Sonntag, Januar 20, 2008

E de tudo...

Não sobrou nada além da veia ferida pelos medicamentos, o estômago que virou um poço de acidez fazendo a pepsina se sentir inútil e uma certeza única, essencial, infelizmente essencial porque sustenta todo resto.
No hospital foi difícil. Dias deitada naquela cama eletrônica e ficava brincando com o controle remoto dela. O calor insuportável que nem o ar condicionado ponderava, o pescoço escorrendo, mas o rosto...O rosto era o mesmo, porém mudado. Estava tão branco e tão inocente como se tivesse 10 anos novamente. Eu estava envelhecendo dentro daquele quarto, menos meu rosto.
A camisola rosinha de gatinho talvez tenha ajudado ao fato das enfermeiras acharem que eu era da pediatria. Já nas últimas, quando o braço já estava inchado, mas inchado de não se aguentar mais, eu chorei. Chorei como há anos não fazia, porque normalmente meu choro se baseia em olhos marejados e em lágrimas retidas. Uma vez me disseram que quando eu choro o mundo pára para assistir, como uma peça de teatro. Dito e feito, a enfermeira ficou tão cheia de piedade que tirou o catéter do meu braço inchado.
Depois do calvário, a redenção. E a volta para casa, a cidade maravilhosa que na verdade é tão cinza quanto a nossa vizinha São Paulo, estava me esperando. Monóxido de carbono, estômago ardido, esquizofrenia, mentiras, olheiras, palidez e sofrimento. Eu sou um holocausto.

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