Sonntag, August 08, 2010

Ao pequeno garoto púrpura

"Y aprendi a quitar al tiempo los segundos,
Tu me hiciste ver el cielo aún más profundo..."

Shakira , Antologia.





Cinco semanas, foi extremamente curto para viver tudo de uma vez só e muito amplo para termos consciência que essa coisa da gente viver um sem o outro não vai ter chance mesmo, no way. Era acordar todo dia ao lado de um rapaz que passou a noite inteira sem dormir única e exclusivamente para passar esse tempo te admirando em sono, contando os intervalos de sua respiração, achando tudo muito doce; até o fato de dormir pouco e ficar até tarde bebendo cerveja do lado de gente que não fala seu idioma.
Recebia também sete beijos seguidos entre as minhas costelas antes de pensar em levantar da cama, escovar os dentes e tomar banho; e com a cascata de cabelos loiro-acinzentados nos meus olhos. Era divertido dormir com uma das suas blusas listradas que só você tem. Descer do ônibus de madrugada para fumar um cigarro completamente agasalhada e ainda assim morrendo de frio - eu realmente achei que ia perder meus dedos - , e me deparar com você sem agasalho achando que não estava frio, apenas fresco. Em seguida você se entupia de iogurte na lanchonete da rodoviária, sem dúvida as pessoas deveriam aprender a tomar iogurte da forma fofa como você faz. Aliás, todo mundo devia imitar você todo tempo, você é de uma doçura invejável. É tão doce que eu só consigo imaginar a vida te apertando, apertando, apertando e dizendo 'ain-oin-nhoin-hoin' e olhando olhando, até os olhos ficarem estrábicos. O que contrasta com a frieza que seus olhos exalam de vez em quando, nada demais, herança do velho continente.
Forma fria que desapareceu naquela manhã, do quarto completamente ensolarado, quando você chorava, chorava, medroso do futuro sem a Ana. Te chamei de Mädchen e quase disse para você ter fé e ver coragem no amor, mas não dá pra traduzir isso com a emoção merecida pro seu idioma. Infelizmente temos o Atlântico, meu ócio e desvios da vida em nosso caminho, mas quer saber? Quer saber de verdade? Pela primeira vez não estou prevendo nenhuma sapecagem da vida ou coisa do tipo. Porque você é limpo e me fez praticar aquele tipo de amor-não-devo-nada-a-ninguém. A maioria das pessoas ama para os outros e esquece de que se tratava o começo. E você nunca me deixará esquecer, com seus imensos olhos azuis marejados. Ondas no mar, t'aí uma boa definição para quando você chora: ondas, mas daquele tipo bem brando, não uma coisa praiana, mas sim algo que recorde o oceano, tamanha a imensidão. Fica a minha saudade feliz - eu nem sabia que existia saudade feliz, até isso você me ensinou - dos dias mais simples da minha vida, obrigada pela felicidade, foi um presente tão magistral quanto o livro do Amós que você me deu. De mim fica o barquinho vermelho, para a sua coleção, barquinho na correnteza, Deus dará, citando Caio. Não dá para me utilizar do cliché de que "você me ensinou a amar', porque isso você não fez, já tinha aprendido e acumulado péssimas experiências do passado, que eu até visitava de vez em quando. Você fez o mais importante: me ensinou a viver sóbria.

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