Samstag, November 03, 2007

Chá e vermute

Ela repousou seu chá na mesa de mogno e deu um suspiro profundo. Tamborilando com os dedos e decidindo como transformar um dia abafado em algo produtivo. Já menina ficava horas com o olhar voltado para as chuvas de julho, chuva densa e suave em toda a sua magnificência. E estendia suas mãozinhas delgadas e se deixava encharcar, fascinada.
Abandonou o chá na pia de mármore e se atirou ao chuveiro. Ainda com os longos cabelos molhados, jogou por cima camiseta e calça, do tipo Levy's. " Jeans de hippie"; já dizia sua mãe. Foi ao Jack's Bar, há um bairro de distância. Sentou, pediu um vermute e engoliu de uma só tragada. Acendeu seu Camel e tragava como se fosse o último.
O garçom de dentes amarelados ofereceu outra dose. Quando já estava na 8ª dose, seus cotovelos repousavam no balcão, as nádegas se aconchegaram ao banco confortável mas tudo girava absurdamente. Apesar do ambiente á meia-luz, da porta de vidro dava para ver as luzes da cidade. Luzes que se misturavam e formavam cores que chamavam mas feriam os olhos.
Lágrimas surgiram. Não se sabe como e nem o por quê, mas surgiram. E lavavam seu rosto pálido como se quisessem refrescá-lo do calor. Voltou ao seu apartamento. As lágrimas ainda não tinham ido embora. Ela sentou, de cocoras no chão. " Meu sofá! Meu sofá! Ele só tem três lugares!". E se descabelava e grunhia e se espalhava ao chão. Talvez nesta metáfora trançoeira ela quisesse enganar-se contra o próprio abandono.

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