. Talvez tenha deixado para lá e assim fui saindo, ultrapassando o ponto, o limite. Eu estou fora de mim há algum tempo e só em poucos momentos de lucidez que tenho é que consigo perceber isso. Farta de dias, mas é engraçado como os pés insistem em caminhar, dar dois passinhos de dança, dois pra lá, dois pra cá. A baía hoje está cinza combinando com os olhos de Vater. O coração de mamãe explodiu hoje. O meu está pendendo aqui esquerdo. De certa forma pululante e sorrindo, como se pudesse se reconstituir a qualquer momento. Estou orgulhosa do meu coração e não quero que ele termine como meu fígado: cansado, doente, estuporado. Nem como minha veia do braço esquerdo, toda dura e estourando sempre. Quero um café, o coração de mamãe explodiu.

Mittwoch, September 30, 2009

Das maldades que o Grande Ego faz

Eu zanguei numa cisma, eu sei
Tanta birra é pirraça e só
Que essa teima era eu não vi
E hesitei, fiz o pior
Do amor amuleto que eu fiz
Deixei por aí
Descuidei dele, quase larguei
Quis deixar cair.
[Los Hermanos - Paquetá].


De um dos primeiro dias chuvosos sem álcool na minha vida. Nunca dá certo. Tenho algum post sobrando no meu caderno para pôr aqui. Mas não gosto de nada, enjoei da vida, já disse, ela acostumou. Vontade de arrumar as malas.

Dienstag, September 29, 2009

Tristeza do Cronópio

Na saída do Luna Park um cronópio percebe que
seu relógio atrasa, que seu relógio atrasa, que seu
[relógio.

Tristeza de cronópio diante de uma multidão de famas
mas que sobe Corrientes às onze e vinte e ele,
objeto verde e úmido, caminha às onze e um
[quarto.

Meditação do cronópio: "É tarde, mas menos tarde
[para mim do que para os famas,

para os famas é cinco minutos mais tarde, chegarão
a suas casas mais tarde, se deitarão mais tarde.
Eu tenho um relógio com menos vida, com menos
[casa e menos deitar-me,

eu sou um cronópio infeliz e úmido."

Enquanto toma café no Richmond da Rua Flórida,
o cronópio molha uma torrada com suas lágrimas
[naturais.



{Histórias de cronópios e de famas; Cortázar. p. 113-114. Ed. Civilização Brasileira.}

Samstag, September 26, 2009

É pertimento?

O Waltinho é um querido tão querido que se deu o trabalho de digitar a carta que a Clarice mandou para o Sabino em alguma parte de...1946? Sim, 1946. Não canso de reler a carta. Porque a Clarice me pareceu bem diferente nela. Como o próprio Wal disse " Ana, você está acostumada a ver Clarice em perfil de orkut dessas menininhas ?"; e não é que ele me conhece?rs. Clarice me pareceu tão perdida e marcada quanto Kafka, tão firme nas certezas da dor e das maldades que a vida traz quanto Mann. Enfim, estou bem. De uma paz que não tem tamanho. Sei lá pelo quê, sei lá. Clarice disse para o Sabino que até cortar os defeitos é perigoso, pois até pequenas coisas podem sustentar o que somos; é aí que eu vejo o quanto me compliquei. E o quanto não ligo, porque estou desde não sei quando pulando poças ( como em Hoppipola - Sigur Rós), sorrindo gratuitamente por nada, paz assim que voraz saiu atravessando caminhos, se instalando, se apresentando de forma convincente. Lembro de uns anos atrás, quando eu terminava a garrafa de alguma coisa com álcool e rodava e rodava e procurava afoita alguma grama e me atirava nela; e eu via um mundo azul ou cinzento ( dependendo do dia), minha melhor amiga na época ficava sem entender nada. Eu não entendia como ela não entendia.Tive uma prova fofíssima de deutsch I hoje, não pude tomar sorvete de casquinha ( céus, como isso me lembra Elizabethtown!) pela garganta infeccionada, não pude nem ao menos comemorar meus dois meses de namoro. Lembrei agora que a Ly disse que eu fiquei louca, poxa vida Ly, logo agora que estou saindo da loucura? Logo agora que a vida acostumou, ou melhor, que a vida acostumada já foi e agora deu possibilidades de tudo? Não canso de dançar this charming man, os cabelos vão para a direita, para esquerda, os pés balançam, tudo balança. Como gosto dos Smiths! I would go out tonight, but I haven't got a steach to wear... Talvez eu esteja mais para Àgaetis Byrjun, um bom começo. Abraço apertado aos leitores ( e que me girem até meus olhos se perderem do foco do sol loiro e gotejante).







Post Scriptum: Mein Gott!,como tenho saudade do meu batom vermelho e do meu amor pela Courtney Love.

Donnerstag, September 24, 2009

Sobre alguma lucidez

"Assim, fecharemos o círculo das coisas não acontecidas,
que em nosso ofício, como na vida,
guarda o segredo, o significado mais profundo,
de tudo o que é."
{ Esta história. Baricco}



Estou hoje triste, eu já faço idéia de que isso há muito não é grande coisa, ou grande novidade, mas acordei ao menos. Com o céu mergulhado na baía e nos prédios, todos muito cinzas, daquele cinza branco que me faz sentir em algum livro de Kafka. Estou hoje triste, o céu desistiu de ser cinza-branco-irritante e resolveu ficar de um luto cinza-acinzentado para mim, talvez o céu tenha acordado assim por mim hoje, talvez. O céu acordou assim: chorando, como nunca o vi chorar antes. Pedaços de monóxido de carbono me aguardam por toda a parte, grande reverência ao destino.
Estou hoje triste, de acordar com a garganta doendo não sei como, de acordar febril sei lá pelo quê. De ter prova de alemão daqui há 2 horas e saber tudo sobre können, müssen e o particípio II até dos trennbare verben me soa estranho pela rapidez. Arthur está orgulhoso, Kant bateu palmas, mas Fiódor me pertubou a noite inteira. Só porque em mim nunca houve bondade, e ele dizia " Certamente você tem algum problema, nunca vi alguém ter nobreza e não ter bondade."; eu mo falo sempre. Eu só quero ( como sempre diz a Ly) caminhar sem rasgos nos pés. A certeza de qualquer coisa não traz felicidade, claro, mas a questão não é essa, a questão nunca foi essa.
Estou hoje triste, estou com febre e não entendo. PelamordeDeus, vocês queriam que eu fizesse o quê? Não quero ser a pedra de Drummond e sei que qualquer retirada traz novos caminhos, talvez sem manchas. Eu sempre fui boa com verdades, mas nunca gostei delas. É estranho como não trazem nada de bom. Eu não entendo como só o amor conhece o que é verdade, mas droga!, eu não posso desmentir a carta de Corínthios. Eu não posso fazer nada, estou atada, me rendi. Fui castigada sei lá pelo quê, e bem, não quero que ninguém mais sofra as conseqüências desse castigo. Talvez com isso eu consiga algum perdão, alguma folga, talvez um fígado novo. Talvez mais rasgos pelos pés, não suporto ver ninguém chorar, já nem choro mais. Na verdade, eu nunca soube o que era chorar, nunca me permiti a certas coisas da vida. Será o meu orgulho que fez Jesus ficar tão bravo comigo? Só estou cansada de sair rasgando o destino e ficar tentando puxar o passado, Gatsby morreu por tentar puxar o passado e se eu tiver que morrer de alguma coisa, bem, não vai haver nenhuma novidade quando eu morrer. Eu sinto muito, Mutter. Eu sinto muito, Vater. Eu sinto muito, freunde. Mas todos sabem que caminho dá isso.



A voz canta:

I've waited hours for this
I've made myself so sick
I wish I'd stayed asleep today...

Mittwoch, September 23, 2009

Manchmal träume ich schwer

Eu não entendo como consigo questionar não questionando. De que vale a pergunta se eu não dou a mínima para a resposta? Estou cansada, fim. Nunca vi uma imagem tão plácida do fim, tão simples, tão "só isso, poxa vida?". Eu sonho muito pesado. O mais irônico é que nem é tanta coisa assim, talvez eu seja simples demais e não saiba. Mentira, sei sim e saber nunca foi um diferencial para que eu caminhasse sem fazer questão de dar tropeções por aí. Vê-se alguns pedaços da Ana pelo chão, reconstituídos claro pelo grandiosíssimo-querido-amado Grande Ego. Não andar paralelamente, não aceitar que meu patamar é solitário fez-se criar a ilusão de tudo palpável, de tudo das cores que são. Eu não vejo tudo preto e branco mas vejo de fora. É crueldade demais, não fui eu quem escolhi, droga.

Freitag, September 11, 2009

Com a palavra, o Grande Ego

Ana está brava. Se eu dissesse que ela está triste seria mais cliché, seria mais fácil. Mas ela só está muito brava. Tentei reconhecer os traços de doçura juvenil que todos exaltam nela e não achei, havia muita raiva naquele rosto jovem. E vermelho, de raiva. Ana sempre compactuou com a verdade, por crer que só a verdade liberta, salva. Por aquelas palavras bíblicas que ela ficava repetindo e sorrindo enquanto bebia água, ou lavava a louça, ou acendia um cigarro. Sobre só o amor conhecer o que é a verdade. Se passou longe da verdade era porque não era amor, mas como explicar isso para ela? Desperdício de sentimentos equivale à desperdício de tempo, tempo que usamos para procurar, para preencher, para produzir. E quando tudo o que se produz é raiva, injustiça, tudo toma uma proporção catastrófica e do olhar bovino-esperando-algo migra-se para o olhar de estupefação doentia, e raiva.
Permaneceu com os braços estendidos até que se alcançasse uma infinidade de braços estendidos e talvez todos os braços do mundo estendidos pudessem fazer a diferença. Mas não fizeram. E nem o número de verdades também. Porque você aprendeu com Arthur que o homem mascara pensamentos e não importa o que você diga ou faça porque a realidade é irracional na tentativa do homem provar sua racionalidade. Ana está brava e eu tenho culpa, porque ela nunca vai brilhar mais do que eu. Ela é a pobre-irmã-feia-sem-atributos perto de mim, quem a sauda não a vê, me vê. Ninguém a serve e nem era isso que você queria, não é Ana? Você quis pouco e não foi ouvida, você quis pouco e não recebeu verdades, só amostras de como a realidade não é real. Então, você vai pôr o rosto no sol novamente e esfregar contra o lençol da cama, empurrando o nariz, tentando prender o choro, e adianta? Nunca adiantou. Como aquelas marcas ( você acha que eu esqueci aquelas marcas no braço esquerdo?), que permaneciam e reapareciam por dias a fio, eram apenas para aguentar firme, eu sei. O destino lavrou o seu rosto, como o semblante Almayer, como cerveja entornada no chão com cacos de vidro em volta. E você nunca, nunca vai ter a sua coroa. É um esforço já vão.

Montag, September 07, 2009

Haicais

Também conhecidos como "hai-kais", ficou a vontade do post anterior de postar alguns aqui. No fim da tarde separei alguns sobre o inverno do livro As Quatro Estações, tão lindos:


A mulher abraça
a garrafa de cachaça.
Miserável casaco.

{Jorge Lescano}




O velho casaco
esquecido no cabide.
Frio da ausência.

{ Olinda Marques de Azevedo}



Depois da geada
nas faces do espantalho
lágrimas geladas.

{ Roberto Saito}


Terminado o livro estou pulando para outro do Caio: " Onde andará Dulce Veiga?"; um dos contos de "Triângulo das águas" ( já lido) vale destaque : O Marinheiro. Algo como encharcar as páginas com as lágrimas de tão triste que é. Talvez porque haja muita realidade e não uma realidade brutal-nua-e-crua-se-assustem. É uma realidade de completude, de 'é assim mesmo, velho' e etc. Depois de tantas dicas só me resta desejar boa leitura, eu disse 'boa leitura'. Não é para se aproveitarem de minha loucura por livros e escritores bons e saírem colando frases e trechos que eu posto deles aqui. Obsessão de ser Ana, que coisa.

Sonntag, September 06, 2009

Novos chuchuzinhos da Ana

Grüss Gott, estou com um dos joelhos estourado por um porre homérico de Heineken ontem. Tudo muito vergonhoso, ressaca moral, a cabeça parece que vai explodir e como diria o Igor: " dignidade, cadê-la?". Also, also... Deixo aqui a foto dos meus dois chuchuzinhos-bilú-bilú-gutchi-gutchi-má-que-coisa-linda:



A capa do Blaue Blume me lembra um clipe do Sigur Rós o qual nem lembro o nome, algo sobre dois meninos homossexuais que se beijam bem no meio do campo de futebol, o pai de um deles sai puxando o filho mega-machão-revoltado-humilhado-perante-a-sociedade, rs. Bonito. Diga-se de passagem que foi presente do Victor (que também atende pela alcunha de meu namorado, rs), os olhos se tornaram duas Vênus quando o vi tirar da mochila o exemplar, que veio de Goiás e demorou quase um mês para chegar. Que vergonha, pleno Rio de Janeiro e ter que importar livro de Goiás ( sem bairrismos, palavra). O Langenscheidt eu ganhei de mutter, tão fofa parcelando em 75 vezes no cartão, ele teve que ser benzido, claro ( aonde vou o olho gordo em cima do pequeno-grande-amarelinho é forte, rs).


Outra coisa: hai-kais, nossa, poemas japoneses sobre a natureza, sabe? A tia- da Marina, Fanny Dupré, escrevia e nossa fui dar uma olhadinha em As quatro estações e, que bonito! Simples descrição de alguma estação do ano na visão de cada um, um chuchu. O Ricardo, also, me emprestou um do Millôr ( depois de eu ter batido pezinho e puxado a barba dele dizendo: trouxe? trouxe?). Então, o livro tem ilustrações e tudo bonitinho, mas falta leveza. Não sou mais adepta da cara de pau ( quer enganar a quem, Ana? - Grande Ego berra aqui), e nem das literaturas beatniks, ainda mais depois que todo mundo virou Bukowski e sabe de tudo do monóxido de carbono, bah, gente intrometida que quer a qualquer custo virar blogueiro-quase-escritor-mega-badalado, mania de comentar as vergonhas alheias, humpf. Enfim, o joelho continua doendo mas o sol com chuva e neblinas lá fora tá bonito demais, ainda bem que estou sóbria ( é milagre, é milagre!).





Donnerstag, August 27, 2009

Black holes and revelations

"Foi assim que vocês todos morreram antes do tempo.
Foi assim que eu não morri."
{ Triângulo das águas; C. F. Abreu}


Ontem foi domingo, dia de missa. Puxei mamãe até a igreja e o altar estava em obra. Queria tirar o peso de sabe-se-que-lá cavou o último buraco em mim, se era buraco ao menos devia haver leveza.
Ontem foi domingo, dia de missa. Guardei o blush e o lápis de olho com um terrível medo cristão de que isso fosse se somar aos meus pecados. O bispo deu um sermão que eu não compreendi, mentira, até compreendi mas toda a virtude ricocheteava vã em algum lugar de mim ou passava direto.
Ontem foi domingo, dia de missa. E o corpo de Cristo foi oferecido aos fiéis, eu não o quis. De repente tudo pareceu muito mecânico, eu estava vazia e queria ver aquela imagem de Jesus crucificado que havia atrás das cortinas de obra. Eu queria me lembrar de como eram todos os estigmas e o rosto firme, cheio de abnegação e amor; queria também me lembrar do que vinha antes do martírio.
Ontem foi domingo, dia de missa. O que vem antes são as palavras e quando me dei conta os olhos lacrimejaram, e eu esqueci o meu nome. O bispo me olhou - " um homem que me olha e não me mata"¹ - , bem na hora em que o coro dizia: " Mas diz uma palavra e serei salvo". Eu recebi tantos pecados e distribui tantos perdões que resolvi reproduzir pecados e deixar o perdão para o rapaz com os braços pregados na cruz.
Ontem foi quarta e não domingo. Eu sou um ser humano e burlo todos os mandamentos divinos. O tempo agora pára nos espaços de hora em que se dão os surtos de lucidez. À minha frente um homem que reza a missa, " que me olha e não me mata", a última coisa entre as coisas boas que um dia ofereci me matou antes. " O amor é bom, não quer o mal, não sente inveja ou se envaidece..."; onde foi que desbotou então? " Um homem que me olha e não me mata", e um sol loiro, gotejante. Lá fora, invadindo a sala.



¹: Trecho de "Oceano Mar", Baricco.

Samstag, August 22, 2009

O verdadeiro fantoche

Texto em homenagem à Edu Levy, grande escritor a quem devo metade ( ou mais) do meu acervo cultural.


Diante de grandes reportagens acerca do vício em internet me veio à tona a verdade pura e simples: ela é apenas uma ferramenta a qual usamos a bel-prazer. Ao contrário de toda a paranóia em que há a confirmação de que ficamos bitolados e até mesmo de que somos controlados pelos meios de comunicação, o fato é totalmente reverso. O vício está completamente presente, no entanto, ele começa com uma simples necessidade de auto-afirmação online, meios em que colocamos fotos nossas que não são nossas, compartilhamos gostos que nem ao menos conhecemos e mantemos vínculos superficiais com pessoas as quais falamos menos que Grüβ Gott!.
Quanto ao caso das fotos, isso já está em níveis de cara de pau. Meninas à beira da obesidade se tornam musas malhadas, quase um corpo esculpido na época da Roma antiga. Quando vemos a versão real, alguma coisa cai em nós - e os homens sabem exatamente do que estou falando, com o perdão da piada-. Com os gostos pessoais então a situação é gritante, se metade das pessoas escutassem Sigur Rós ou Pavement como vejo pelos perfis orkutianos, eu garanto, essas bandas já teriam se apresentado no Citibank Hall ( com o NX Zero fazendo a abertura, digno!).
Sabe-se que isso tudo vai muito além da auto-projeção perfeita de meros mortais flagelados pelo bullying ou pela falta de uma dieta decente. Já vi pessoas fantásticas terem a sua moral e dignidade enlameadas por pura fofoca e má interpretação, e pior, por pessoas que desconhecem qualquer nível de qualidade adjetiva. Outra: já fui endeusada e também tive minha existência questionada; aliás, uns meses atrás fui dada como morta pelo orkut, até meus amigos reais creram em tal fato.
Entretanto, o melhor de tudo são os recalcados com os antigos relacionamentos. Esses rendem risos durante pelo menos o resto da semana ( experiência própria). Aliás, melhores amigos, cuidado!, agora com o orkut não cabem mais a vocês brincarem de disse-me-disse. Quer chamar a atenção do(a) ex? É so atualizar seu profile! E ainda pode escolher se vai xingar, reclamar, dizer quantas vezes o cretino broxou, ou ainda, você pode fingir que amadureceu com o fim do relacionamento e pagar de intelectual com alguma frase do Pessoa. Ou tirar fotos com um amigo gay e trocar o status para commited, "estamos muito felizes, ele me traz bombons todos os dias, danke schön!". Como se pudessem escolher uma Julieta, uma Beatriz; já dizia Cortázar. Defitivamente, nós somos os ventrílocos.

Samstag, August 15, 2009

Müdigkeit

Em homenagem à aula de alemão daqui a pouco, deixo a versão "cansaço" deutschliana para vocês. Passei o mês inteiro falando, olhando e contando navios. Só porque o Dood disse que eles são os olhos do mar, e a associação que eu fiz com um poema do Maiakóvski sobre "as maçãs do rosto do oceano" fez muito sentido. Complementando tinha um enorme sol loiro fazendo uma passarela sépia no meio no mar. Eu concluí que aquilo seria a sua silhueta.
A vida tem cheirado mal e perdeu o sabor. Sabe-se lá pelo quê eu não consigo mais assimilar nada em minha volta que não seja café, álcool, cigarros. E quando acabo de utilizar estes entro em estado de desespero do tipo "só isso?", a vida devia ter algo mais a oferecer, mas não tem. É claro que tem ( minha voz católica sopra aqui ao lado), é uma questão - antes de tudo- de abnegação. Aquela coisa toda do amor pobre, da hybris nunca bem vinda e de ser muito mais fácil ser um santo do que ser um humano. Há um humano querendo gritar dentro de mim, aliás, muitos humanos gritam dentro de mim... No entanto, voltar arrasada por ser espancada por uma multidão é complicado, ainda, os cortes e hematomas mal aparecem, se perdem em algum lugar do corpo e depois formam uma hemorragia ou um câncer. Voltam em forma de Wort ( palavra) e acaba fuzilando outro humano, que mais tarde soma-se aos outros gritando dentro de mim. Último gole no café ( muito aguado por sinal). Auf Wiedersehen.

Samstag, August 01, 2009

Atrás

" Meu Deus, mas como você me dói de vez em quando!"
C. F. Abreu



A diferença não estava mais em entrar no ônibus ou não, avisar ou não, São Paulo ou Curitiba, delineador ou lápis de olho. Os olhos iam terminar inundados de qualquer forma, assim como iria também inundar algo dentro de si, e ela nem sabia bem o que era. Inundou tanto que ela teve que tirar as sandálias e esfregar as plantas dos pés em cada paralelepípedo da rua. Contou as linhas da faixa de pedestre e se perguntou por que o pôr-do-sol era tão mais bonito lá. Era lá que ele estava e ele ficou com tudo, não foi? Ficou com a calma, com o pôr-do-sol e o cheiro de algo que continha vida. Você teve que se conformar com o vapor do monóxido de carbono que queimava as suas narinas, assim como o seu cigarro. Só restou isso e uma enorme expressão nauseada diante do mundo e você nunca ao menos se envergonhou disso.
Talvez por isso você tenha tomado o expresso de um gole só, talvez por isso você queria chorar pelas ruas, pela beleza e não pelo encontro. E você nem o sacudiu ou esbofeteou. Nem abraçou. Você não queria se levantar daquele banquinho tão banquinho, tão branquinho. Era muito feio tudo aquilo, mas ficou bonito porque ele chorou, ele sempre chorou, sua boba. O finalmente abraço foi de tão perfeito encaixe que a natureza tratou de tirar uma foto, vocês deviam tanto uma foto à natureza... Vocês também deviam uma união à ela. E tudo ficou num tatear de mãos pelo rosto, pelo pescoço, pelas nádegas e pernas.
Ficou a certeza drástica do amor, não pelas fantasias mas pelas certezas. Numa linha tênue e paradoxal temos uma visão microscópica de algo sensível, palpável e nunca mutável. E ainda a telescopia de ver muito longe - mas ainda assim enxergando com firmeza - aquilo que realmente é. Sem devaneios ou palpites. Assim ela mordia o alto de seu ombro, não como um gesto amoroso, mas como tentativa de levar aquele pedaço de carne dura consigo, como um belo souvenir. E essa carne tinha gosto de tecido mal passado, salgado ( pelas lágrimas que caíam em cima) e de chegada. Ela queria gritar " covarde!", mas as lágrimas nem demoraram assim como o rancor. Um sorriso, muitos beijos, um perdão de cada lado e certezas, finalmente certezas! Eles sentaram-se sobre o paralelepípedo esperando que um caminhão os atravessasse. Não era morte mórbida, era descobrimento da vida, e de coisas feias que nela também haviam: mentira, desilusão, desamor. Mas nada disso lhes pertencia e esse foi o motivo da morte. Já chegaram ao final da busca, não só isso: morderiam-se, colariam-se em um interminável abraço, copulariam como quadrúpedes e morreriam.
- Chegamos ao fim, meu bem.
- Agora sim.

Mittwoch, Juli 29, 2009

Palmas à Cortázar!

Porque de longe é possível almejar, querer e até tentar trazer para si, mas nunca criar, remendar os maltrapilhos restos humanos e torná-los uma Julieta, uma Beatriz. E o mais fofurinha é que a Julieta dos dias de hoje é uma Atália, uma Maga. Ótimo, posso tirar meu espartilho.

Freitag, Juli 17, 2009

Deu até pena

Jogar frases ao nada como se essas pudessem salvar algo. Como se falar e falar fosse transformar o passado, o que já se foi, em algo que foi realmente importante. Mas não foi. E toda tentativa de tornar isso num encontro-desencontro bonito, cheio de romantismo e amor verdadeiro já caiu por água, aliás, nunca o foi.
A-m-o-r, como se em alguma parte disso houvesse existido, e nem é que não exista, é que não teve e você não se conforma. O pior das pessoas é que elas tentam associar sexo-palavras-bonitas a amor. Tem burrice maior do que essa? Tem, e acreditem, isso envolve soletrar meu nome.

Mittwoch, Juli 08, 2009

Hybris

"Diazepam (that's valium);
Tamazepam... lithium,
...hrt, ect
how long must I stay on this stuff?"
( Something is squeezing my skull - Morrissey)


Em grego a significação fica em torno de excesso, desmedida. Uma das características humanas que eram severamente punidas pelos deuses: Aracne foi punida por Palas Atena por sua soberba, Sísifo pagou no Hades por suas desmedidas em vida. Mas houve aqueles que pagaram muito além do que deviam, aliás do que não deviam. O que percebe-se é que os soberbos pagaram muito aquém do que os altruístas pagaram. Édipo usou-se da razão, desvendou a esfinge e terminou em estado de desgraça inegualável. O sofrimento chegou a tal estado de loucura que arrancou os colchetes do vestido de sua mãe suicida e furou os próprios olhos. A mãe que outrora havia fecundado sem saber que era sua genitora.
Os antigos nos fazem reavaliar os próprios valores, pois se a soberba é punida, mas nem tanto assim e, a racionalidade e altruísmo nos arrastam nos caminhos de mártir, qual bem a graça de ter o mínimo de caráter? Agora compreendo amplamente como seres se desfazem da dignidade como se fosse até um estigma, uma vergonha. Porque ela não leva a nada para quem não compreende o mérito que se tem. Ninguém compreendeu Jesus Cristo quando ele se atirou aos romanos e se deixou ser crucificado. Ninguém decerto aprovou o facto de Aquiles ter preferido ter uma vida curta, seguida da "bela morte" através do combate singular para que se alcançasse finalmente a kléos (honra eterna após a morte).
Porque sempre é melhor doar um amor mais pobre. Desvendar e sentir complexidades nunca foi o forte do ser humano, quer dizer, ele é dotado de complexidade mas não sabe. Basta saber da cadeia de DNA e tantas enzimas, isso é o suficiente. E realmente não precisa ser nada que remeta à calma, é só algo que não faça sacudir os ânimos, berrar com os olhos cheios ou rasgar um sorriso no rosto de maneira que ele não queira sair, e nem saber da onde veio o sorriso. Não se pode mexer com as emoções, não é para isso que elas servem mais. Daí caímos no excesso, louvamos Dioníso, damos um pontapé em Sísifo e agarramos a rocha que ele empurrava. Com tanta vontade e coragem de que vamos fazê-la fincar no alto que chega a causar pena. Tolos, pensamos em todo mártir com resignação, respeito. Nós somos eles, todos.

Dienstag, Juni 30, 2009

Você

Você já acorda com a face banhada em pranto, e fica ora olhando as pernas compridas e magras, ora a janela. E você olha tão densamente a paisagem que acaba por se tornar uma, todos ficam encabulados e sem entender bem o que se passa, como alguém pode manter por tanto tempo esse olhar raso.
Você fecha os dedos no ar para tentar sentir as imagens e termina assustada, amuada e acusada de loucura. Ninguém consegue compreender que realmente não faz sentido e que é preciso tocar para que não se sinta enganado pela vida. Mas é miragem, você chora e quando se comovem trata logo de abrir duas covinhas no rosto cor-de-leite.
Você costumava ser feliz e viver a vida, tão-somente vida, sem mistificação. Você costumava perdoar, você costumava chorar. Você costumava se importar também e enxergar. Você costumava até sorrir, mas não era como um reflexo, era verdadeiro. Eu não sou mais você, porque afinal de contas "eu" ou "você" é quem está com a palavra e permaneço muda. Cega e surda, porque as imagens e sons distorcidos, irreais e controlados pelo Grande Ego também são uma invalidez. Cega, surda, louca, chorosa. Você. Permaneço muda.

Montag, Juni 29, 2009

Parafraseando Camus:

(...)




É preciso imaginar Ana feliz.

Sonntag, Juni 28, 2009

Mutter II

"Mas Jesus me fez, então
Jesus me salve da pena, da compaixão
E das pessoas comentando sobre mim"
( November spawned a monster - Morrissey)



"Olá, mamãe?", foi o que tentei dizer forçando um sorriso, com os pequeninos lábios ainda cobertos de batom e com os cantos feridos pelas bofetadas, mamãe. E quando levei os dedos à boca para secar as gotículas de sangue, pude notar que meus braços outrora tão brancos estavam com grossos ematomas roxos que poderiam ter sido evitados, mas você mal me olhou no rosto, mamãe... Pegou-me pelos braços e as palavras e vírgulas eram na verdade tapas e esmurros, e então eu caí de joelhos, mamãe.E tudo isso contrastando com meu vestido florido já amassado da noite, o sutiã preto rendado por debaixo e o delineador escorrendo me fez ficar triste, te fez ficar triste e todos choramos juntos.
Mas por que seus braços me sacodem desse jeito, mamãe? Pare. Eu não estou entendendo muito bem todas as coisas: dos objetos à seu rosto inflamado de fúria; e não sei se é resquício do whisky barato ou se o mundo agora parece confuso com seus gritos. Eu não queria mamãe, mas não sei muito bem o que não queria, pois não me vem à memória nada de tão vergonhoso ou errado. Ah mamãe...! Vem, assim... Não precisa chorar, eu sei que você não queria, eu sei. Ninguém tem culpa: eu não tenho, você não tem, muito menos Deus... Você sabe que se eu pudesse eu nasceria novamente, mamãe. Roupas decentes, nenhuma tatuagem, fígado e pulmão intactos; eu o faria por você... juro que faria. No entanto, isso seria retroceder e quando voltamos ao passado ele sempre nos esmaga, e eu prefiro sempre a forma mais lenta para decair, mamãe.
Eu lhe dei tudo, mamãe. Sei que não foi nada, porque tudo que há em mim fica para mim e só Deus sabe o quanto é bom eu guardar o que é meu só para mim. Pois isso explica de maneira óbvia porque você não me quer tanto assim. Você algum dia quis? Algum dia... você... poderia?

Montag, Juni 22, 2009

Com o perdão dos clichés

"Manchei o mapa quotidiano
jogando-lhe a tinta de um frasco
e mostrei oblíquas num prato as maçãs do rosto do oceano."
{ Maiakóvski}


Somos pedaços do que um dia iríamos ser. Nietzsche tinha razão em considerar a tragédia uma imitação perfeita da vida, que seria irreversivelmente descontínua. Por isso bradamos com os olhos cheios d'água ao ver uma cena de teatro com aforismos. É exigir demais do nosso organismo emocional essa expansão de sentimentos já tão mortos, mortos? Não... desgostosos mesmo. Quando um alimento sem gosto rola pela boca, cuspimos ou engolimos. E nem conotem de forma positiva: não é a pressa de se livrar, é que não faz mais nada então, rejeitado ele some.
Somos partículas de nada. Me pego, me olho. Grito meu nome. Falo com os transeuntes. Falo mais de uma vez. É como se carne, olhos e voz não fossem nada. É como o mito da raça de ouro de Hesíodo¹ : morremos fartos de dias e mesmo assim continuamos vagando como belos fantasmas. É como arrogância, que migrou para o egocentrismo, que migrou para uma indiferença doce mas ainda assim indiferença.
Esperei demais de mim e superei. Agora nada posso pedir de vocês, o que eu poderia? Já me dei tudo, já fui tudo, já me basto. Uma criancinha balança os gordos bracinhos para o pai: já sei o que me falta, mas perdeu o gosto, enrolou na boca, desceu direto e entupiu o coração.


¹ ver " Os trabalhos e os dias" Hesíodo.

Montag, Juni 15, 2009

Semi-ótica

- Eu te amo.
- Oi?
- Foi bom ter te encontrado.
- Quê?
- Você é linda...
- Oi?
- Eu me casaria com você.
- Quê?
- Eu tenho um problema...
[trago no cigarro]

- Oi?
- Eu tenho um problema.
- Quê?
- Eu-tenho-um-problema!
- Ah, meu bem...

Dienstag, Juni 02, 2009

Mutter

É mamãe, você esperava bem mais. Porque nove meses e um peso de três quilos foram coisas demais para se suportar em vão. E se você pudesse adivinhar dentre os ares tranqüilos que inspirava para dentro que eu não iria, de longe, ficar para sempre com bochechas rosadas e gordas, bem...Você não o faria. Na verdade você nunca o quis. Porque era para ser um menino e nem meu órgão genital correspondeu bem ao que você esperava. Assim como as minhas bochechas que são rosadas, mas de tanto blush.
Ah, mamãe!, você me ensinou os primeiros princípios do capitalismo. Me obrigou a decorar toda a tabuada quando eu só tinha 6 anos. Em troca, eu poderia ver o desenho. Espera, eu só tinha vinte minutos para decorar toda a tabuada e um cérebro inocente e pequeno demais para guardar tanta informação. Mas eu guardei, mamãe. Porque eu não suportaria mais um olhar de desprezo e hoje já me bastam estes que você me lança quando eu volto da rua tão bebum. Papai olha rindo, porque já sabe que não há muito o que se fazer, no entanto, você se sente fracassada diante de um fígado tão inchado. Qualquer um diria que eu sou uma maravilhosa jovem, mamãe. Mesmo a magreza excessiva, os olhos tão distantes e o corpo encharcado de entorpecentes fascinam as pessoas. Mas não contigo, mamãe, pois sempre estive muito aquém de lhe agradar.
Agora você sai da cozinha para fazer sua reza. Não que eu me importe, porque eu também rezo, mamãe. Para Jesus guardar um pouco sua dor para depois e te poupar da humilhação de ter gerado uma junkie. Os filhos das suas amigas não estudam, mas também não se destroem como eu, não é? E a linha entre não ter cérebro e não dar valor à própria existência nem chega a ser tênue. Você poderia, oh Deus...você poderia? Deus... me perdoar?

Donnerstag, Mai 28, 2009

"And now I know how Joan D'Arc felt..."

Finalmente pulamos da estante, compactamos nossos pés em pedaços de caminhos e suspiramos alto. Andamos. As mãos alcançam o coração, que bate através de uma felicidade louca. Felicidade? É incrível, mas ficamos tão desolados e cansados de permanecer sentados na estante que quando damos o primeiro pulo já não nos importamos tanto, a primeira impressão que fica é o alívio. Pés em passos pequenos, mas firmes. A certeza de que todas as tentativas foram malogradas, as situações iníquas e o fim, bem... não é o fim. No fundo, nós não temos o controle incondicional sobre a vida do outro.

