Freitag, September 11, 2009

Com a palavra, o Grande Ego

Ana está brava. Se eu dissesse que ela está triste seria mais cliché, seria mais fácil. Mas ela só está muito brava. Tentei reconhecer os traços de doçura juvenil que todos exaltam nela e não achei, havia muita raiva naquele rosto jovem. E vermelho, de raiva. Ana sempre compactuou com a verdade, por crer que só a verdade liberta, salva. Por aquelas palavras bíblicas que ela ficava repetindo e sorrindo enquanto bebia água, ou lavava a louça, ou acendia um cigarro. Sobre só o amor conhecer o que é a verdade. Se passou longe da verdade era porque não era amor, mas como explicar isso para ela? Desperdício de sentimentos equivale à desperdício de tempo, tempo que usamos para procurar, para preencher, para produzir. E quando tudo o que se produz é raiva, injustiça, tudo toma uma proporção catastrófica e do olhar bovino-esperando-algo migra-se para o olhar de estupefação doentia, e raiva.
Permaneceu com os braços estendidos até que se alcançasse uma infinidade de braços estendidos e talvez todos os braços do mundo estendidos pudessem fazer a diferença. Mas não fizeram. E nem o número de verdades também. Porque você aprendeu com Arthur que o homem mascara pensamentos e não importa o que você diga ou faça porque a realidade é irracional na tentativa do homem provar sua racionalidade. Ana está brava e eu tenho culpa, porque ela nunca vai brilhar mais do que eu. Ela é a pobre-irmã-feia-sem-atributos perto de mim, quem a sauda não a vê, me vê. Ninguém a serve e nem era isso que você queria, não é Ana? Você quis pouco e não foi ouvida, você quis pouco e não recebeu verdades, só amostras de como a realidade não é real. Então, você vai pôr o rosto no sol novamente e esfregar contra o lençol da cama, empurrando o nariz, tentando prender o choro, e adianta? Nunca adiantou. Como aquelas marcas ( você acha que eu esqueci aquelas marcas no braço esquerdo?), que permaneciam e reapareciam por dias a fio, eram apenas para aguentar firme, eu sei. O destino lavrou o seu rosto, como o semblante Almayer, como cerveja entornada no chão com cacos de vidro em volta. E você nunca, nunca vai ter a sua coroa. É um esforço já vão.

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