Freitag, März 13, 2009

Sexta-feira

Hoje é aniversário de minha mãe e acordei pesada. E nem foi pesada de cansaço, ou de tentativa, ou de malogro. Apenas sono que se assemelhou muito ao que virá ser o sopor aeternus. A louça estava toda para lavar e o que parecia preguiça se tornou um serviço rápido, não vejo passar o tempo.
Hoje é aniversário de minha mãe, minhas pernas parecem braços e meus braços parecem palitos de fósforo com nervos que permitem o movimento de levar o cigarro até a boca. No ponto de ônibus vi uma criança-menina que comprava balas acompanhada da mãe. A moça de meia idade sorria bondosamente para a filha, esperando-a escolher os doces. Achei bonito e doído. E o monóxido de carbono dos ônibus somados a esta cena fez meu rosto afoguear.
Subi as escadas do prédio e no próprio corredor acendi meu cigarro. Tragava e olhava para o verde imenso do campus, poucos estudantes no bloco de Letras, vazio. Nunca gostei de verdades, ainda menos de mentiras. Não gosto de mentiras porque sinto o cheiro delas de tão longe... E isso faz meu estômago revirar e queimar. Então caço verdades, mas quando as digo pareço falar em aramaico ou ainda, uma grande piada.
Hoje é aniversário de mamãe e acordei pesada. Dei-lhe um abraço e um beijo. Guardei meu maço de cigarros na caixinha vermelha de sempre, está pela metade. Devorei um salgadinho de camarão e fui ver o espetáculo dos relâmpagos e trovoadas. Não limpei meus olhos, nunca limpo e eles ficam delineados para um todo sempre. Mamãe chamou, limpei o rosto, porém ele estava vermelho. " Ah, filha...De novo?" - um muxoxo.

A voz canta:

Who's gonna save my soul now....
Who's gonna save my soouul noow?!

1 Kommentar:

Flávia V. hat gesagt…

"Uma mentira dá uma volta inteira ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir."

Mentir, para algumas pessoas, parece ser uma prática tão involuntária e inocente que elas até esquecem qual é a própria verdade da história.