Sonntag, Oktober 25, 2009

Lost cause

"People where I come from they survive without feelings or blood. I never could was stoned to death, but I'm still living."
( He cried - Morrissey)


A verdade absoluta sobre mim é que eu sempre fui apaixonada demais pela vida. Desde pequena ficava fazendo mil planos para ela, contando os dias - sim, eu os contava, todos - e tentando reunir forças para que tudo que eu via se concretizasse, saísse do completo abstrato e corresse em minhas veias, em meus olhos. E só Deus sabe o quanto vivi e vivo, vivi até a vida se esgotar, espremi a vida inteira, tirei dela o melhor e o pior; mas o que realmente havia de melhor na vida, infelizmente, não foi reservado a mim. Não, eu não vou repetir pela zilhonésima vez que 'eu sonho pesado', porque já cansou e porque até hoje nunca ninguém entendeu o que eu quis dizer com isso.
Já fazem três anos que moro aqui, ou seja, já fazem três anos que olho muda para a baía toda banhada pelo sol, já fazem três anos que tenho o privilégio de ver o Cristo de braços abertos para mim ( o Cristo é de pedra, mas sei que o abraço é verdadeiro), já fazem três anos que não tenho mais onde pôr os meus livros e que todo canto do quarto, da bolsa e da gaveta estão infestados de tabaco. Já fazem três anos também que eu não remôo quatro anos atrás, no meio da rua, na porta do hotel em que ele me pediu em namoro - por somente quatro dias - e eu aceitei toda esperançosa, me beliscando, esfregando os olhos para saber que era realidade. Há quatro anos alguém saiu de longe para me ver, alguém confiou quando o peito bateu forte e foi ver do que se tratava aqui no Rio de Janeiro. E ainda relembro ( e remôo...) a brisa, o sol quente, os abraços apertados e o mar, bem quando entrei no mar e era de noite e a praia estava movimentada e eu estava nua.
Mas os anos vão começar a perder os sentidos, tanto os que já foram quanto os que vêm por aí. Porque nos perdemos no que sentimos e no que não sentimos, aliás, o que sentimos vai se reduzir ao sistema nervoso e, convenhamos, o meu já está completamente destruído pelas substâncias que consumi pela vida. Benjamin afirmava isso, que as palavras que comunicam o pensamento constituem apenas uma queda da linguagem que não é mais mimética. Ou seja, nossas palavras estão longe de Deus, do que é verdadeiro, do que está em nós, do que é irrefutável. Ainda uso um complemento de Adorno sobre o facto de que o sujeito é duplicado, fraudado e muito longe daquilo que ele realmente foi ou garantiu ser. Nunca tive escolhas na vida e sinceramente tenho pena de quem as têm. Porque eu faço/fiz o que tenho/tinha que fazer; nunca precisei escolher o certo ( apesar de sempre saber de longe o que é o certo a se fazer).
Deixo aqui a minha profunda piedade pelos que sonham mas não tem a capacidade de enxergar situações e -principalmente! - enxergarem a si próprios e aos que tentaram me fazer sorrir um dia, especificando: muito obrigada ao Arthur por ter me amado da maneira que podia, ao Victor (meu querido namorado) pela paciência e pelo amor tão grande, ao Igor por me envolver carinhosamente na razão antes que eu caia e claro, ao Fabrício por ainda me fazer sonhar pesado.

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