Sonntag, Juni 28, 2009

Mutter II

"Mas Jesus me fez, então
Jesus me salve da pena, da compaixão
E das pessoas comentando sobre mim"
( November spawned a monster - Morrissey)



"Olá, mamãe?", foi o que tentei dizer forçando um sorriso, com os pequeninos lábios ainda cobertos de batom e com os cantos feridos pelas bofetadas, mamãe. E quando levei os dedos à boca para secar as gotículas de sangue, pude notar que meus braços outrora tão brancos estavam com grossos ematomas roxos que poderiam ter sido evitados, mas você mal me olhou no rosto, mamãe... Pegou-me pelos braços e as palavras e vírgulas eram na verdade tapas e esmurros, e então eu caí de joelhos, mamãe.E tudo isso contrastando com meu vestido florido já amassado da noite, o sutiã preto rendado por debaixo e o delineador escorrendo me fez ficar triste, te fez ficar triste e todos choramos juntos.
Mas por que seus braços me sacodem desse jeito, mamãe? Pare. Eu não estou entendendo muito bem todas as coisas: dos objetos à seu rosto inflamado de fúria; e não sei se é resquício do whisky barato ou se o mundo agora parece confuso com seus gritos. Eu não queria mamãe, mas não sei muito bem o que não queria, pois não me vem à memória nada de tão vergonhoso ou errado. Ah mamãe...! Vem, assim... Não precisa chorar, eu sei que você não queria, eu sei. Ninguém tem culpa: eu não tenho, você não tem, muito menos Deus... Você sabe que se eu pudesse eu nasceria novamente, mamãe. Roupas decentes, nenhuma tatuagem, fígado e pulmão intactos; eu o faria por você... juro que faria. No entanto, isso seria retroceder e quando voltamos ao passado ele sempre nos esmaga, e eu prefiro sempre a forma mais lenta para decair, mamãe.
Eu lhe dei tudo, mamãe. Sei que não foi nada, porque tudo que há em mim fica para mim e só Deus sabe o quanto é bom eu guardar o que é meu só para mim. Pois isso explica de maneira óbvia porque você não me quer tanto assim. Você algum dia quis? Algum dia... você... poderia?

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