Sonntag, September 12, 2010

Desmistificando Werther

A obra de Goethe guiada pelo Romantismo alemão e da tendência Sturm und Drang apresenta erros graves seguidos do sentimentalismo e sensibilidade randômicos. Werther apresenta-se como figura carismática em explosões de emoções, daí a grande recepção livro-personagem. Entretanto, pelas atitudes falhas ao longo do livro vê-se claramente a sua personalidade mesquinha e muitas vezes medíocre.
Começando pela relação de Werther com os nobres e bem-sucedidos, há o menosprezo do personagem contido no fato puro e simples dos nobres ignorarem a sua presença e avaliarem a sua conduta como exagerada. Ora essa, nobres e burgueses não se misturavam na época pelos primeiros acharem o manejo com dinheiro sujo, coisa incompreensível atualmente mas um costume na época. Assim, Werther se dedicava a pessoas de origem mais humilde acrescentando ao caráter dessas adjetivos exaltivos, maravilhosos. A mesma relação da fábula de La Fontaine, em que a raposa desdenha das uvas. Ele é como a continuação da fábula, no caso a raposa cospe nas uvas e cata "gravetos saborosíssimos" para se alimentar.
O estopim dessa relação chega quando um de seus humildes amigos do vilarejo comete homicídio contra o atual namorado de sua amada. O homem é capturado e Werther adentra a sala defendendo seu amigo com argumentos pífios e infantis, querendo justificar o fato de um inocente ter sido assassinado. Até onde chega o nosso herói: força uma relação com uma mulher comprometida, sabendo de antemão que ela tem um noivo, não obstante ainda se põe - com a desculpa de uma amizade duvidosa - entre Charlotte e o noivo (que posteriormente vira esposo), e ainda defende um assassino por pura e simplesmente este ter cometido um crime passional. Crime é crime. Se até Raskolnikov pagou na Sibéria pelo übermenschianismo de matar a velha usurária, por que teria que ser diferente com um despeitado?
Especificando a parte Werther-Charlotte, a obra toma proporções pateticamente catastróficas. Werther alimenta um amor cismante por Lotte, não é que o amor tenha acontecido, ele que escolheu amá-la. Ela era bela e meiga, como a maioria da população feminina na Alemanha da época; o que ressalto é: o amor nutrido era artificial e só servia para Werther martirizar a si mesmo e alimentar a sua própria afetação para que ele pudesse sentir que era um homem diferente, out of line. Charlotte, diante da persuasão e devoção de Werther, acabou por amá-lo à sua forma; mas foi um amor que não passou pelo caminho da beleza antes de virar amor, e sim pela piedade de ter que amar.
Saindo um pouco do enredo da história e entrando na parte de raciocínios errados de Werther (querendo ser aforismos), mostro um trecho: "E então, por mais limitado que seja, guarda sempre no coração a doce sensação de liberdade, sabendo que poderá livrar-se do cárcere quando quiser". Só nos cresce a sensação de liberdade quando estamos em cárcere obrigatório ou em inércia, esse sentimento não é natural, não se estabelece sozinho; e quando se estabelece ele não tem nada de 'doce sensação' e sim tristeza, algo como uma grande espera inquietante. A liberdade só se transforma em algo belo quando é alcançada, em seguida se metamorfoseia em paz de espírito.
Chegamos então ao suicídio de Werther, ao final da obra. Aí vemos o tamanho de sua mesquinhez, uma eterna criança mal-criada batendo os pés no chão pelo relevante, eis Werther. Antes do suicídio deixa uma carta para a sua amada penalizando-a sentimentalmente: "Vê, Charlotte!Não estremeço ao tomar nas mãos a fria e terrível taça, da qual deverei sorver a embriaguez da morte! Tu mesma ma ofereceste, e não hesito por um momento sequer". Ele estava errado desde os primeiros momentos, mas quis atribuir sua culpa à segundos, terceiros. Vemos a mediocridade desta obra mais nitidamente quando comparamos com "Noites Brancas" de Dostoiévski, em que o personagem também sofre de um amor renegado e sofre um golpe muito pior do que Werther: depois de arduamente ter esperado sua querida Nástienhka e finalmente tê-la conseguido para si, no dia seguinte ela volta para seu antigo pretendente, abandonando-o. O que o herói de Noites Brancas faz? Abre um doce sorriso e exclama: "Meu Deus! Um momento de felicidade! Sim! Não será isso o bastante para preencher uma vida?" O personagem de Goethe é aí nocauteado ferozmente pelo personagem de Dostoiévski.
Contudo, fecho com a única passagem bela que encontrei no livro e que realmente merece crédito: "É como se um véu se tivesse rasgado diante de minha alma, e o palco da vida infinita transforma-se, para mim, no abismo de um túmulo eternamente aberto. Poderás dizer: 'É assim mesmo!' Quando tudo passa? Quando tudo deixa de existir e desaparece com a rapidez de um raio, tão raramente sendo dado aos seres viver até se esgotarem as suas forças, quando eles, ai, são arrastados pela correnteza, engolfados por ela e destroçados de encontro aos rochedos? Não há um momento em que não destrua a ti e aos teus, em que não sejas, necessariamente, também tu um destruidor. Um simples passeio custa a vida de milhares de pobres vermezinhos, uma passada desmantela as construções penosamente erigidas pelas formigas, e condena a um túmulo ignominioso todo um pequeno universo."


Boa sorte na leitura - e muita paciência -.

Keine Kommentare: