Freitag, Oktober 15, 2010

Murchando

"And I have to dry my eyes."

[Morrissey - Boxers]



Pela primeira vez o título é totalmente compatível com o texto, porque acordei assim: murcha, caindo. Me imaginei flor e senti pétala por pétala caindo até sobrar um caule seco, magro, doente. E não é algo grandioso porque isso é lugar-comum desde que me chamo Ana e sinto muito por isso, talvez buscar outros nomes me dariam menos leveza e mais maldade, insubordinação, para que tudo corresse bem. Mas não, fica tudo assim num colorido completo que não me adianta de nada, já que estou desbotada, uma mistura de cores sinistra que de arte passa a horror-Dalí. É tudo tão feio nessa cidade que só de caminhar por qualquer calçada que seja meu estômago revira e minhas pupilas são queimadas por esse sol que aqui se torna desprezível. Aliás, qualquer coisa aqui é notificado de repúdio, aversão, sofrimento. Tudo faz sofrer. Do ambiente natural à rua desconhecida: tudo é triste. Porque não há alma viva que não faça de sua própria existência um carma para si e para outrem. É tudo um grande carma. Tenta-se sorrir e o sorriso é rejeitado pelo seu próprio organismo e assim até sorrir se torna orgânico-mecânico. E a cidade se esqueceu de Deus. E ele chora ofendido num dar de ombros.

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