Dienstag, Juni 30, 2009

Você

Você já acorda com a face banhada em pranto, e fica ora olhando as pernas compridas e magras, ora a janela. E você olha tão densamente a paisagem que acaba por se tornar uma, todos ficam encabulados e sem entender bem o que se passa, como alguém pode manter por tanto tempo esse olhar raso.
Você fecha os dedos no ar para tentar sentir as imagens e termina assustada, amuada e acusada de loucura. Ninguém consegue compreender que realmente não faz sentido e que é preciso tocar para que não se sinta enganado pela vida. Mas é miragem, você chora e quando se comovem trata logo de abrir duas covinhas no rosto cor-de-leite.
Você costumava ser feliz e viver a vida, tão-somente vida, sem mistificação. Você costumava perdoar, você costumava chorar. Você costumava se importar também e enxergar. Você costumava até sorrir, mas não era como um reflexo, era verdadeiro. Eu não sou mais você, porque afinal de contas "eu" ou "você" é quem está com a palavra e permaneço muda. Cega e surda, porque as imagens e sons distorcidos, irreais e controlados pelo Grande Ego também são uma invalidez. Cega, surda, louca, chorosa. Você. Permaneço muda.

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