Samstag, Mai 23, 2009

Ah, s'il vous plaît!

"Oh you can change your name and bleach your skin
Camouflage your accent so that even you don't recognise it
Because you are one ,because you live and breathe like one..."
{ The Slum Mums - Morrissey)


Porque é uma pilhéria que uma pessoa passe sua juventude tentando através de frases- que não conseguem manter uma vírgula no lugar - me atingir. Já não bastasse a vida ter-lhe pregado pontos de mediocridade por todo o âmago, ainda continua a se humilhar publicamente porque " não é como a Ana, mas não importa", ou ainda, manda recadinhos vulgares-ignaros. É de me causar uma certa piedade até.
Meu bem, sacode esse templo de bolinhos fritos e hambúrgueres que é o seu corpo e finge que está tirando a poeira da desgraça intelectual que se impregnou e não quer mais sair, ou, vá fazer uma lobotomia para ver se como um vegetal desmemoriado você encontra mais serventia no mundo. Saia dessa fossa, nem em um milhão de anos você deixará de ser quem é e photoshop algum esconde, entenda.

Sonntag, Mai 10, 2009

Náusea

"Take a thorn from my pride
And hand in hand we'll take a walk outside..."
{Who feels love? ; Oasis}




Porque um trecho do livro de Sartre me veio à memória e eu não pude deixar de fazer comparações, paralelos e tentar eliminar os mesmos. Estou cansada. E não é desse cansaço que horas dos sonos dos justos esvaem, é mais para desistir mesmo. Aliás, nem desistência, está mais para o fato de eu saber demais o que obviamente leva o ser humano a ser infinitamente infeliz. Não é infelicidade gerada por pessoas ou situações, é todo um conjunto.
Machado mostrava o homem com suas avarezas, Dostoievski mostrava o lado ruim que usava o lado bom como desculpa para algo heróico. Eu simplesmente passo o raio X, que mais prefere se tornar uma partícula gama e passar direto sem olhar, mostrar, demonstrar e refletir. Direto. Mas não passa e eu fico olhando para tudo com grandes olhos de recém-nascido sem muito saber o que fazer. As partículas gama são felizes. Se são feitas de átomos deveria haver algum parentesco conosco, não? É, não posso incluir ninguém nos meus malogros.
Acontece que esse cansaço-náusea-infelicidade advém da minha percepção de como vocês guiam as suas vidas. Sim, ainda é o problema da mentira. Eu não entendo e só Deus sabe o quanto tentei entender. Aliás, fui além tentando fazer a mesma pose, os mesmos gestos, quiçá os mesmos sentimentos; e não funcionou. Não é de todo ruim, mas acontece que não é bom e não leva a lugar algum e se é para chegar a lugar nenhum eu prefiro continuar com o Grande Ego e egocentrismo. Nossos pais sempre nos ensinam a não falar com estranhos. Falamos, pegamos em suas mãos, dormimos com eles, sorrimos à eles e às vezes até chegamos ao matrimônio. Agora entendo, é um aviso para que a geração futura não se assole em marasmos e erros. E continuamos errando, não há saída. Lembro agora de Joseph K. : " Como um cão!"

Freitag, Mai 08, 2009

I need some time in the sunshine...

Vai aqui alguns comentários básicos e aleatórios sobre o show do Oasis, aqui no Rio de Janeiro.


Saí atrasadérrima de casa, tirei o sono rodoviário de uma moça ao meu lado para perguntar onde era a tal Rua da Passagem. Resolvi ligar para Victor:
- Onde você está? Perimetral?
- Mas onde é a Perimetral?
- Rs,rs. Saindo da ponte, Ana... Saindo da ponte.

Dez minutos depois...
- O Flamengo fica antes do Botafogo, não é?
- Infinitamente, droga...

Mais dez minutos:
- Tcharam, cheguei!
- Onde você está?
- Em frente à padaria tal.
- É, meu prédio fica em cima, rs.

Depois de umas cervejas, conseguimos pegar o ônibus. Entretanto, nossas bexigas estavam quase estourando, juro que mais um quebra-molas e minha calça teria que ir para a janela secar... Enfim, saímos do ônibus, fomos à um barzinho, esvaziamos as bexigas e a surpresa: o engarrafamento estava tão intenso que pegamos o mesmo ônibus. Depois de fazer o caminho da Patagônia - a Barra da Tijuca fica tão longe...-, chegamos ao show. Luzes apagam, luzes acendem. Liam Gallagher aparece com o andar marrento-londrino, mascando chicletes. Guitarras e..."I live my life in the city,there's no easy way out..."; o público parecia que ia ter um infarte de tanta emoção. Braços levantados, todos pulando e cantando "Rock'n'roll star" impecavelmente.
A cada intervalo entre as músicas, Liam parava no palco para posar para as fotos. Também jogou sua toalha, mandou beijos e arremessou para alguém sua pandeireta.
No meio do show ninguém aguentava mais de tanto pulo, os pulmões pareciam que iam sair pela boca, mas ninguém desistia de cantar alto "supersonic", "champagne supernova" ou " Lyla". O momento mais bonito foi quando Noel cantou uma versão quase-acústica de " don't look back in anger", a multidão cantou o refrão sozinha, dando um descanso na voz do guitarrista principal da banda. Liam fazia gracinhas para a câmera e dialogava com alguns fãs da platéia. "Songbird" foi rápida mas perfeitamente cantada e tocada, de uma forma muito bonita. O show terminou com "I'm the Walrus", com o público perguntando se realmente tinha acabado e completamente estarrecido e emocionado com a banda. Só se ouvia o coro "Oasis! Oasis!" e os jovens saindo satisfeitos e felizes do Citibank Hall.

Sonntag, Mai 03, 2009

Tempo demais

Welcome I love you, don't you see?
Don't you see?
{ Fantastic Bird - Morrissey}


Ana contava com as mãos os papéis-textos, alguns manchados de café num acidente de sonolência. Já eram três da madrugada, as pálpebras pesavam e os cílios estavam úmidos. O maço de Marlboro já estava pelo fim, foi aí que se deu conta que tinha prometido parar de fumar. Nós sempre afogamos promessas, sacrifício remete à sofrimento e não à virtude.
Eduardo terminava seu conhaque, quer dizer, nunca terminava. Pois sempre que sumia a última gota de álcool daquele copo tão redondo ele enchia quase até a borda, na obrigação de evanescer os sentidos. Ele amava Ana, dos muitos cigarros e óculos de grau enormes.
Ana dava passos leves pela vida. Eduardo pisava desconfiado aonde quer que fosse. Ana adorava sorvete de casquinha ao final da tarde. Eduardo se limitava a uma soda. Ana gostava de copular com as cortinas fechadas. Eduardo gostava de enxergar cada centímetro daquela tez tão branca e tão frágil que até a luz poderia ferir. Além de tudo, ele gostava dos gemidos infantis e doces que ela costumava soltar. Ana gostava dos antebraços pálidos que envolviam a sua cintura estreita e que a rodava e rodava...
Uma lágrima. Ana não sabia se era sono, a brisa fria que acabara de atravessar a varanda ou saudade. Último cigarro, gole no café, empilhamento de textos e travesseiro. O travesseiro-amigo que sempre a ajudava a secar o rosto. Do outro lado da cidade, Eduardo adormeceu com a mão no copo e a face esborrachada na mesa. Acordaria mais tarde com um gosto amargo na boca.

