Freitag, Dezember 12, 2008

E é assim que as coisas são

A Ludmilla e eu tivemos uma discussão homérica ontem. Ela falava, aliás berrava, sobre como o mínimo de reembolso que Deus poderia dar a ela é ser canonizada. Se a conversa tivesse sido concebida pessoalmente, provavelmente eu espalmaria minhas mãos ao ar, declamaria todos os malogros de minha vida e por fim amanheceria envenenada, só para testar a ordem divina, ou ainda, para tentar copiar Mynheer Peeperkorn.
De engraçado ficou amargo. Ela falava sobre como tudo - não só nesse momento- está sendo difícil, e teve o básico ataque de pedantismo-depressivo de dizer que só ela sofre, que sua dor era a maior e que achava o cúmulo da patotinha esses jovens "humanóides" considerarem as suas poucas misérias alguma dor. A essa altura já estávamos chutando uma a costela da outra.
Talvez por isso hoje eu tenha acordado arrasada. Não que meus olhos estivessem marejados, não. Porque eles estavam secos. O rosto não tinha expressão. O coração parecia ter se volatilizado. E o corpo, bem, o corpo não se movia e eu não tinha forças para brigar com a inércia e movê-lo. Me contentei em ficar na cama, olhando a janela cinza. Ameaçava chover.
Então, lembrei de quando eu era um pouco mais nova. Uma vez corri de meus amigos, já muito ébria, e parei estática numa pracinha que fica de frente para a Baía de Guanabara. Era noite e estava relativamente frio. Eu explodi, meu nariz inflamou de coriza e meus olhos começaram a ficar manchados de delineador. Estava doendo. O meu rosto se desfigurava na maquiagem enquanto as ondas da Baía batiam perto.
E não era uma dor do tipo dor. Porque se fosse apenas dor, um bom psicólogo e muitas caixas de Rivotril resolveriam. A principal questão é o referencial. O meu referencial é tão amplo que engloba a dor de cada pedacinho de ser humano que passa por mim. O idoso sem dentes procurando atendimento no hospital, o olhar triste que vi em um mendigo ( ele devorava algo que parecia um doce de padaria com tanto desgosto...), os amores de minha vida que não me querem e também não me deixam seguir e claro, o Grande Ego que controla tudo com seus tentáculos. Eu não alimento meu ego, ele me alimenta.
O referencial não pára de crescer. Talvez eu imite Édipo Rei e fure meus olhos na esperança de uma cegueira completa, quase alienação, ao contrário do que queria o personagem. Talvez eu continue acordando arrasada, sem saber exatamente o porquê. Alguma coisa, alguma lenbrança...Eu não sei o que é. Está aqui, mas foi absorvida pelo Grande Ego de tal forma que eu realmente não me lembro quem ou o quê fez isso. Grande Ego, se era um sonho...devolva.

1 Kommentar:

Anonym hat gesagt…

tah tristinha é? não tem pra ninguém querida! eu te avisei que vc ia perder pra mim.