Freitag, Oktober 29, 2010

Do sol lá fora

"Dort bin ich ihm und ist er mir so nah, wie ich mir selbst es nie sein werde."
[Ausflug mit dem Zerberus - Mirko Bonné]


Da minha murchidão que virou hedionda e absurda dentro de mim mesma e de me reconhecer em qualquer situação. Sinto saudades. Abraços apertados e tudo o que um ser humano tem direito, calando os anos sem. Precisando de. Lacunas não são a minha especialidade, já que havia alguém não para preenchê-las mas para fazê-las para mim. Até nisso eu era dependente de ti, das brigas que ferem às lacunas que com tanto gosto eu não preenchia. Talvez só preenchesse você e muito mal preenchido. E no meu vazio eu nunca te encontrava; perdão. Substituo Zerberus por Mike, diabetes por ódio e ainda não suporto o sol lá fora, como você, muitas vezes. Ele me atrapalha a ter minhas memórias sobre você, sua brancura, seu nariz imenso, seu recato me fazem lembrar algo mais longe, mais distante, mas que dá para se tocar com a ponta dos dedos. Sempre foi assim, eu te tocava com as pontas de meus dedos e você sempre se afastando, e o não-ser doía tanto que eu simplesmente não sentia. Entende agora? Eu sempre senti muitíssimo e você nunca o soube. Você sempre viveu aqui dentro de mim; e era uma vida linda, e mesmo eu sempre estando toda remendada por torturas as quais eu mesma me sujeito eu sempre era o seu 'botãozinho'. Equivalente ao meu sofrimento você foi morrendo em mim, parou de crescer, parou de falar, eu não pude continuar regando nosso amor com os seus rosnados. A gente não pode trocar o engatinhar pela vida pelo rancor só porque ele prometeu nos fazer correr. Você aguardava, eu também. Mais ainda: compartilhava tchê.

Montag, Oktober 18, 2010

Rasgando a manhã seguinte

Eu tenho sofrido muito feio, e todas as tentativas torcidas e foscas de pedaços do meu próprio passado sofredor bonito metamorfosearam em fracasso certo. Doer para que ninguém possa ver dor, apenas ódio. Odiar querendo doer. Doer-odiando e estender-fechar os braços só para as palmas das mãos tocarem os pulmões e alguma realidade penetrá-los além do câncer transfigurado em um cigarro. Puxar amanhãs, como se os pés estivessem varrendo um gramado e no lugar do câncer há uma pipa, voando alto pelos ventos. Linda. Ao horizonte.

Freitag, Oktober 15, 2010

Murchando

"And I have to dry my eyes."

[Morrissey - Boxers]



Pela primeira vez o título é totalmente compatível com o texto, porque acordei assim: murcha, caindo. Me imaginei flor e senti pétala por pétala caindo até sobrar um caule seco, magro, doente. E não é algo grandioso porque isso é lugar-comum desde que me chamo Ana e sinto muito por isso, talvez buscar outros nomes me dariam menos leveza e mais maldade, insubordinação, para que tudo corresse bem. Mas não, fica tudo assim num colorido completo que não me adianta de nada, já que estou desbotada, uma mistura de cores sinistra que de arte passa a horror-Dalí. É tudo tão feio nessa cidade que só de caminhar por qualquer calçada que seja meu estômago revira e minhas pupilas são queimadas por esse sol que aqui se torna desprezível. Aliás, qualquer coisa aqui é notificado de repúdio, aversão, sofrimento. Tudo faz sofrer. Do ambiente natural à rua desconhecida: tudo é triste. Porque não há alma viva que não faça de sua própria existência um carma para si e para outrem. É tudo um grande carma. Tenta-se sorrir e o sorriso é rejeitado pelo seu próprio organismo e assim até sorrir se torna orgânico-mecânico. E a cidade se esqueceu de Deus. E ele chora ofendido num dar de ombros.

Samstag, Oktober 09, 2010

Inerciando

Que fique claro que não estou cansada ou solitária, mas a paciência com a vida se esgotou tanto que só falo não-tudo-bem, sento e espero. Talvez acabe assim, tique-taque, olhar no relógio, encher as bochechas de ar e soltá-lo bufante. O único alívio é que toda a tentativa de sugar da vida de uma maneira muito descortês já é hipótese descartada. Sinto cheiro de tecla pause no ar. E acho engraçado todo mundo se afetar arduamente achando que sempre vai ser meu objetivo final: o objetivo é sempre machucar a vida -a propósito, a minha -, manter eternamente minhas pequenas mãos envolta de seu pescoço, apertar apertar, acabar por deitar do lado, pedir desculpas. E falamos mal da felicidade até ela ficar ressentida com a gente, e vai embora e promete nunca mais voltar. boba, voltaqui!