Samstag, April 25, 2009

Para completar

Conversando com o Igor no MSN...

- Você está no laptop?
- Sim, e ele está in my lap. Adeus fertilidade!
- Vai para o blog.
- Sou coadjuvante do seu blog...
- Ah é!, o principal sou eu e o Grande Ego.
- Dois e dois são quatro.

Reeditando ( Ou " Sou lerda!"):

- Gostaria de poder retribuir as gentilezas e eu retribuiria da melhor maneira possível.
- Não entendo.
- Sorrisos, olhares.
- Não entendo, parte II.
- Gostaria de poder mostrar pessoalmente o quanto gosto de sua companhia.
- Não entendo - o confronto final. Mentira, mentira.

Sexta-Sábado

Ana se enche de delineador, sai do elevador do prédio puxando a meia sete oitavos e chega atrasada ( para variar) ao bar ( também chamado de "casa", rs). Depois de 7449479 cervejas, 3 maços de cigarro, fazer a ducentésima piada com o garçom - que nunca nos atende!-, invento de entrar na fila do banheiro para homens. Victor indignado, Ju já pegando o celular para gravar e mandar pro Youtube e eu gritando: " Eu tenho um pênis! Eu tenho um pênis!"; shame is the name. Não satisfeita com o bafón - nem com a quantidade de álcool-, compro uma Heineken e começo a passear aleatoriamente pela rua. Davi: " Comassim-má-onde-é-que-a-mocinha-estava?!"; " Eu? Passeando...".
Hoje, depois de desviar de todos os pivetes do Centro do RJ, chego ao Centro Cultural e sou abordada por um poeta : " Você é modelo fotográfica?!"; eu: " Ain, super que não."; ele: " Devia seguir a carreira, hein!"; eu: " Ih, é a maquiagem, super que argamassa! rs!"; e saio rodando pelo Centro. Meu celular toca:
- Alô?
- Oie.
- Quem é?
- Quem é que está falando?
- É a Ana, uai.
- Ah Ana! É o Léo, poxa!
- Passa aqui?
- Passo.

Meu cabelo já está quase na cintura, passo delineador até para ir na padaria, jogada na cadeira, cheia de livros em cima, com as unhas descascando e com o livrinho de poesias que o poeta me deu. É, a semana em dois dias.

Ain, tão cansada.

Montag, April 20, 2009

Algum dia você poderia?


E você? Poderia
algum dia
por seu turno tocar um noturno
louco na flauta dos esgotos?
{Maiakóvski}



A Baía de Guanabara neste momento está recebendo grossos raios de sol de fim de tarde, que se espalharam por suas águas e a deixaram meio sépia. Todos estão fora e pela primeira vez em muito tempo não ouço berros e barulhos de louça pela casa.
Sabe a não-dor? É o que você sente quando já se passou tanta coisa que não faz mais tanta diferença assim. Afinal de contas, o que é dor, mentira ou sofrimento para quem já passou por ainda mais que isso há muito e ainda olha como se fosse um tipo de happy hour ou ainda, hora do rush? Lembro que o Matt me chamou de esquizofrênica do tipo delirante há alguns meses. Certamente, isso é passado, pois não vejo mais nada fora do lugar, não escuto, não sinto e não lembro. Pior, até lembro e isso me faz ter um surto de consciência e o coração até chega a ficar meio mole, sabe? Mas esse coração é tão abstrato que o meu próximo "eu te amo!" vai ser desenhado num papel ofício com canetinhas coloridas. Ou quem sabe com tinta a óleo em um quadro. Talvez, arte moderna. Não. Vai para o dadaísmo mesmo.
A verdade absoluta sobre a dor ( a verdadeira), é que ela nunca te acompanha - não por muito tempo-. Ela vai dentro de pouco tempo para o lado do passado, é o seu braço direito. E como nós sempre corremos ávidos e chorosos para o colo do passado acabamos por reencontrar nossas dores e todas intactas. Por isso estamos sempre muito inertes, por isso a vida tem se resumido a suspiros que não limpam o pulmão - e nem a alma-. Mas as pontes são infindas e ainda há um pouco de verde pela cidade. O telefone está tocando, vou pegar um café. Pelo menos assim eu consigo levantar ( eu poderia?).
Post Scriptum: O poema acima trata-se de um convite à loucura e ao "underground".

Dienstag, April 14, 2009

Então, então

- Vou amarrar uma corda no pescoço, escrever um poema, amassar, colocar no bolso...
- Essa foi a pior! rs
- Meu passado não importa.
-
Você tem que esmagar seu passado para que ele não volte, digo as coisas ruins.
- De vez em quando voltam lembranças da infância. Daquelas que você sente o tato, cheiro.
- Por que qualquer lembrança nos enche de cólera?
- Por que?

(...)


- As pessoas são estúpidas naturalmente?
- É natural. Assim como a inteligência é por indicação divina, a idiotia também o é.
- Sinto algo maior me ajudando ás vezes, mas não sei dizer o que é.
-
Hoje discuti com minha professora de Teoria da Literatura...Argumentei que um clássico traz consigo um significado único e por isso a nossa concepção muda durante os anos, porque adquirimos a maturidade e aí sim o entendemos.
- E o que ela disse?!
- Disse que estava errada e tinha dito isso na primeira aula... que nenhum livro possui uma verdade absoluta, significado único. Apenas pode ser interpretado em diferentes tempos de formas diferentes...

- E?
- Alguns colegas concordaram comigo. Ela começou a se contradizer, então, distorceu o que eu disse. Na verdade ela não compreendeu o que eu disse, mas não admitiu, lógico. Todos sabem que é falta de respeito tirar a conclusão que quiser de uma obra. Há algo maior, há verdades absolutas e os que nasceram para dizê-las.
- Sua paneleira...
- É, eu tenho seguidores. Por isso evito abrir a boca, não quero ser o próximo Mussolini.
- Eu também tenho. Sou o messias, ou, a besta. Ou o falso profeta. rs
- Deixe isso para os afetados.


Montag, April 13, 2009

Estrelas até o céu



O ônibus acelerava e freava de acordo com os pardais eletrônicos que ameaçavam uma multa. Arranhava o asfalto já tão gasto e tão maltratado pelas erosões do clima - e da imperfeita obra-. Não havia mais tantas luzes. Era manhã e os postes estavam apagados. O sol não chegava ao chão e nem passava perto das folhas de árvores. Engraçado isso, ele só ilumina as folhas, não as seca.
Cidade pequena, casa cheia. Uma garota branca, de óculos enormes e de tranças nos cabelos seria algo tão estranho assim? Talvez a garrafinha de água em mãos e o ar aluado a fizesse parecer uma estrangeira, talvez. Enfim, almoço de família, não? O " como você cresceu!", foi substituído pelo " como você está magra!"; lamentos. E a priminha de colo sorria e sorria. Olhos enormes, tênues. Com os olhos tênues e enormes talvez ela engolisse cada um por um e ninguém pudesse fazer-lhe mal, por isso ria para todos e babava.
Passos arrastados pela varanda e os olhos alcançaram o céu enorme e negro. Na cidade ele é negro, lá não. É azul-cor-de-céu-bonito. E enfeitado com estrelas que preenchem as pupilas e as fazem não parecer tão grandes assim. Afinal de contas, as veias nunca carregam sangue puro. Está sempre muito batizado e já desistiu há tempos de eliminar quaisquer das substâncias inseridas ao longo de anos, até o sangue é vítima do ócio proporcionado pelo monóxido de carbono. Os pés afundam na areia: maresia. Como há quatro anos, não é, meu amor? Mas os pés não afundavam assim tão puros na areia. O que afundou foi o corpo, na água salgada, e eu na sua cama toda vomitada; pior: o vômito era meu.
Tentar fechar a mala e carregá-la até em casa. "Estamos sempre voltando para casa", como diz uma amiga. Aqui o céu não possui estrelas, mas os edifícios possuem. E com poucas lágrimas e o sangue impuro, essas luzes-estrelas ganham mais vida e nós ficamos aqui. Deixamos os caminhos de terra e a vegetação sós. Entretanto, é no asfalto que os pés queimam e acumulam rasgos. Impossível de caminhar, por isso nos arrastamos. Aliás, por isso nos contorcemos em pedaços, para não ter que andar.

Freitag, April 10, 2009

Afetação

"Aquele que mantém a calma diante de todas as adversidades da vida mostra simplesmente ter conhecimento de quão imensos e múltiplos são os seus possíveis males, motivo pelo qual ele considera o mal presente uma parte muito pequena daquilo que lhe poderia advir: e, inversamente, quem sabe desse facto e reflecte sobre ele nunca perderá a calma. "

Arthur Schopenhauer, in "A Arte de Ser Feliz".




Por isso que eu sempre faço troça quando algum anencéfalo fala que "Schopenhauer era muito pessimista!", absurdo. Não entendo até hoje porque rotulam o velho germânico ranzinza como "pessimista". Nenhuma de suas obras faz uma previsão fora do normal sobre a sociedade e suas conseqüências. Ou ainda, não sei se minha visão também é pessimista ao ponto de não reparar esse tipo de afirmação explícita em seus textos. E aí está o problema de ler tão-somente as orelhas dos livros. Você se submete a uma interpretação superficial de outra pessoa que pode ter entendido ou não a obra. Tira todo o brilho e todo o mérito do escritor e de suas obras, é diretamente e impiedosamente uma falta de respeito.

Sonntag, April 05, 2009

Felicidade

Borðum Og Drekkum Saddir...
{Ágætis Byrjun; Sigur Rós}




Não que eu não saiba o que seja, acho que agora todos sabem mais ou menos o que é e mal querem. Porque sentir e imaginar o que seria bom e ruim já passa muito longe de qualquer conceito de satisfação pessoal, talvez por isso o capitalismo se dê tão bem com os comerciais de televisão.
Sei que precisaria de pelo menos uma overdose por semana para me dar por satisfeita. Acordar ainda meio grogue, com o rosto ainda mais pálido do que de costume, magra de doer e repetir automaticamente: " amanhã é outro dia, a partir de agora nada de ficar tomando essas besteiras."; eu teria que me destruir quatro vezes por mês para ter alguma esperança de continuar caminhando.
Você tem a chance de compartilhar pedaços de sua vida com pessoas maravilhosas, você tem milhões de chances de ser feliz, mas essa felicidade já não significa mais tanto. Como ter a possibilidade de ter alguém maravilhoso do lado, salvar seu coração com um amor certo, dedicar seus finais de semana a este namoro, noivar, casar, ter filhos. Era para ser bonito (?). Mas é uma mentira, o modelo de se viver dos últimos tempos é uma mentira. Pois já começa tudo como uma grande mentira. Eu não consigo entender as atitudes dos jovens hoje... Mentir, mentir. Como se isso preservasse muita coisa. Como se estivessem tão desesperados que têm medo de caminhar lentamente ( como em passos de valsa) nas esquinas da verdade. Sendo que a verdade - e só ela! - é a chave de um caminho onde o mundo não pareça tão cheio de vicissitudes.
Fumo. Viro o rosto para a janela que mostra uma cidade já cheia de luzes noturnas. Respiro fundo querendo diferenciar o monóxido de carbono do ar com o do cigarro. Talvez a vida seja isso mesmo: café, cigarro, chá, dormir, algum órgão sexual, e procriação de seres que já vão nascer sem saber muito o que fazer neste mundo; talvez. E os ombros nem suportam mais o mundo, os ombros jogaram o mundo de lado e foram tentar ser pés. Não conseguiram, e agora temos órgãos que querem ser pés por todo o corpo. O coração andou e explodiu. O estômago andou e ganhou uma gastrite. As mãos cansaram de segurar o rosto tão lavado de lágrimas e também tentaram ser pés, e só se encheram de calos, sem muito sucesso. A vida agora é só vida. A vida apenas, sem mistificação, como diria Drummond.

Samstag, April 04, 2009

Do fundo do baú, o grande mestre fala:

"Mentiroso compulsivo é aquele que, desmascarado, não dá o braço a torcer: persiste na mentira, adorna-a de novos floreios, jura, esbraveja, argumenta, e tanto insiste que acaba deixando o interlocutor em dúvida. Porém mais perverso ainda, um sociopata em toda a linha, é aquele que, em tal situação, se faz de desentendido e continua falando no tom da maior normalidade e segurança, como se nada tivesse acontecido. Aí a mentira singular se transmuta em impostura permanente, estrutural, alterando de uma vez o quadro das relações humanas e quebrando, na alma do ouvinte, não a confiança nesta ou naquela verdade em particular que ele julgava conhecer, mas no próprio valor da verdade em geral. No primeiro caso, a mentira buscava imitar a verdade, parasitando o seu prestígio; agora ela se impõe por seus próprios méritos, como um valor em si, independente e superior à verdade. Perplexo e atordoado pelo fascínio da insanidade, o ouvinte se vê atraído para dentro de uma espécie de teatro mágico, onde o preço do ingresso é a abdicação não só do poder, mas do simples desejo de conhecer a verdade." ( Olavo de Carvalho; 'Da mentira à impostura').


Compreende-se de forma muito ampla a ação de criminosos. Assim como Raskólhnikov matou a velha sovina para se tornar um homem extraordinário, acreditando que estava fazendo um bem e ainda, ganhar um mérito próprio de dever cumprido. Muito diferente de crimes que não têm propósito ou funcionalidade dentro de uma lógica racional.
Sócrates mesmo elogiava a 'mentira nobre', como necessidade. A mentira e os crimes podem ser até analisados, quando há algo de consistente por trás destes. Agora, uma mentira, tão-somente mentira, para exaltar um ego recalcado, ou ainda, um ego que não há, é mais uma vergonha do que uma mentira. Como sei que a mediocridade não mede esforços, apenas digo: poupem-me dessa vergonha.