Samstag, September 15, 2007

In Mortal

Há poucos anos, achava que era imortal. Talvez porque sofresse como uma verdadeira mártir, mas enfim, tinha tanta certeza da imortalidade - e do sofrimento - que fazia riscos nos braços.
A lâmina fazia cortes bem finos e ficavam como pequenos rios de chagas sangrentos. O sangue contrastava de forma bem viva com a pele branca e também com as veias azuis que saltavam. Foram assim todos os dias de minha pré-adolescência.
Um dia eu adoeci. Tudo bem que é muito comum eu adoecer, mas nesse dia foi ímpar. A febre não cessava, os antibióticos me faziam vomitar e minhas hemácias caíram tanto que eu tive de ser internada. A médica falava com mamãe que a infecção estava se espalhando pelo corpo. Passei dias deitada naquela cama tão densa do hospital, as veias como eram muito finas estouravam na agulha com o soro contendo os medicamentos e eu acumulei mas de 5 marcas roxas e doloridas nos braços.
Eu ficava olhando o nascer e o pôr-do-sol da janela que era enorme. Era legal ver todos aqueles prédios altos recebendo luz e uma brisa da manhã, que logo se transformava em monóxido de carbono. Eu saí de lá. As marcas clarearam e eu nunca mais toquei em alguma lâmina. Não porque me faltasse malogro e o martírio, mas porque eu fui perdendo a força e a vontade de fazer e adorar qualquer coisa. Mas hoje, eu ainda olho para o lado de lá e sempre digo no tédio de mim mesma: Deus, eu era só uma criança.

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