Donnerstag, Januar 04, 2007

Eu na sala com o psiquiatra

A viagem foi longa. Duas horas até a Tijuca, entro no elevador e chego ao tal andar. Toco a campainha e ele abre:

Psiquiatra: Como vai?
Anna: Bem, obrigada.
Psiquiatra: E então Anna, o que te fez vir até aqui?

Ela abaixa a cabeça e os olhos ficam marejados. Tenta se conter e não olhá-lo nos olhos, mas o olhar dele transmitiu tanta piedade para com ela, que ela mesma se sentiu uma grande mártir.

Anna: É difícil de explicar doutor...Há muito que eu não vivo, quer dizer, vivo mas nunca nesse mundo.
Psiquiatra: Não entendi, minha cara.
Anna: Desde os 4 anos de idade que eu vivo em um mundo paralelo que eu mesma criei. Só que me refugiei tanto nele que, não consigo mais enxergar as barreiras entre o meu mundo e o que é real.
Psiquiatra: Ahh, sim. Mas fale-me mais sobre esse mundo.
Anna: Nele as coisas são menos dolorosas e eu posso pausar e voltar em várias cenas para, se quiser, concertar inúmeras vezes meus erros.
Psiquiatra: Você vive de forma abstrata, pois tem medo de sofrer, então, evita contato com os outros seres humanos. E a propósito, você sofre muito.

Os olhos ficam marejados de novo, só que dessa vez ela chora. O psiquiatra pega um lenço para ela enxugar as lágrimas.

Anna: Me desculpe. Doutor, diga-me, eu sou esquizofrênica, não é?
Psiquiatra: Não. A esquizofrenia não é evolutiva e, nem doente você está. Você tem uma personalidade muito esquiva e também é neurótica, só.
Anna: Está bem.
Psiquiatra: Você terá que fazer uma psicoterapia, para podermos te readaptar ao mundo em si.
Anna: Claro, adeus doutor.
Psiquiatra: Até logo, minha querida.

Eu não procurei fazer uma psicoterapia. Houve uma parte que eu cortei, na qual falava de um assunto que me fez chorar que nem Madalena arrependida. Esse assunto não o mencionei para não expor demais minhas emoções ( não tenho mais 13 anos, né). Infelizmente, a garotinha que lidava com suas emoções de forma tão sofrida e aberta se retraiu tanto, que não tem mais vontade de mostrar aonde dói e nem de se readaptar ao mundo.

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